A Associação Nacional dos Delegados de Policia Federal (ADPF) criticou neste sábado (10), em nota, as declarações do diretor-geral da Polícia Federal, Fernando Segovia, sobre o possível arquivamento do inquérito dos Portos. Assinada pelo delegado Edvandir Paiva, presidente da ADPF, a nota diz que "independentemente da posição que ocupe na instituição" nenhum dirigente deve se manifestar sobre investigações em andamento "sob pena de violar prerrogativas dos delegados e fragilizar os resultados" dos trabalhos investigativos.
Em entrevista a agência Reuters, Segovia afirmou que a tendência é o arquivamento da investigação contra o presidente Michel Temer. De acordo com o chefe da PF, até o momento, não foram angariadas provas sobre o pagamento de propina por parte da empresa Rodrimar para Temer.
"A ADPF espera que o diretor-geral garanta, nas palavras e nos atos, os instrumentos necessários para que os delegados exerçam suas atribuições de forma técnica e republicana, sem temor por reações do poder político e econômico ", diz a nota.
Os delegados também criticam a possível investigação interna contra o delegado do caso Cleyber Malta Lopes. O delegado enviou questionamentos a Temer que, segundo a defesa emedebista, colocam em dúvida a "honorabilidade e a dignidade pessoal" do presidente. Para a ADPF, é prerrogativa do delegado ouvir testemunhas e investigados.
"É natural que interrogados se melindrem com alguns questionamentos da autoridade policial, porém cogitar qualquer tipo de punição seria forma de intimidação e mitigação da autonomia investigativa prevista no ordenamento jurídico", afirma o texto da ADPF.
"Portanto, uma representação que verse sobre desconforto do presidente da República em relação às perguntas que lhe foram encaminhadas deve ser liminarmente arquivada, por falta de justa causa, uma vez que no inquérito policial não vigem relações hierárquicas de qualquer natureza", completa a ADPF.