São Paulo, 06 - O engenheiro Glaucos da Costamarques, acusado de ter atuado como laranja do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em supostas propinas da Odebrecht, disse ao juiz federal Sérgio Moro que foi "vítima circunstancial" de um plano do advogado Roberto Teixeira, melhor amigo do petista, e do pecuarista José Carlos Bumlai. Réu em ação da Operação Lava Jato, Glaucos se manifestou em uma investigação que mira suspeita de falsidade sobre recibos de aluguel do imóvel vizinho ao de Lula, em São Bernardo do Campo.
Teixeira é réu na ação penal pelo suposto intermédio da compra de imóveis, que, segundo a acusação formal, foi feita em benefício de Lula. Bumlai não foi denunciado pela força-tarefa da Lava Jato neste processo.
"Glaucos foi vítima circunstancial de um plano arquitetado por José Carlos Bumlai (que nem sequer figura como réu na ação penal) e Roberto Teixeira, aparentemente para alicerçar as sólidas amizades que mantinham com o ex-presidente Lula e sua família. Os artífices se utilizaram de sua boa-fé, da sua simplicidade, da confiança que nutria por José Carlos Bumlai e por ele estendida a Roberto Teixeira, e também do seu dinheiro, para promover a compra de um imóvel visando dar conforto ao ex-presidente Lula e sua família no imóvel", afirma o engenheiro.
Na ação na qual Glaucos é réu, Lula foi denunciado por supostamente receber R$ 12,5 milhões em propinas da Odebrecht, por meio de um terreno que abrigaria o Instituto Lula - R$ 12 milhões - e uma cobertura vizinha à residência de Lula em São Bernardo de R$ 504 mil. A defesa do ex-presidente alega que o petista pagou pelo aluguel do apartamento e que não aceitou o imóvel para a sede do Instituto. Já a Lava Jato acusa o ex-presidente de nunca ter pago os aluguéis.
Lula entregou recibos dos alugueis ao juiz Sérgio Moro em setembro de 2017. Dois comprovantes apresentam datas que não existem no calendário. Parte dos documentos ainda apresenta os mesmos erros de ortografia. Sobre estes papéis, foi aberta a investigação de suspeita de falsidade.
A manifestação de Glaucos nesta investigação foi entregue em 26 de janeiro. Lula entregou suas alegações no mesmo dia. A defesa do petista alega que os recibos de pagamento são autênticos.
Acusado de ser laranja na compra e titularidade do apartamento, que teria sido custeado pela Odebrecht, Glaucos reafirmou à Justiça que "jamais recebeu qualquer valor a título de aluguel do imóvel, senão a partir de novembro de 2015, depois da já propalada visita que Roberto Teixeira lhe fez no Hospital Sírio-Libanês após a prisão de José Carlos Bumlai".
Ao juiz Sérgio Moro, durante depoimentos da ação penal, Glaucos afirmou que recebeu Roberto Teixeira quando esteve internado no hospital Sírio-Libanês, entre novembro e dezembro de 2015 e que também foi visitado pelo contador João Muniz Leite, quando assinou diversos recibos de pagamentos referentes a 2015 de uma vez só.
Defesas
Em nota, a advogada Daniella Meggiolaro, que defende José Carlos Bumlai, afirmou: "Glaucos Costamarques é um empresário capacitado e experiente, que tem o direito constitucional de dizer o que entender conveniente para sua defesa. No entanto, José Carlos Bumlai não irá se manifestar sobre declarações feitas em processo penal do qual não é parte."
Roberto Teixeira afirmou, em nota, que "Glaucos da Costamarques já apresentou cinco versões diferentes para a locação do imóvel e o recebimento dos aluguéis, mostrando que sua palavra não merece credibilidade. Sua última versão foi desmentida pelo Hospital Sírio Libanês em 3 oportunidades".
"Sou advogado há 50 anos, fui presidente em duas oportunidades da OAB de São Bernardo do Campo, e minha atuação sempre se pautou pela ética e pela legalidade", afirma Teixeira na nota.
O advogado Cristiano Zanin Martins, que defende Lula, afirmou que "o depoimento de Glaucos da Costamarques, naquilo que efetivamente diz respeito à acusação formalizada pelo Ministério Público na denúncia, confirma que o ex-Presidente Lula não praticou nenhum crime".
"Costamarques reafirmou em sua última manifestação no processo que 'adquiriu o imóvel com recursos próprios' e jamais teve qualquer contato com as pessoas da Petrobras ou das empreiteiras envolvidas no assunto, não as conhecia e isto foi confirmado por todos os envolvidos", afirma Martins em nota.
"O imóvel foi locado por D. Marisa que pagou os aluguéis contratados, conforme comprovam os recibos de locação emitidos em favor dela por Costamarques, com declaração de quitação", conclui o advogado.
(Julia Affonso, Luiz Vassallo e Ricardo Brandt)