Brasília – Os poucos mais de 1% de intenção de votos que apresenta nas pesquisas recentes de popularidade são insuficientes para abalar a autoestima do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Lançado como pré-candidato do partido ao Planalto, Maia assegura que vai disputar a eleição de outubro, não havendo hipótese de, lá na frente, abrir mão do posto para negociar apoio a outra candidatura.
“Quem fez isso foi o Psol, e eles vão perdendo a razão. Coitado do Miro, ele não esperava nunca que fosse passar por aquilo.” Maia garante ser capaz de fazer com que o discurso do DEM chegue à população, cansada, segundo ele, da polarização PT-PSDB. Ele ainda afirma que o governo perdeu o discurso da inflação ao não se preocupar com o aumento nos preços da gasolina e do botijão de gás. “As pessoas não vivem nas estatísticas.” Parlamentar fluminense, diz não ser contra a intervenção, mas reforça que ela foi feita sem planejamento e sem previsão orçamentária. Confira a seguir os principais trechos da entrevista.
O assassinato de Marielle Franco coloca a intervenção em xeque?
Não acredito. Há um simbolismo muito forte. Era uma mulher negra, da comunidade, vereadora… Mas acho que, de forma nenhuma, isso vai tirar a importância de reorganizar a polícia do Rio. Tem de investigar as motivações, de onde vieram. O que tenho criticado, desde o primeiro dia, é: já que o próprio governador afirmou não ter condições de cuidar do estado, precisamos de um planejamento mais claro, mais transparente. Para que a gente possa, com a comissão externa e com o observatório que a gente criou na Câmara, fazer um acompanhamento mais permanente e que possa ter mais resultado. Estou sentindo falta do planejamento, não sei se de fato não tive oportunidade de lê-lo, ou se não me foi apresentado. Estou sentindo falta também de uma coisa que é fundamental no caso do Rio e certamente em outros estados, que é o orçamento.
Isso não existe?
O Rio faliu, entrou em recuperação fiscal, o orçamento da segurança pública, fora pessoal, naquilo que ainda tem contrato de custeio, é a preço de 2009. Fora que não tem contrato, como para a manutenção de veículos. Então, certamente, fora todos os desafios que o interventor vai ter de reorganizar a gestão, você ainda tem o problema de colocar a polícia de pé. De dar estrutura mínima para as polícias Civil e Militar, à inteligência, ter equipamentos mais modernos, viatura. Tudo isso, na melhor das hipóteses, existe de forma sucateada, quando existe. Estou sentindo falta de planejamento onde tenha uma previsão clara. Não estou vendo o governo federal conseguir organizar um orçamento para isso, por enquanto não vi nenhum projeto de decreto, abertura de crédito chegando à Câmara. E agora não apenas no Rio, porque o Ministério da Segurança precisa de orçamento. A ideia do ministro (Raul) Jungmann, de um fundo para o setor privado financiar, resolve um bairro, não resolve o Brasil. Até porque, as empresas do Brasil já pagam impostos para ter segurança, não cabe tributá-las novamente.
Caso eleito, o senhor vai confrontar as corporações dos servidores?
Não precisa de confronto, precisa de diálogo. Precisa mostrar para os servidores que ganham R$ 30 mil que eles vão precisar fazer uma escolha. Se eles querem ganhar R$ 30 mil em valores de hoje, a valores de US$ 10 mil, ou se eles querem ganhar R$ 30 mil a valores de US$ 2 mil, US$ 3 mil, a valores de inflação, com a perda do controle do valor da nossa moeda. É uma escolha que vai ter que ser feita e acho que, digo isso desde que virei presidente da Câmara, há um grande erro na comunicação entre os sistemas. Quando o servidor público, e não quero tratar de um poder e, sim, como um todo, quando ele não compreende que há uma reação muito grande da sociedade ao fim do auxílio-moradia. Então, acho que esse caminho do diálogo é muito importante, precisamos construir um diálogo com os fatores que comandam o orçamento público, seja no setor público ou privado, dizendo que não há mais condições de o Estado brasileiro continuar sobrevivendo gastando mais do que arrecada.
A segurança vai ser o tema prioritário dentro da campanha presidencial?
