Brasília – O primeiro escalão do governo de Michel Temer teve a terceira baixa nessa quarta-feira (3) em menos de um mês, dando sinais de que a corrida eleitoral começou antes do esperado. As baixas ocorrem em meio às negociações para a votação da reforma da Previdência, que deve ser votada no início de fevereiro.
No mesmo dia da saída de Pereira, Temer anunciou que aceitou a indicação da deputada Cristiane Brasil (PTB-RJ) para assumir o lugar de Ronaldo Nogueira no Ministério do Trabalho, que deixou governo no último dia 27 para disputar as eleições neste ano e é do mesmo partido de Cristiane. O primeiro a deixar o governo, no início de dezembro, foi o Secretário de Governo, Antônio Imbassahy (PSDB-BA)
Após o encontro com Pereira, Temer recebeu o presidente do PTB, o ex-deputado Roberto Jefferson, no Palácio do Jaburu.
“É um resgate da imagem da família”, disse ao deixar a residência da Presidência emocionado com a indicação da filha, citada em duas delações da Lava-Jato. Condenado a sete anos e 14 dias de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no processo do Mensalão, Jefferson foi beneficiado por um indulto da ex-presidente Dilma Rousseff em março de 2016.
O ex-deputado chegou a se mostrar choroso ao contar que, quando o nome de Cristiane surgiu na conversa com Temer, ele telefonou para a filha. “Aí eu liguei para ela e ela disse: ‘Papai eu aceito”, afirmou. “Não vai concorrer à eleição. Ela ficará ministra até o final”, emendou ele, destacando a principal condição do chefe do Executivo para os novos integrantes da Esplanada e sinalizando que pretende se candidatar novamente a deputado federal por São Paulo.
Nova ministra do Trabalho, Cristiane Brasil não deixa de ter uma carreira política controversa. A advogada é faixa preta de caratê e filha do ex-deputado e pivô do escândalo do mensalão Roberto Jefferson, e tem características parecidas, apesar de não utilizar o sobrenome do pai. O ex-deputado foi escudeiro do ex-presidente Fernando Collor, e Cristiane tem se mostrado fiel ao presidente Michel Temer, tanto que teve o seu nome cogitado para assumir o Ministério da Cultura no lugar do ex-ministro Roberto Freire.
A deputada votou a favor do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, da Reforma Trabalhista, da emenda do teto dos gastos e do arquivamento das duas denúncias da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o peemedebista na Câmara dos Deputados. Cristiane, 44 anos, foi citada em delações da Lava-Jato, uma da Odebrecht e outra da JBS. As declarações que atingiram a deputada foram tornadas públicas em abril do ano passado. Na ocasião, Cristiane registrou que o Supremo Tribunal Federal não havia solicitado investigação contra ela. “Não há nada a meu respeito senão um comentário sem qualquer prova feito por um dos delatores da operação” afirmou. Cristiane foi delatada pelo executivo Leandro Andrade, um dos delatores da Odebrecht na Operação Lava-Jato.
Segundo o delator, a pedido do deputado Pedro Paulo (PMDB-RJ) foram entregues R$ 200 mil à Cristiane Brasil em 2012. O dinheiro foi repassado pelo próprio executivo, afirmou à Lava-Jato. A parlamentar nega enfaticamente ter recebido valores ilícitos. Andrade narrou que os R$ 200 mil foram retirados de um saldo supostamente acertado por outro executivo-delator da Odebrecht, Benedicto Junior, o ‘BJ’, no primeiro semestre de 2012, com Eduardo Paes (PMDB), como contribuição eleitoral para a campanha do peemedebista à reeleição para a prefeitura do Rio.
Cristiane Brasil foi alvo de críticas na Câmara ao tentar limitar o uso de trajes sensuais no Legislativo. A nova ministra também lidera a lista de parlamentares baladeiros de Brasília. Atualmente não há nenhum inquérito em tramitação sobre ela no Supremo Tribunal Federal (STF). Mas em 2015, foram abertas duas investigações sobre a deputada para apurar supostos crimes eleitorais na eleição de 2014, mas os dois casos foram arquivados por falta de provas de seu envolvimento. Nos dois inquéritos, o próprio Ministério Público, responsável por acusações, pediu o arquivamento.
Antecipação
Os movimentos antecipados na Esplanada surpreenderam até os analistas. É caso do diretor-gerente para as Américas da consultoria norte-americana Eurasia Group, Christopher Garman, por exemplo, esperava que esse troca-troca fosse mais tardio. “Os partidos estão se preparando para 2018 de forma mais clara. Nada dramático, mas sintomático. Em março, todos os ministros saem para se preparar para as eleições. Só achei janeiro cedo demais”, afirmou.
Na avaliação do cientista político Rafael Cortez, da Tendências Consultoria, essa articulação para acomodar os aliados políticos no governo continuará sendo a principal característica de Temer. “Essa é a estratégia de um governo presidencialista de coalizão e, como ele já tem popularidade baixa, poderá colocar cada vez mais políticos nos ministérios sem se preocupar com a opinião pública. O importante será ele sinalizar ao mercado que está conseguindo conduzir a agenda de reformas, ampliando a base aliada”, explicou.