Em um momento em que se discute a renovação não só na forma de se fazer política, mas na ânsia da sociedade pelo surgimento de novas lideranças, impressiona a quantidade de pessoas acima de 70 anos filiadas a partidos políticos.
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Idosos podem ter que pagar mais em plano de saúdeÀ véspera da votação do impeachment, governo 'libera' R$ 7,5 bi para idososSegundo especialistas, elas representam uma geração de pessoas que viveram a política mais intensamente. Na Câmara dos Deputados, 22% dos parlamentares têm mais de 60 anos, enquanto a média de idade dos 81 senadores é 60,5 anos.
Chama a atenção a super-representação partidária na faixa etária. Atualmente, são 146,4 milhões de brasileiros aptos a votar. Destes, 12 milhões estão acima dos 70 anos, ou seja 8,2% do eleitorado. A representação da faixa etária entre os filiados é de 13,1%.
“Com certeza, há um desnível acima da média, mas é compreensível, considerando que essa geração viveu muita coisa em termos de política. Era jovem em 1964, quando começou o regime militar.
Um tempo em que a vida partidária era muito mais intensa e atraente”, comenta o professor do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB), David Fleischer.
O professor aposta que grande parte das filiações foi feita há 20 ou 30 anos e está ativa até hoje. Além disso, ressalta que a expectativa de vida vem aumentando e isso faz com que os idosos se interessem mais pela política.
“São outros tempos. Quem não tem interesse na política é essa geração dos 18 aos 30 anos, que não viu nada, não viveu o que os mais velhos viveram. O país está muito ruim, a economia, a falta de empregos e isso desestimula quem está começando a vida”, comenta Fleischer.
Os jovens de 16 e 17 (quando o voto é facultativo) e de 18 a 20 anos representam 6,9% do eleitorado. Entre eles, somente 107.165 estão filiados 0,6% do universo de pessoas associadas a partidos.
O professor da Universidade Federal Fluminense (UFF) Geraldo Tadeu Monteiro também ressalta as diferenças de gerações e afirma que, em média, os idosos são mais bem informados sobre política partidária e têm interesse superior aos dos jovens no tema.
Já a presidente da Associação Brasileira de Gerontologia, Eva Bettine, discorda da visão de que os idosos têm mais interesse na política.
O número de filiações divulgado pelo TSE é baseado na Lei nº 9.096/95, que determina que as siglas enviem à Justiça Eleitoral, em abril de todo ano, as novas fichas assinadas. Não há um sistema de checagem dos dados informados pelas legendas.
Perfil
O país fechou o ano de 2017 com mais de 16,7 milhões de pessoas filiadas a partidos políticos – um aumento de 85.821 em relação a 2016, quando pouco mais de 16,6 milhões estavam ligadas oficialmente a siglas. No ano anterior, de 2015 para 2016, o crescimento foi de 780.886, e média dos últimos cinco anos foi de 316.574 novas filiações. Para especialistas, a queda na procura pelos partidos é sintoma da descrença com a política.
Para o presidente do TSE, ministro Gilmar Mendes, o momento, as revelações das distorções e desvios com o dinheiro público e o pouco trabalho das legendas em relação à comunidade faz com que o interesse diminua.
“Há uma crise mundial em relação aos partidos. No nosso caso, é difícil ver um que esteja atuando para passar uma mensagem interessante, estimular a participação, criar ideias.
A faixa etária entre 45 a 59 anos ainda é a dominante no quesito, com 5,8 milhões de filiados. Com exceção do PSOL e do Novo – que tem mais filiados homens entre 35 a 44 anos –, o restante tem nas idades a maior quantidade de associados. A faixa também representa a maior parte do eleitorado brasileiro, com 35 milhões de eleitores, 23,9% do total.
Na avaliação do presidente do diretório nacional do Novo, Moisés Jardim, o partido não se separa em faixas pois trabalha “como um bloco”. “Temos uma proposta de inovação e a principal forma de comunicação é por meio das redes sociais. Isso acaba atraindo um público mais jovem”, afirma.
Já o PSOL se destaca pelo público mais jovem. A faixa predominante na legenda é entre 25 e 34 anos e a sigla foi a que mais cresceu em 2017 – com a filiação de 24.715 associados.
“A gente se apresenta como um partido que tenta representar uma nova esquerda, que luta pelos direitos das minorias sem ter se corrompido. Uma nova geração de pessoas que se identificam com essa política encontra abrigo na nossa proposta”, diz o presidente nacional da legenda, Juliano Medeiros.