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Estado de Minas

Intervenção na segurança era necessária e urgente, afirma ministro interino da Defesa

Ministro interino da Defesa diz que decisão de priorizar enfrentamento ao crime em detrimento da reforma da Previdência foi acertada e nega uso político dos militares


postado em 04/03/2018 07:00 / atualizado em 04/03/2018 08:04

"Há muito tempo, nós, da Defesa, temos trabalhado no sentido de passar uma percepção de que a defesa do Brasil é responsabilidade dos brasileiros" (foto: Antônio Cunha/CB/D.A Press)

Brasília – O ministro interino da Defesa, general Joaquim Silva e Luna, de 68 anos,  afirmou, em entrevista ao Estado de Minas, que a intervenção na segurança no Rio de Janeiro era imprescindível. Ele negou o protagonismo dos militares e classificou como “fake news” informações sobre a atuação da Força. “Não há uso político de militar. Há urgência”, diz Joaquim Silva. Para ele, o cargo de interventor no Rio poderia ser ocupado por um juiz, advogado, delegado e até jornalista uma vez que a intervenção é apenas na área de segurança. “Definiu-se um militar num entendimento razoável, pois está havendo uma operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), então a ideia foi a de juntar as duas coisas.” Ele admite, no entanto, que como a carência no Rio é em relação à segurança e há um clamor nesse sentido “ficou a percepção que era uma intervenção militar”.


Para o general, a decisão do governo de priorizar o equacionamento da segurança no Rio e deixar para depois a reforma da Previdência foi correta. “Estamos diante de uma série de prioridades. Previdência é uma delas, segurança pública é outra. Quando a gente tem um conflito de prioridades, tem que interferir pela urgência. O que é mais urgente no momento? Eu acho que ninguém duvida que segurança pública, particularmente no Rio de Janeiro, é a ação mais urgente que o governo devia fazer”, afirma o ministro interino da Defesa, para quem naõ se podia esperar mais para intervir no Rio.

Joaquim Silva considera necessária a definição de regras de enfrentamento no combate ao crime organizado, mas avalia que essa discussão não impedirá que a intervenção apresente resultados. “Todas essas operações militares e até as missões internacionais têm regras de como será travado o enfrentamento”, lembra ele. Para Joaquim Silva,  “onde se pode centralizar as ações de segurança pública, com as polícias Militar, Federal, Civil, Rodoviária Federal, Forças Armadas, Inteligência; todos trabalhando juntos, o resultado vai aparecer.”

Sobre o fato de ocupar o cargo interinamente, o general lembra que está acumulando as funções de secretário-geral e de ministro interino da Defesa. “Sou militar da reserva, estou na Defesa há quatro anos, acompanho tudo que acontece no dia a dia do Ministério da Defesa e das três Forças, conheço e me relaciono bem com as três Forças”, diz Joaquim Silva. “Este ano completo 50 anos de Forças Armadas, sou soldado e tenho um grande orgulho”, acrescenta. Questionado se o ministério deve ser ocupado por um militar ou um civil, o ministro interino é taxativo: “é o ministério para cidadão brasileiro preparado, capacitado, ocupá-lo”.

Sem apegos Ao se definir, Joaquim Silva lembra da sua origem e garante pensar mais no presente. “Meu pai trabalhava em engenho de cana-de-açúcar – nem boia-fria era na época, passava-se fome mesmo. E aí dentro daquelas áreas tinha uma escolinha, onde eu passei o primário. A professora foi única”, afirma o militar. Casado, com três filhos e dois netos, ele lembra que ao fixar residência em Brasília a família levou apenas objetos de uso, numa decisão tomada com a mulher. “Levamos para a casa nova o que usamos, e só. Algo me marcou. Pegamos todas as fotografias e tive que detonar tudo. Chegamos no álbum de casamento e ela chorou muito, decidimos rasgar, e conseguimos desapegar e seguir em frente. Eu olho do presente, 70%. Do futuro, 25%”, diz Joaquim Silva.

“O ex-ministro Aldo (Rebelo) disse que sou o mais civil dos militares porque não fico preso a paradigmas. Fui assim a vida inteira, brinco que sou matuto do interior de Pernambuco, meus pais eram analfabetos, não tiveram a oportunidade de estudar, essa é minha origem”, diz com serenidade o general da reserva.

Sombra militar no governo

Brasília – O protagonismo exercido por militares no governo de Michel Temer tem gerado incômodo nos corredores do Palácio do Planalto. A proximidade do presidente com a caserna ganhou papel de destaque após a intervenção no Rio, em que deu a um general a tarefa de tentar controlar a violência no Estado, e ao nomear outro para comandar interinamente o Ministério da Defesa.