O que acredito é que tem vezes em que certos temas ficam muito importantes, tão importantes que muitas vezes a sociedade fica cética de que alguém terá condições efetivas de resolvê-los, com propostas mirabolantes. Acho que eles esperam dos candidatos muito pé no chão, simplicidade e objetividade, mas continuo achando que o tema da segurança é prioridade e tem que ser prioridade, será sim na Câmara dos Deputados nos próximos meses. Mas acho, com muito pé no chão e analisando com muito cuidado, tem uma prioridade que atinge a vida das pessoas que é a questão do emprego. Com essa crise toda que o Brasil ainda vive, muitos voltaram a conseguir emprego mas um emprego de pior qualidade, as pessoas estão vivendo um momento em que querem saber quando vão voltar a ter a renda delas, a ser mais tranquilas, onde elas saibam que o salário delas é compatível com os gastos. A segurança vai continuar sendo o item de maior preocupação, mas a sociedade vai olhar a questão da melhoria da qualidade de vida como prioridade para si.
O governo desviou, com a intervenção, o foco da Previdência?
Olha, acho que sair do tema da Previdência seria necessário, porque nitidamente não teria votos para essa votação. E ficou, de forma infantil, um debate de “Ah, o Rodrigo vai dizer que a culpa é nossa”. Eu até dei uma entrevista na televisão dizendo o seguinte: “Olha, aqui não tem culpado, todos nós sabemos que há uma distorção absurda no sistema previdenciário, em que os brasileiros mais pobres financiam os brasileiros mais ricos, porque o mais pobre fica mais tempo no sistema”. O que deveria ter sido dito era isso, só que não tinha condição, não tinha voto. Entrou em ano eleitoral. Ano passado tiveram duas denúncias, o governo perdeu base, acho que a base hoje está muito mais enfraquecida do que o governo imagina.
Seu partido ainda tem base no governo?
Meu partido tem o Ministério da Educação, o ministro Mendonça faz um excelente trabalho. Teve a coragem de enfrentar um problema importante que é o ensino médio, já que nós temos aí 1,8 milhão de jovens que não estudam nem trabalham e precisam voltar a ter uma oportunidade de ter esperança, de que vale a pena investir da educação para que se tenha um emprego de qualidade no futuro. Vamos defender. Não tenho problema nenhum em defender o que acredito, mas quero ter independência de criticar as coisas que foram feitas ou deixaram de ser feitas por esse governo também.
O senhor pode explicar o que deixou de ser feito no governo?
Acho que o governo cometeu alguns erros básicos, como, por exemplo, quando liberou o preço do gás e da gasolina. Esqueceu que a gasolina hoje tem um impacto na vida das pessoas que ganham menos muito maior do que tinha no passado. Esqueceram que o gás de cozinha faz parte da cesta básica da sociedade que tinha menos, e isso tem um impacto grande. Perdeu completamente o discurso da inflação de alimentos, porque na hora em que o governo vai dizer que o preço da comida caiu, o trabalhador vai dizer que o gás e a gasolina subiram. O governo perdeu a condição de entender que a liberação do preço do que era importante para a Petrobras também geraria um impacto na vida das pessoas mais pobres, e não se pensou em nada para cuidar disso. Então, acho que esse pra mim é o erro capital do governo, não entender que a política econômica é fundamental. A equipe do ministro Meirelles é muito boa e muito bem montada, mas o árbitro desse jogo é o presidente da República.
O árbitro não está marcando pênalti?
Acho que o árbitro, nesse caso, errou. Teve acertos também, mas cometeu erros. Estou falando de um caso clássico, de um erro, não precisava ter sido assim, no ano passado poderia preparar com esses recursos um programa para compensar o aumento do preço do gás de cozinha. Não teve. Ou mais alguns bilhões para ativar a economia, para acelerar a recuperação econômica e a geração de empregos com carteira. Desde que o presidente assumiu foi bom, caiu de 14 milhões para 12 milhões, mas foi o emprego sem carteira assinada, o emprego precário, o que prevaleceu. E isso não é bom. Tem que se entender por que não se conseguiu melhorar a qualidade da geração de emprego.
