Jornal Estado de Minas

Vereador acusa Kalil de uso político do Atlético; secretário vai contestar na Justiça

O secretário Municipal de Desenvolvimento Daniel Nepomuceno, ex-presidente do Atlético Mineiro, vai apresentar queixa-crime contra o vereador Gabriel Azevedo (PHS), por causa da divulgação pelo parlamentar de uma conversa entre os dois. O áudio, gravado sem o conhecimento de Nepomuceno, levanta o uso político do clube pelo prefeito Alexandre Kalil, também do PHS e ex-presidente do Galo, e o pagamento de vereadores para fazer parte de sua base eleitoral, por meio da Empresa Municipal de Turismo (Belotur).

Segundo Nepomuceno, a gravação foi feita na manhã desta sexta-feira, sem seu conhecimento. No trecho de quase dois minutos, o vereador questiona o secretário sobre a admissão do filho de outro parlamentar, Jair di Gregório (PP), na categoria de base do Atlético, em troca de apoio político para a prefeitura no Legislativo.

Di Gregório, que também vai procurar a Justiça, justificou se tratar de “revanche”, depois de falar em plenário sobre a reportagem do jornal Folha de S. Paulo que acusa Azevedo de prestar consultoria de campanha a candidatos recrutados por movimentos sociais.

Além de conselheiro do Galo, Gabriel Azevedo foi coordenador de campanha de Kalil nas eleições de 2016, mas, depois de se eleger na Câmara, declarou-se independente. Na gravação com Nepomuceno, Azevedo afirma que a prefeitura teria comprado apoio político na Câmara.

“O Jair di Gregório teve na minha sala, falou que a Belotur está pagando para a base, está dando dinheiro para a base. E me disse claramente que o prefeito, para manter ele na base usou o Galo, colocou o filho dele, durante a sua gestão, para jogar na base (do Galo)”, disse. Na sequência, Nepomuceno responde: “Entendi. Direito seu, velho.
Isso é verdade. Não posso falar nada, porque é verdade. Se o filho dele está lá, porque joga bola ou não joga bola... Ele está na base”, disse Nepomuceno, sem concluir a frase.

Segundo Azevedo, ele tem sido atacado pelos parlamentares por causa da tramitação de projetos e por pressionar pela abertura da CPI da BHTrans, para auditar a empresa. “Eu entendo que eu incomodo querendo que o processo legislativo ocorra como tem que acontecer. Mas manter a base totalmente feita coma velha política, usando o Galo, usando dinheiro público, usando Belotur, é foda, né”, retruca o vereador.

De acordo com Nepomuceno, na conversa com Azevedo, de quase 10 minutos, explicou ao parlamentar que o filho de Jair, Jair Júnior, veio do Vila Nova, está em teste na base e não tem contrato. “Se fosse profissional, seria mais difícil de explicar.
Se outros filhos de vereadores fizerem teste e forem bons, vão ficar. Recebo mais de 1 mil pedidos. O filho do Eros Biondini (deputado federal) mesmo fez e não passou”, afirmou.

Segundo o secretário, na época do pedido, reforçou com Jair para não misturar política e futebol. “Disse a ele para não confundir o Daniel como secretário e o Daniel como conselheiro do Galo”, ressaltou. O secretário ainda acusou Azevedo de usar o clube para discutir política. “Que, está usando o Atlético para discutir uma questão política, interna deles, é o Gabriel”, disse.“Não posso de forma nenhuma aceitar que alguém grave um secretário, sem autorização, e ainda coloque uma parte de uma conversa de 10 minutos”, completou.

Azevedo afirma que aguarda os procedimentos judiciais com tranquilidade. “Desde a semana passada, tenho recebido uma escalada de acusações, porque tenho tentando abrir a CPI da BHTrans”, disse.
Segundo ele, o uso político do Galo se estende também às cortesias de ingressos para os jogos do clube distribuídas a vereadores. “Na posição de jornalista e vereador, assim que confirmei que Nepomuceno sabia, resolvi deixar claro e divulgar”, afirmou o vereador.

Em nota, o vereador Jair di Gregório informou que faz parte da base do prefeito desde 2017 e acusa o vereador de editar o áudio. Ao contrário do que diz Nepomuceno, ele afirma que o filho foi contratado pelo Galo. “No áudio editado e publicado pelo vereador Gabriel Azevedo em conversa com o Daniel Nepomuceno, o ex-presidente do Atlético confirma que meu filho realmente foi contratado. E mesmo com a insistência do vereador Gabriel em querer que o ex-presidente declarasse que houve uma ação ilegal ou imoral no ato, não conseguiu”, escreveu.

Ele acusou o colega de “revanchismo” por não ter o assinado o requerimento de CPI. “E principalmente hoje, por publicizar na tribuna, que o jornal Folha de SP denunciou o instituto do vereador Gabriel Azevedo de oferecer serviço de consultoria política de forma ilegal e imoral”, disse. O parlamentar se refere a reportagem da Folha de S. Paulo sobre consultoria de Azevedo a candidatos que estão sendo recrutados por movimentos como o RenovaBR. O pacote, de R$ 261 mil, oferece estratégia política, assessoria jurídica, de comuicação, capacitação de equipes e serviços audiovisuais, entre outros, segundo a reportagem.

 

Em nota, o Atlético Mineiro se limitou a informar que: “O garoto está fazendo testes na Cidade do Galo, como dezenas de outros atletas. Funciona assim com todos: se for bom, fica; se for ruim, vai embora”.

A prefeitura não se posicionou sobre acusações relativas à Belotur.

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