Jornal Estado de Minas

Por mais tempo na TV, pré-candidatos à presidência correm para fechar alianças

Em tempos de campanhas sem financiamento privado e na era das fake news, os partidos políticos e os marqueteiros terão de se virar para expor, com a maior clareza possível, as ideias de cada um dos candidatos durante o horário eleitoral gratuito. Este ano, eles enfrentarão um problema ainda maior: com a pulverização das candidaturas, é pouco provável que alguns dos postulantes ao Palácio do Planalto tenham tempo de sobra para a propaganda política, a exemplo das polarizações ocorridas em anos anteriores, monopolizadas por nomes do PT e do PSDB.

Por isso, o desespero de lado a lado em busca de alianças que possam viabilizar as campanhas. No lado governista, o presidente Michel Temer tenta, há um bom tempo, consolidar uma candidatura única, de centro, para somar todo o tempo de televisão disponível entre as legendas da base aliada. A tarefa, contudo, não está fácil. Para embaralhar ainda mais o processo, interlocutores próximos ao presidente começaram a apresentar, como balão de ensaio, a possibilidade de o próprio Temer disputar a reeleição.

Se dependesse apenas do tempo de televisão do MDB, Temer teria ao seu dispor 1 minuto e 26 segundos. Mas aposta na capacidade de aglutinar outros apoios com base na caneta presidencial. Se unisse o partido ao PSD, PP, PR, PTB, PRB e DEM, por exemplo, teria um upgrade para 5 minutos e 16 segundos. Dificilmente, contudo, conseguirá agregar o PSDB, praticamente fechado com o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin.

Temer esbarra, contudo, em um problema.
Nem mesmo a cúpula do MDB entusiasma-se com a candidatura do presidente. Internamente, o senador Romero Jucá (RR) insiste que o partido terá candidato próprio, mas não esconde a simpatia por Alckmin ou em uma filiação do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, hoje no PSD. O comandante da economia nacional, por sua vez, tampouco empolga o próprio partido. O ministro das Comunicações e chefe do PSD, Gilberto Kassab, negocia uma aliança com Alckmin graças à proximidade com o tucanato paulista.

O PSDB tem a oferecer, isoladamente, 1 minuto e 18 segundos para Alckmin. Mas, se agregar PSB, PP, PR, PTB, PSD, chegaria a 5 minutos e 12 segundos. Evidentemente, é o terreno das hipóteses. A parceria com o PSB, por exemplo, está ameaçada.
Ela poderia ser facilitada se os correligionários de Alckmin em São Paulo mantivessem o acerto e apoiassem o vice-governador do estado, Márcio França, como candidato natural da coligação local. Mas a tendência é que o PSDB feche com uma chapa puro-sangue encabeçada pelo atual prefeito João Doria, atirando França aos leões.


Oposição

Se a base governista tem dificuldades de unificar o nome, os problemas não são menores entre os partidos de oposição. Em anos anteriores, nesta fase da pré-campanha, era mais do que natural a aglutinação de forças em torno do PT. Mas as dúvidas permanentes sobre até que ponto o partido conseguirá esticar a pré-candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva jogam todas as apostas para o ambiente da incerteza. Sozinho, o ex-presidente (ou um eventual nome que o substitua, sendo hoje o mais provável o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad) larga com 1 minuto e 35 segundos no horário eleitoral. Se atrair o PDT, de Ciro Gomes, e o PCdoB, de Manuela D’Ávila, subirá para 2 minutos e 25 segundos de exposição.

Fenômeno nas pesquisas de intenção de voto e nas interações com fãs e eleitores nas redes sociais, o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) tem, até o momento, apenas 10 segundos para apresentar as propostas de governo. Bem menos do que o tempo concedido a um dos mais icônicos candidatos ao Planalto, Doutor Enéas (Prona), que encerrava suas participações de 30 segundos na propaganda eleitoral com o bordão: “Meu nome é Enéas”. Bolsonaro aposta no contato direto com o eleitorado em viagens pelo país, nas quais, normalmente, é recebido por uma multidão de admiradores nos aeroportos e em atos públicos.

Politicamente, contudo, ele ainda enfrenta enormes resistências.
Anunciou a filiação ao PSL, mas ainda não completou o movimento. Mesmo assim, provocou dispersão. Um grupo de economistas liberais, que se autointitulam Livres, deixaram o PSL após a confirmação da entrada do parlamentar fluminense.

Negociação para troca de partido


O tempo destinado à propaganda eleitoral é importante, mas a quantidade de aliados a espalhar o nome dos candidatos na corrida eleitoral de outubro também é essencial. Além disso, a eleição de uma bancada robusta em outubro garantirá aos partidos, a partir de 2019, mais recursos e mais espaço na televisão.

Por isso, a preocupação dos caciques partidários com a janela de troca-troca partidário que se abrirá agora em março. A disputa pelos parlamentares ávidos por mais espaço nos estados contará, ainda, com um adendo este ano: os R$ 800 milhões do fundo partidário que poderão se somar aos R$ 1,7 bilhão do fundo eleitoral.

“Economizei o dinheiro do fundo partidário para financiar as candidaturas em outubro”, confirmou à reportagem o presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson. “Essa é uma questão até legal, mas é ruim para a democracia, porque levanta a questão de compra e venda de filiações”, reconheceu o deputado e tesoureiro nacional do PSDB, Sílvio Torres (SP). Pelos corredores do Congresso, há informações de que existem partidos oferecendo entre R$ 1 milhão e R$ 2 milhões para interessados em trocar de legenda.

Caciques do MDB afastam essas denúncias. Uma rebelião por mais recursos para as campanhas estaduais chegou a ser ensaiada, mas o presidente nacional da legenda, Romero Jucá, conseguiu apagar o incêndio e foi reconduzido ao posto após reunião da Executiva, na quarta-feira. Na Câmara, a avaliação é de que o partido ganhará 10 deputados e perderá outros 10.
As maiores perdas devem ser na bancada fluminense, que estava “inchada” nos tempos em que o partido tinha o governo do Rio, a prefeitura carioca, a presidência da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) e a presidência da Câmara. (PTL)

 

 

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