Sete dias depois de assassinada com quatro tiros no Rio de Janeiro, a figura da vereadora Marielle Franco (Psol) ultrapassou as fronteiras do Rio de Janeiro e ganhou todo o mundo.
Pode-se dizer com certeza que a morte brutal da parlamentar a transformou em um símbolo global da defesa das minorias: negros, pobres, favelados, população LGBT... E a principal linha de investigação da polícia é que se tratou de uma execução, já que poucos dias antes ela havia denunciado abusos cometidos pela polícia do Rio.
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Corregedor abre investigação sobre desembargadora que atacou Marielle nas redesAto por Marielle e Anderson reúne milhares no centro do RioCompanheira de Marielle e assessora prestam depoimento no RioPolícia ouve vereadores no inquérito que investiga morte de MarielleJustiça manda Youtube retirar 16 vídeos que difamam memória de MarielleFeliciano diz que esquerdista demora pra morrer porque bala não acha o cérebroNessa terça (20-03), um dos principais jornais norte-americanos, o The Washington Post, estampou na primeira página da edição impressa e do site imagens de Marielle e de protestos. “Uma política negra foi morta a tiros no Rio. Agora é um símbolo global”, diz o título.
A Organização dos Estados Americanos (OEA) antecipou a vinda da relatora do Brasil na Comissão Interamericana de Direitos Humanos, a chilena Antonia Urrejola. A viagem oficial marcada então para novembro deverá acontecer em maio.
A comissão também já encaminhou uma carta ao Palácio do Planalto com pedido de informações sobre a intervenção federal na área de segurança do Rio. Marielle havia assumido, no último dia 28, a relatoria de uma comissão criada na Câmara para acompanhar a intervenção.
Na semana passada, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), órgão autônomo ligado à OEA, divulgou nota de repúdio ao assassinato de Marielle e do motorista Anderson Pedro Gomes. De acordo com o texto, atos de violência contra quem defende os direitos humanos, além de afetar as garantias de todo ser humano, atingem o papel fundamental que eles têm na sociedade.
A comissão defendeu ainda que as linhas de investigação considerem a hipótese de o assassinato ter sido motivado pela atividade de Marielle como “mulher, afrodescendente, vereadora e defensora de direitos humanos”. Para a comissão, o governo brasileiro deve investigar o “lamentável crime de maneira séria, rápida, exaustiva, independente e imparcial, e punir os responsáveis intelectuais e materiais”.
A Anistia Internacional, organização não governamental, cobrou do governo uma investigação “imediata e rigorosa”. “Marielle Franco é reconhecida por sua histórica luta por direitos humanos, especialmente em defesa dos direitos das mulheres negras e moradores de favelas e periferias e na denúncia da violência policial”, afirma nota divulgada pela entidade. “Não podem restar dúvidas a respeito do contexto, motivação e autoria do assassinato de Marielle Franco.”
Show
O mundo das celebridades também prestou homenagens à vereadora fluminense. No último domingo, uma foto de Marielle foi projetada em um telão durante o show da cantora californiana Katy Perry, na Praça da Apoteose, no Centro do Rio.
Engajada em ações de igualdade de gênero e pelos direitos civis dos negros nos Estados Unidos, a atriz ressaltou a coragem da vereadora em sua conta no Twuitter. “Acabei de ouvir sobre essa corajosa mulher #MarielleFranco, que lutou pelos direitos dos pobres nas favelas. Estou de pé e lutando com vocês, Brasil. Viva Marielle e Anderson!!!”, escreveu Viola, premiada com o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante em 2017, pela atuação no filme Um limite entre nós, e eleita pela revista Time como uma das 100 personalidades mais influentes do planeta.
Inquérito tem poucos avanços
Pouco se sabe até agora sobre o assassinato de Marielle Franco e de Anderson Gomes. Conduzidas pela Polícia Civil e o Ministério Público Estadual do Rio, as investigações apontam que foi usada munição nove milímetros original – a preferida por criminosos no Brasil. O artefato faz parte de um lote vendido pela Polícia Federal em Brasília em 2006, o mesmo usado na maior chacina registrada em São Paulo, quando 17 pessoas morreram em Barueri e Osasco, em agosto de 2015.
Na semana passada, o ministro Raul Jungmann (Segurança Pública) havia anunciado que a munição foi roubada da sede dos Correios na Paraíba.
Sigilo
Por questão de estratégia, as informações apuradas são mantidas em sigilo, mas a polícia diz que é possível rastrear o trajeto dos veículos antes e depois do crime. A hipótese mais provável para a polícia é que se trata de um crime de execução, já que não houve uma tentativa de assalto. A Delegacia de Homicídios também admite a hipótese de participação da milícia no assassinato – poucos dias antes de morrer, