Brasília – Após 15 meses de discussões e pelo menos 10 adiamentos, aproxima-se o prazo-limite imposto pelo governo para aprovar a reforma da Previdência na Câmara: fim de fevereiro. O projeto – apresentado inicialmente por um governo com base sólida – tinha apoio certo, mas, agora, em ano eleitoral e depois de enfrentar duas denúncias oferecidas pelo Ministério Público Federal (MPF), só os mais otimistas acreditam que os 308 votos serão alcançados.
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Depois de uma série de recuos e quatro textos apresentados, o ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun, garante que a proposta terá mais que os 308 votos no dia da votação e integrantes da equipe econômica se limitam a dizer um tímido “agora, vai”. Entretanto, o clima no Congresso não é de otimismo. Na semana que passou, Maia admitiu que as negociações estão complicadas e que prefere não estender mais o prazo. “É pior para o governo colocar e perder do que não colocar. Se não votar, é possível manter o tema vivo e retomá-lo depois das eleições, mas, se perder, já era, o governo enfraquece de vez”, acredita um parlamentar da base governista que prefere não se identificar.
Um dos principais problemas é que grande parte da base aliada só aceita negociar se o governo estiver disposto a ceder ainda mais.
O economista e doutor em ciência política José Matias-Pereira acredita que o governo “perdeu o timing” de aprovação. O professor lembra que todas as reformas da Previdência feitas no Brasil foram polêmicas, longas e de difícil negociação porque elas sempre tiveram o objetivo de ajustar as contas e, consequentemente, mexeram diretamente na vida das pessoas. “O ideal é que elas sejam feitas por presidentes em primeiro ano de mandato e que a bandeira venha desde as eleições. Assim, o governante tem o respaldo do voto, coisa que Temer não teve”, comenta. “O que faz o presidente enfrentar esse desgaste é que ele sabe que a sobrevivência no cargo depende das reformas.
Matias-Pereira acredita que, se o governo conseguir aprovar só a idade mínima – considerada por ele a “espinha dorsal” da reforma – já seria um grande avanço. E a mudança poderia até dar a força que Michel Temer está buscando para se apresentar à reeleição – opinião corroborada por aliados do presidente. “O maior problema é que se gastou capital político para superar as denúncias do MPF. É o perfil de um governo desesperado, que sabe que não se sustenta se insistir, mas precisa insistir porque, se conseguir e a economia melhorar, abre espaço”, diz o professor.
Servidores
Um dos pontos mais polêmicos que tem sido usado por dezenas de parlamentares para justificar o voto “não” à reforma são as alterações que equiparam servidores públicos aos trabalhadores privados. De 2016 para 2017, o rombo do Regime Próprio de Previdência Social (RPPS) aumentou de R$ 77,15 bilhões para R$ 86,35 bilhões. O governo até admite fazer concessões e criar regras de transição, mas só por emendas apresentadas em plenário e “se tiver garantia de votos”, como chegou a dizer o ministro Carlos Marun. Para o deputado federal Rogério Rosso (PSD-DF), a equação deveria ser invertida: o governo apresenta a proposta de mudança e, assim, os votos podem ser garantidos.
“A intransigência está afastando cada dia mais a reforma. Eu me preocupo com esse mantra criado em relação a privilégios.
Além de se irritarem com a propaganda do governo de combate aos privilégios dos servidores, entidades que os representam alegam que o relator da reforma, Arthur Maia (PPS-BA), estaria fazendo “birra”. Maia não inclui nenhuma das 10 sugestões apresentadas pelo Fórum Nacional Permanente das Carreiras Típicas de Estado (Fonacate) no novo parecer. O presidente do fórum, Rudinei Marques, reconhece que é preciso um ajuste no sistema, mas defende “uma reforma justa”.
“O governo mentiu muito. Não posso aceitar sentar à mesa com um governo que faz uma propaganda agressiva e mentirosa dizendo que os servidores são culpados pela crise econômica”, reclama. Na visão de interlocutores do Planalto, a propaganda ajudou a população a aceitar o tema e, por isso, as cessões feitas aos servidores precisam ser moderadas para não contrariar o discurso.
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