Jornal Estado de Minas

À sombra de Lula, PT enfrenta o desafio de se manter de pé até as eleições


Brasília – O PT não pode, ainda, admitir publicamente. Mas, internamente, os principais líderes da legenda — inclusive o próprio ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva — foram avisados de que a batalha para manter o petista como candidato do partido em outubro é inglória e, ao fim, será infrutífera. Ainda assim, os planos traçados são de esticar esse réquiem até o prazo máximo permitido, dando tempo para que seja construída uma alternativa. A dificuldade reside aí. Não apenas Lula é maior do que o PT. Os brasileiros e a esquerda, de forma geral, enfrentam imensas dificuldades para substituir ícones políticos por nomes comuns.

A política nacional ainda é extremamente personalista. O risco calculado que o PT precisa dosar é como fazer a substituição sem perder a força da legenda. Dois exemplos recentes em partidos do mesmo campo ideológico petistas demonstraram que, sem a cabeça, o corpo definha.
O PDT era muito espelhado na força do presidente Leonel Brizola. Ex-governador do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro, defensor da marcha da legalidade para garantir a posse de João Goulart como presidente do país após a renúncia de Jânio Quadros, Brizola fundou o partido após perder a queda de braço com Ivete Vargas pelo comando do PTB.

A morte de Brizola também sepultou o brizolismo e, com isso, o PDT passou a ser uma legenda mediana. Tenta recuperar agora o protagonismo com a candidatura de Ciro Gomes ao Planalto. Esta, inclusive, depende e muito de uma transferência de votos do lulismo para ter alguma chance no pleito eleitoral. Tanto é que o pré-candidato, conhecido pela afiada língua, cessou os discursos agressivos contra Lula.

Mais recentemente, outra legenda tradicional do campo de esquerda passou por esse baque, também por causa da morte do principal líder. O acidente aéreo que tirou a vida de Eduardo Campos em plena campanha presidencial em 2014, interrompeu uma trajetória ascendente do PSB. Agora, a sigla não sabe se insiste em uma candidatura de Joaquim Barbosa ao Planalto ou se alia ao governador tucano de São Paulo, Geraldo Alckmin, que nem sequer representa a ala mais progressista do PSDB.

“A realidade do personalismo político aparece de maneira mais intensa nas esquerdas porque elas tendem a ter uma postura mais populista e, por isso, precisam de um nome forte para se apoiar”, confirma o especialista em marketing digital Marcelo Vitorino.
Para ele, a tarefa do PT não será fácil porque o sistema de transferência de votos não é automático. “Parte das pessoas vota em um candidato porque o escolhe e parte vota por rejeição a outro candidato. Com precisão, podemos dizer que apenas 30% dos votos são transferidos”, afirma.

O professor de ciência política do Ibmec-MG Adriano Gianturco acredita que é uma falácia a teoria de que a política brasileira é mais personalista do que em outros pontos do mundo. Ele lembra vários nomes internacionais   eleitos com base nas próprias forças, independentemente de serem de esquerda ou não. É o caso, segundo ele, do ex-primeiro-ministro da Itália Silvio Berlusconi.

No caso brasileiro, Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek foram ícones políticos sem estar filiados a partidos de esquerda. “Na esquerda talvez fique mais nítido porque muitos desses governantes foram revolucionários ou instalaram ditaduras. Por isso, tem-se a imagem de que eram fortes individualmente”, completa Gianturco. Ele cita, além do Berlusconi, nomes emblemáticos como os ex-primeiros-ministros britânicos Margaret Thatcher e Winston Churchill e o ex-presidente norte-americano Donald Reagan.

Estratégia

 

Para Lula, os cenários estão longe de ser céu de brigadeiro.

Por onde a pré-candidatura passar, serão colocadas travas quase intransponíveis. A ideia, por enquanto, é não sair do páreo e brigar na Justiça para segurar uma eventual prisão. Solto, o ex-presidente poderá fazer campanha pelo país ao lado de nomes cogitados para substituí-lo, entre eles o do ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad. Coordenador do programa de governo do PT para a campanha deste ano, Haddad pode ser alçado ao posto principal caso o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) impeça o registro da candidatura.

