“O Brasil não será uma nova Cuba”. A faixa, empunhada por manifestantes em 1964, pouco antes de o regime militar ser instaurado no país, voltou às ruas, timidamente, nas manifestações de 2013 e, na sequência, nos protestos pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Bem mais do que dizeres tirados do baú da história, a faixa aponta para um movimento que não tem nada de tímido e vem ganhando cada vez mais força. Já são pelo menos 30 organizações que se propõem a difundir o pensamento liberal e o estado mínimo no Brasil. Conhecida como a “nova direita”, eles se estruturam para mostrar a que vieram, agora, nas eleições de outubro.
Leia Mais
Nova direita quer expandir rumo ao Congresso'O mercado quer um candidato de direita, não de centro', diz dono da Riachuelo'É muito provável que candidato de centro-direita seja eleito', diz ministroExistem pelo menos 30 institutos criados com a missão de difundir o pensamento liberal no país, os chamados think tanks.
“Eles agem com força nas redes sociais. É preciso ter em mente que, apesar do termo ‘nova direita’, o que eles fazem não é amadorismo. Eles movem uma grande quantidade de capital e de pessoas para conseguirem realizar e difundir suas pautas”, afirma o historiador Raphael Dal Pai, autor da pesquisa Instituto Mises Brasil: os arautos do anarcocapitalismo. “As crises financeiras mais recentes trouxeram incerteza. Isso facilita a aderência às ideias mais conservadoras.
Instituto forma liberais
Uma das primeiras organizações liberais brasileiras, criada em 2007, o Instituto Mises Brasil atua como centro do pensamento liberal no país, com cursos de pós-graduação, revistas científicas e editora. Entre os alunos que passaram por lá está o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSC-SP), filho do pré-candidato à Presidência. Fundado e presidido pelo empresário paulistano Hélio Beltrão, filho do ministro homônimo do governo militar, o IMB foi inspirado no modelo norte-americano, embora não tenha filiação ao Mises dos EUA.
Beltrão é acionista do Grupo Ultra, uma das 10 maiores empresas do Brasil. “Quando trabalhei no Banco Garantia e ele quase faliu em 1997, sofremos muito financeiramente. Pensei que precisava estudar o que não entendi direito. Foi aí que conheci a escola austríaca de economia, em 1998. Apliquei essas lógicas nos meus investimentos e a coisa deu muito certo. Senti que, com a gratidão que tive por essa experiência, precisava devolver isso para a sociedade”, comenta.
Segundo ele, atualmente, a corrente liberalista abrange, além de 30 institutos, mais de 120 grupos de estudo.
BH tem polo de liberalistas
Na capital mineira está sediado o Students For Liberty (SFL), um dos maiores centros de promoção do pensamento da nova direita em todo o país, e que faz parte de uma rede internacional de institutos ligados à causa liberal. Nomes como Kim Kataguiri, do MBL, e Fábio Ostermann, filiado ao Partido Novo e membro do Movimento Livres, passaram pela organização trazida para o Brasil em 2012. Com presença em 384 universidades, o foco do SFL, que se apresenta como um centro de capacitação liberal, tem foco no público universitário.
A entidade já formou 5,2 mil “líderes da liberdade”. “O SFL tem o objetivo de educar, desenvolver e empoderar a próxima geração de líderes da liberdade. Formamos lideranças que vão trabalhar em diversas áreas como liberais.
A prestação de contas da entidade informa que, entre 2014 e 2016, “doadores confidenciais” repassaram R$ 185.213,42 para o instituto. O think tank norte-americano The Atlas Economic doou ao SFL R$ 221.178,64 nesse mesmo período. Outros R$ 36.430 foram transferidos pelo braço americano do instituto.
*Estagiário sob supervisão do editor Renato Scapolatempore
.