O presidente Michel Temer aposta na criação do Ministério da Segurança Pública para reverter a impopularidade de seu governo. Pesquisa realizada no Rio de Janeiro, na sexta-feira, com 1.200 entrevistas, constatou que 83% da população fluminense aprova a intervenção feita na área de segurança do estado. Houve apenas 12% de desaprovação (5% não sabem ou não responderam). São índices inversamente proporcionais à popularidade do governo e do próprio presidente da República, que agora está convencido de que a segurança pública passou a ser a prioridade máxima do seu governo.
“Nenhum presidente até agora quis mexer com esse problema, Temer decidiu tratar do assunto pessoalmente. É um especialista na área, pois foi secretário de Segurança de São Paulo por duas vezes, uma delas logo após o massacre de Carandiru e sabe o que está fazendo”, avalia um dos interlocutores do presidente da República.
Nesse domingo (18), Temer voltou a se reunir com os ministros envolvidos na questão: Moreira Franco, da secretaria-geral da Presidência; Torquato Jardim, da Justiça, Henrique Meirelles, da Fazenda; e Sérgio Etchegoyen, do Gabinete de Segurança Institucional. O ministro da Defesa, Raul Jungman, que estava no Recife, também foi chamado a Brasília. Temer ainda não escolheu o ministro da segurança Pública, mas já teria dois nomes com o perfil que considera adequado, um militar e um civil. O secretário nacional de Segurança Pública, general Carlos Alberto dos Santos Cruz, porém, teria sido descartado. O nome do novo ministro pode ser anunciado ainda hoje.
Arestas
Embora o governo conte com ampla aprovação da intervenção junto à opinião pública, enfrenta críticas e resistências políticas, além do ceticismo dos especialistas na área. Uma das preocupações de Temer é a sintonia fina com o comandante militar do Leste, general Walter Souza Braga Netto, cujas primeiras declarações não revelaram muita sintonia com a narrativa do Palácio do Planalto. Temer quer garantir plenas condições operacionais ao interventor, em termos de apoio do governo federal e poder para comandar as polícias civil e militar.
Outra preocupação é com relação à criação do Ministério da Segurança, que enfrenta resistências na Polícia Federal e gera desconfianças no Ministério Público e na Justiça Federal, por causa da Operação Lava-Jato. Temer está preocupado com eventuais questionamentos jurídicos à decisão de intervir no Rio de janeiro.
Há desconforto político no Rio, principalmente de parte do presidente da Câmara, Rodrigo Maia. O pai dele, o ex-prefeito César Maia, pretende disputar o governo. Além disso, o grupo político ligado ao ex-governador Sérgio Cabral e ao ex-presidente da Assembleia Legislativa Jorge Picciani, que estão presos, ainda controlam o MDB fluminense. O protagonismo de Moreira Franco na intervenção gera certo incômodo entre essas forças. Finalmente, o grupo palaciano avalia que o sucesso na questão de segurança pode reverter a impopularidade do governo, que também seria beneficiado pela queda da inflação e da taxa de juros. Nesse cenário, estaria viabilizada a candidatura de Temer à reeleição.