Um candidato próprio do governo facilita as críticas para os candidatos de partidos da base, como o senhor?
Esse não é um problema. A questão é a seguinte: o governo quer um candidato para defender o passado, eu quero construir uma candidatura para construir um projeto no futuro. A sociedade conhece o passado, sabe onde tem os erros e acertos do Michel, os da Dilma, do presidente Lula – que, para a sociedade, são maiores que os erros. Agora, com tudo que a gente aprendeu, como a gente constrói um futuro onde de fato um governo vai ser um governo mais simples, menos burocrático, pé no chão, mais objetivo, e que vai dar soluções na vida das famílias, acho que é isso que a sociedade espera.
E que marca o senhor pretende dar a essa sua campanha?
Minha marca é visitar o Brasil, conhecer de perto os problemas. Aprendendo com a sociedade brasileira, não achando que chego tendo tudo pra falar, tenho muito mais a aprender que pra falar. Construir um programa, até conversando, que seja nesta linha. Acho que essa é a linha que a sociedade quer. Que a gente coloque primeiro o Estado para funcionar, se a gente olhar o censo de educação do ano passado, a gente vai ver que a maioria das escolas não tem internet. Será que a prioridade do governo federal é continuar fazendo investimento em universidade pública ou ter coragem de dizer não, esse recurso tem que ir pra base para garantir que toda criança tenha acesso à internet? Acho que é isso que a sociedade está esperando, botar as coisas pra funcionar.
O senhor está parecendo um candidato de oposição ao governo…
Vocês me viram hoje num evento em homenagem à vereadora, eu sabia como era o evento, mas com muita paciência respeitei as críticas, que foram majoritárias ao presidente da República, mas algumas foram ao presidente da Câmara. Respeitei todos. Esse radicalismo que alguns querem manter no Brasil, essa polarização antiga e atrasada, foi o que gerou muitos problemas para o Brasil. Essa polarização foi comandada pelos governos do PT e do PSDB. Mas o presidente Henrique teve avanço, claro, o Lula também. Mas, por exemplo. É justo o trabalhador se aposentar com 65 anos com um salário mínimo e o que ganha R$ 30 mil se aposentar com R$ 50 mil? Não, e há consenso. Mas você acha que a oposição vai votar com o governo nesse aspecto? Não vai. Nenhuma oposição. Essa polarização pra mim significa novo centro, o novo centro não significa um espaço onde você abre mão das suas ideias e não pensa nada, muito pelo contrário, mantém seus princípios e ideais, mas tem a capacidade de ouvir o outro lado.
Além do senhor, também podem se candidatar Henrique Meirelles, Temer, Alckmin… Qual o risco de querer demais e acabar ficando de novo naquela dicotomia de esquerda versus direita?
Mas nas minhas pesquisas o Bolsonaro não vai nem para o segundo turno. Pelo que estou acompanhando, a minha projeção, ele terá dificuldade de estar no segundo turno.
Qual a projeção para o segundo turno?
De acordo com as minhas pesquisas de opinião, o Ciro estará no segundo turno. Acho que é o candidato mais forte para estar no segundo turno hoje, é claro que está todo mundo na pré-campanha. Acho que o governador Geraldo Alckmin hoje, tem uma boa base em São Paulo por ser um bom governador. Mas as pesquisas infelizmente deixam muito claro, ele não vai vencer o segundo turno com o Ciro Gomes. Tanto que o Ciro Gomes quer o segundo turno com ele, porque ele sabe que vai vencer, porque a rejeição ao PSDB inviabiliza a vitória. Por isso o DEM resolveu colocar o meu nome.
A chance de o senhor sair em outro cargo nas eleições é zero?
Zero, nenhuma. Sou pré-candidato e serei candidato a presidente do Brasil. Pode gravar. E fico muito feliz porque não podia imaginar que ninguém, olhando a pesquisa com meu nome com 1% no máximo, vai dizer para mim que “vou com vocês de qualquer jeito”. Ouço muito “caminha, porque estaremos com você com certeza se você estiver viabilizado”. Muitos partidos já deixaram claro, muitos parlamentares, prefeitos, amigos, pessoas, deixam claro: você viabilizado, estamos com você.