Esses são os planos de Lula e da turma dele, mas a instabilidade do líder já faz com que nomes do alto escalão petista não aceitem qualquer mando. Alguns deles, como o ex-senador Eduardo Suplicy, defendem prévias internas em caso de substituição. O mesmo Suplicy disputou prévias contra Lula em 2001. Na época, o todo-poderoso petista estava desgastado após três derrotas ao Planalto. Lula conteve os ânimos internos, escolheu o empresário José Alencar como vice, e autorizou Antonio Palocci a redigir a Carta ao Povo Brasileiro para acalmar os bancos e ordenou a José Dirceu a controlar os radicais. Lula está fraco, Alencar morreu, Palocci e Dirceu estão condenados na Lava-Jato e a situação cada vez mais complicada.
vídeo aos africanos

Impedido de viajar para a África, onde participaria de uma reunião da União Africana sobre erradicação da Fome na África até 2025, o ex-presidente Lula divulgou, pelas redes sociais, vídeo que encaminhou aos participantes do encontro, acusando “parcela do Poder Judiciário”, de ter implantado no país o que chamou de “ditadura” da Lava-Jato. Lula disse estar certo de que “vai vencer esta parada aqui”, que vai ter de volta seu passaporte.
Ele estava com passagem comprada para a Etiópia, onde discursaria, mas recebeu ordem da Justiça Federal de entregar seu passaporte. A defesa do ex-presidente já ingressou com pedido de habeas corpus para receber de volta o documento.


Confira alguns líderes que personificaram o poder no Brasil e no mundo

 

Getúlio Vargas
l Líder civil da Revolução de 1930. Foi presidente do Brasil em dois períodos. No primeiro, por 15 anos ininterruptos, de 1930 a 1945. No segundo, no qual foi eleito pelo voto direto, Getúlio governou o Brasil por três anos e meio: de 31 de janeiro de 1951 a 24 de agosto de 1954, quando se suicidou.

Leonel Brizola
l Considerado um líder da esquerda e um político nacionalista, foi governador do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul, sendo o único político eleito para governar dois estados diferentes na história. Defendeu a posse de João Goulart em 1961. Fundou o PDT porque não recuperou o controle do PTB após a redemocratização.

Juscelino Kubitschek
l Prefeito de Belo Horizonte, governador de Minas e presidente da República, foi o responsável pela construção de Brasília, em 1960. Um dos principais nomes no processo de desenvolvimento do país, sobretudo na indústria automobilística, foi exilado após o golpe de 1964. Morreu em um acidente de carro na Via Dutra.

Winston Churchill
l Famoso principalmente pela atuação como primeiro-ministro do Reino Unido durante a Segunda Guerra Mundial. Ele foi primeiro-ministro britânico por duas vezes (1940-45 e 1951-55).

Orador e estadista notável, também foi oficial no Exército Britânico, historiador, escritor e artista.

Margaret THatcher
l Primeira-ministra do Reino Unido de 1979 a 1990, era conhecida pelo apelido de Dama de Ferro. Suas políticas econômicas foram centradas na desregulamentação do setor financeiro, na flexibilização do mercado de trabalho e na privatização das empresas estatais.

John Kennedy
l Foi o 35º presidente dos Estados Unidos (1961–1963) e é considerado uma das grandes personalidades do século 20. Eleito em 1960, Kennedy tornou-se o segundo mais jovem presidente americano, depois de Theodore Roosevelt. Seu assassinato, em 1963, chocou o mundo.

Mao Tsé-Tung
l Liderou a Revolução Chinesa e foi o arquiteto e fundador da República Popular da China, governando o país de 1949 a 1976. A contribuição teórica para o marxismo-leninismo, estratégias militares e as políticas comunistas são conhecidas coletivamente como maoísmo.

Fidel Castro
l Governou Cuba como primeiro-ministro de 1959 a 1976 e depois como presidente de 1976 a 2008. Politicamente, era nacionalista e marxista-leninista. Também serviu como primeiro-secretário do Partido Comunista de Cuba de 1961 até 2011. Sob sua administração, Cuba tornou-se um Estado socialista autoritário unipartidário.

 

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