Jornal Estado de Minas

'Temos de esperar a manifestação do Poder Judiciário', diz filho de José Alencar

São Paulo, 24 - Considerado no PT o "vice ideal" em uma eventual chapa encabeçada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o empresário Josué Christiano Gomes da Silva disse que não "persegue" nenhuma candidatura, mas defendeu o que classifica como "um legado econômico e social" das gestões do petista - nas quais seu pai, José Alencar, que morreu em 2011, era vice-presidente.

Em entrevista ao jornal

O Estado de S. Paulo

, o presidente da indústria têxtil Coteminas disse que confia no "sistema de autocontrole" do Judiciário ao falar sobre decisão da 8.ª Turma do TRF-4, que poderá resultar na inelegibilidade de Lula. "Com a lei, pela lei e dentro da lei; porque fora da lei não há salvação", disse, citando uma frase de Rui Barbosa. Josué, que foi candidato ao Senado por Minas em 2014, admitiu estar afastado do MDB.

O sr. pretende se candidatar?

Sou da opinião de que candidatura a gente não persegue. Se a candidatura acontece é porque as pessoas desejam que você seja candidato.

Há 16 anos seu pai firmou com o ex-presidente Lula a chapa vitoriosa que elegeu um ex-operário e um empresário para a Presidência. Hoje, mesmo sendo do MDB, o sr. é cotado no PT como um possível vice.

Recebeu convite?

Tem muita especulação de que eu teria recebido vários convites, de vários pré-candidatos à Presidência, para ser candidato a vice-presidente. Obviamente, só a lembrança do meu nome é algo que recebo com responsabilidade. Se estão lembrando, seja a corrente A, B ou C, já é um sinal de que veem em mim um nome capaz de ocupar um cargo importante como a Vice-Presidência da República. Não houve nenhum convite e a rigor quem entende de política sabe que não seria adequado um convite neste momento. O momento é maio, junho, julho. Porque o ideal de um vice é que ele não atrapalhe. Vice não é para ganhar a eleição é para pelo menos ajudar a não perder.

O sr.
disse na época que estava entrando para a política para defender o legado de Lula e Dilma. Ainda defende?

O governo que papai participou foi aprovado por 83% de ótimo e bom ao final. Se somasse o regular acho que passava de 90% da população. A história registra, os jornais registram os indicadores macroeconômicos e sociais ao final dos oito anos. Nós superamos naquele período uma vulnerabilidade externa que constrangia o nosso crescimento. Meu pai, quando morreu - três meses depois do término do governo -, acho que morreu realizado. Depois vieram notícias que todos nós tomamos conhecimento a posteriori.

Está se referindo à corrupção?

Mas aquele era um momento de um legado econômico e social muito importante.

E o governo Dilma?

Acho que todo governo é uma história diferente, até porque as circunstâncias são diferentes. E o conjunto de fatores internos e externos foram totalmente diferentes.
O que eu tenho que defender, até por obrigação de filho, são as conquistas no campo econômico e social de um governo do qual meu pai participou.

Qual sua expectativa sobre o julgamento do TRF-4?

Todos nós, qualquer pessoa, tem uma tendência de emitir opiniões baseadas em informações às vezes parciais e também com base na emoção. Tento evitar posição baseada em ideias preconcebidas. Eu não li os autos e não posso fazer qualquer juízo de valor sobre o que está ali. Então minha opinião não quer dizer nada. O Judiciário tem um sistema de autocontrole que é o duplo grau de jurisdição: os tribunais de apelação, os tribunais superiores. Isso diminui muito as chances de erro. Temos de esperar a manifestação do Poder Judiciário. Precisamos lembrar Rui Barbosa: "Com a lei, pela lei e dentro da lei; porque fora da lei não há salvação". Num sistema democrático e no Estado de direito todos têm direito à defesa e todos têm o direito às possíveis defesas previstas.

Os petistas preparam uma carta dirigida à classe média. É possível também uma reconciliação com setores empresariais?

Toda vez que partidos políticos tentam reconciliar a sociedade brasileira é positivo.
Se já é difícil com toda a sociedade unida, imagina desunida.

Lula diz que não é radical. Ao mesmo tempo, fala em retomada da política de valorização do salário mínimo, expansão do crédito e isenção de Imposto de Renda. São propostas compatíveis com a responsabilidade fiscal?

Não fiz contas para avaliar os impactos fiscais das propostas. Mas ninguém pode dizer que são propostas radicais. Nenhuma delas me parece radical. Acho que todos têm legitimidade de postular a sua candidatura e aquele que for eleito é porque a população quis assim.

Há espaço para um outsider?

Não acho que a invenção de um candidato é o melhor caminho. Acho que alguém que esteja na política, que tenha experiência político-administrativa, que tenha militância na política, provavelmente alcance resultados melhores para o País.

O sr. está confortável no MDB?

Em nenhum partido político você encontra só amigos, só pessoas com as quais gostaria de conviver, pessoas que são paradigmas, admira e respeita. Também tem pessoas que não fazem as coisas certas. Seus pares, todos são pessoas que você admira, fazem as coisas corretas, absolutamente dentro da lei? Não necessariamente.
O MDB tem muitos serviços prestados ao País, principalmente na redemocratização. É uma agremiação organizada nacionalmente que tem seus méritos e erros como outras.

Mas o sr. pode deixar o MDB?

Sinceramente não pensei nisso. Eu continuo hoje filiado. Mas se me perguntam: "Você é um militante do MDB?" Sinceramente tenho sido faltoso. As informações são do jornal

O Estado de S. Paulo.

(Eduardo Kattah).