A reação, ainda velada, vem de auxiliares e aliados, que argumentam não ser bom para o presidente ter a sua imagem atrelada a dos militares. Contudo, o que tem mais pesado é o temor de perderem espaço político ao lado de Temer com a ascensão de generais a postos estratégicos. Atualmente, um dos principais consultores do presidente é o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Sérgio Etchegoyen.

Temer, porém, tem afirmado em resposta às desconfianças que é preciso acabar com o “preconceito” em relação às Forças Armadas. Argumenta que eles deveriam “estar mais presentes na administração do país”. Ao menos no caso do Ministério da Defesa, Temer tem sido pressionado a rever a indicação do general Joaquim Silva e Luna, primeiro militar a chefiar a pasta. A intenção do presidente era mantê-lo no cargo, mesmo como interino, até o fim do mandato, mas nos últimos dias já admite substituí-lo por um civil.

O afago de Temer aos militares não se restringe a mais espaço na administração. Em 2017, o valor repassado para a Defesa a título de custeio e investimento voltou a crescer após dois anos de queda. Foram R$ 20,5 bilhões, ante R$ 18,9 bilhões em 2016 e R$ 19,6 bilhões em 2015.

A boa relação é ainda anterior, antes mesmo de o emedebista assumir a Presidência. Remonta a 2011, quando a presidente cassada Dilma Rousseff decidiu delegar ao então vice-presidente a tarefa de coordenar o Plano Estratégico de Fronteiras. Temer, já presidente, faz questão de ouvi-los e os prestigiou em diversos episódios, como quando participou de uma reunião do Alto Comando do Exército pela primeira vez. Na ocasião, ganhou um bastão de comando. Há duas semanas, em novo sinal de prestígio aos militares, foi à reunião do Conselho Militar de Defesa.

Unânimes em rechaçar a intenção de busca de protagonismo, chefes militares consultados pela reportagem admitem que a maior participação no governo coloca as Forças Armadas em evidência. O Secretário Nacional de Segurança Pública, Carlos Alberto dos Santos Cruz, avalia que a busca por militares na administração se dá porque “as características da profissão (militar) estão em alta no mercado, que são honestidade e eficiência”. Para ele, as pressões pela troca de Silva e Luna atendem a “um posicionamento mais filosófico e ideológico do que prático” e afirmou que isso “é puramente discriminatório”.

Intervenção Na tropa, a avaliação é de que ao comandar missões como a intervenção no Rio, o Exército passou a assumir “inúmeros riscos” e um eventual fracasso “pode afetar a credibilidade das Forças Armadas.” “Temos plena consciência dos riscos e que isso pode afetar a imagem e a nossa credibilidade. Mas confiamos na nossa experiência e no apoio, inclusive dos outros poderes, para, embora o espaço de tempo seja curto, colocar o Rio em uma situação aceitável em termos de segurança pública”, disse o general de Exército da reserva, Augusto Heleno, considerado uma referência entre os militares.

Oficiais afirmam que, mesmo que a intenção do presidente seja utilizar o prestígio dos militares para melhorar a sua imagem tendo em vista o processo eleitoral, dependerá dos resultados obtidos. E alertam que, em caso de fracasso, a influência pode ser negativa.

TRÊS PERGUNTAS PARA...

Maria Celina D’Araújo - cientista política

O ministro interino da Defesa, general Joaquim Silva e Luna, afirmou que os militares não  buscam protagonismo, que é mera circunstância.
Concordo com ele. O envolvimento das Forças Armadas com a segurança pública no Rio não pode ser permanente, segundo a Constituição. Eles têm que sair. E tem os outros estados dizendo ‘eu também quero’. Além disso, não creio que haja um projeto político das Forças Armadas de retomar as rédeas do poder.

Então, o que explica o protagonismo militar no atual governo?
O protagonismo se acentuou com a intervenção na segurança. O ministro da Defesa é interino, não é definitivo, mesmo porque Marinha e Aeronáutica não aceitam um ministro do Exército. Um civil voltará. O (ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Sérgio) Etchegoyen não é novidade. O que tem de novo é que a rubrica mudou, não é mais GLO (Garantia da Lei e da Ordem), é intervenção. E com isso muda também a responsabilidade das Forças Armadas.

O que explica os militares ainda sejam vistos como solução no Brasil mesmo após a ditadura?
Para a maioria da população, os militares não estão associados com a ditadura. Não se considera sequer que tenha sido um momento tão importante da história. Nós gostamos de esquecer, de passar a mão na cabeça. E também a escala da violência não atingiu todas as famílias. Existe ainda a ideia de que os militares são moralmente superiores, não corrompem e não são corrompidos. A gente vê grupos pedindo a volta deles, mas são ciclos: às vezes acham que tem que ter mais abertura e liberdade, e, nos momentos de explosão da violência, que é preciso usar mais força.


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