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Estado de Minas

Diretor da PF vai prestar esclarecimentos hoje ao STF sobre investigação contra Temer

Em meio à indefinição sobre a estrutura do Ministério da Segurança, diretor-geral da PF se encontra com ministro Barroso para explicar a declaração sobre investigação contra Temer


postado em 19/02/2018 06:00 / atualizado em 19/02/2018 07:48

Fernando Segovia alega que não quis dizer em entrevista que as investigações contra Michel Temer no Decreto dos Portos serão arquivadas(foto: Evaristo Sá/AFP)
Fernando Segovia alega que não quis dizer em entrevista que as investigações contra Michel Temer no Decreto dos Portos serão arquivadas (foto: Evaristo Sá/AFP)

O delegado Fernando Segovia assumiu o cargo mais importante da Polícia Federal em 20 de novembro do ano passado. Nomeado com a tarefa de sanar problemas que ocorreram durante os sete anos de gestão de seu antecessor, Leandro Daiello, a recepção de Segovia não foi das mais fáceis.

Ele ingressou na direção-geral da corporação sob os olhos da sociedade e em meio a desconfiança da categoria. Ao final dos três meses de sua gestão, ele atingiu o ápice de uma crise que chegou ao Supremo Tribunal Federal (STF). Hoje, Segovia vai ficar frente a frente com o ministro Luís Roberto Barroso, após fazer declaração polêmica sobre uma investigação que corre contra o presidente Michel Temer.

Assim que tomou posse, Segovia tentou se afastar das acusações de que ele poderia interferir no trabalho da Operação Lava-Jato ou nas demais investigações realizadas pela PF. Na cerimônia de posse, afirmou que iria unir delegados e agentes, que realizaram diversos embates ideológicos na gestão anterior e aumentar as equipes de investigação.

De fato, em janeiro deste ano, a equipe do Grupo de Inquéritos do Supremo Tribunal Federal (Ginq) teve um aumento no número de integrantes. Essa equipe é exatamente a que atua nas ações contra políticos que correm no Supremo. Antes eram 53 servidores, que com o acréscimo de pessoal, chega agora a 85. O número de delegados também saltou de nove para 17. A medida acalmou temporariamente os ânimos dentro da corporação.

Outra ação, realizada por Segovia nos primeiros 90 dias em que está a frente da PF foi o início das negociações para reforço de pessoa e criação de uma tropa fardada para o grupo que atua nas fronteiras do Brasil com demais países da América do Sul. Uma das principais reclamações é a falta de pessoal, equipamento e inventivo para os policiais que atuam nesta região estratégica para a segurança pública do país. Mas todas as conquistas foram por água abaixo após uma entrevista concedida à agência Reuters, em que Segovia indica que o inquérito contra  Michel Temer que tramita no STF deve ser arquivado.

A declaração caiu como uma bomba dentro da corporação. As reações foram imediatas. Um memorando enviado pelos integrantes do Ginq ao delegado Eugênio Ricas, chefe do setor de investigação, retratou a insatisfação dos delegados. O grupo informou que os responsáveis pelas investigações vão denunciar “qualquer tipo de interferência em seu trabalho”. Ricas respondeu afirmando que “as investigações vão continuar, doa a quem doer”.

É a primeira vez que esse tipo de manifestação interna contra o diretor-geral é oficializada. Entre os integrantes da PF, em Brasília, o temor foi de um efeito cascata, de total insatisfação. “A insatisfação não foi uma surpresa, mas a reclamação formal sim. A impressão que fica é que a qualquer hora algum grupo vai se revoltar e isso poderia gerar um efeito dominó, afetando todos os setores. Poderia representar o início de uma insubordinação generalizada”, afirma um integrante do alto escalão que prefere não se identificar.

O professor José-Matias Pereira, doutor em ciência política da Universidade de Brasília (UnB), afirma que é necessário mais tempo para avaliar a gestão de Segovia. No entanto, ele ressalta que é necessário que o representante máximo da Polícia Federal mantenha distância de atos políticos.

“Em um cenário político como o atual, em que temos um presidente com duas acusações arquivadas e uma em andamento, é natural essa desconfiança em relação a uma aproximação entre o diretor-geral da PF e o chefe do Executivo. Mas nesse começo de gestão é difícil avaliar. É inegável que existe um clima de insatisfação dentro da corporação, que é uma instituição que precisa manter sua credibilidade junto a sociedade”, afirma.

Manter a confiança de uma instituição com 20 mil integrantes, entre policiais, delegados e investigadores não é tarefa fácil. Segovia assumiu a gestão da PF em meio a maior operação de combate a corrupção da história.

A Lava-Jato alcançou a cúpula do Poder Executivo e Legislativo, não só no período de gestão atual, mas também nas anteriores. Somente no Paraná, onde a operação mais avançou, foram instaurados 1.765 procedimentos para investigar o cometimento de crimes. 282 pessoas foram denunciadas. No STF correm 124 inquéritos contra pessoas com foro privilegiado.

O presidente da Associação Nacional dos Delegados da Polícia Federal, Edvandir Paiva, destaca que a crise interna está crescendo a cada dia. “Está havendo um avanço na gestão. Os nomes escolhidos para as superintendências são bons.

Mas por outro lado essa proximidade com o presidente da República causa desconforto. Hoje temos um clima de desconfiança muito grave dentro da polícia. Estamos tentando superar, mas com essas declarações, a situação apenas se agrava”, afirma.

O DEPOIMENTO  O encontro de Fernando Segovia com o ministro Barroso será às 17h, de acordo com o gabinete do ministro. O delegado terá que explicar o que fundamenta as declarações que ele realizou na entrevista. O ministro pode solicitar abertura de investigação contra ele.

“Tendo em vista que tal conduta, se confirmada, é manifestamente imprópria e pode, em tese, caracterizar infração administrativa e até mesmo penal, determino a intimação do senhor diretor da Polícia Federal, delegado Fernando Segovia, para que confirme as declarações que foram publicadas, preste os esclarecimentos que lhe pareçam próprios e se abstenha de novas manifestações a respeito”, diz um trecho do despacho de Barroso.

Segovia informou que não está comentando o assunto. Mas em uma nota enviada para colegas da PF, ele afirma que “nunca disse à imprensa que o inquérito será arquivado” e que inclusive destacou que a investigação é conduzida com “independência e isenção”.

CRONOLOGIA DE CONTROVÉRSIAS

19 de novembro de 2017
>> Em entrevista, Fernando Segovia critica a condução do inquérito contra Temer e o fato de “uma única mala ser usada como prova”.

20 de novembro de 2017
>> O diretor-geral da PF toma posse oficialmente. Ao ser questionado sobre a entrevista publicada no dia anterior, Segovia reafirma que “uma só mala não prova nada”, mas destaca que “as investigações contra Temer vão continuar”.

15 de janeiro
>> Em encontro não previsto na agenda, Temer se reúne com Segovia. A reunião ocorreu na semana em que o presidente respondeu a 50 perguntas feitas pela PF. O diretor disse que pediu ao presidente a criação de um grupo fardado da PF para atuar nas fronteiras.

18 de janeiro
>> O delegado Felício Laterça é indicado para a superintendência do Rio de Janeiro. Ele é investigado por suposta ligação com políticos.

2 de fevereiro
>> Felício Laterça desiste de comandar a superintendência do Rio.

9 de fevereiro
>> Entrevista de Segovia à agência Reuters repercute mal após ele falar sobre provável arquivamento do inquérito contra Temer.


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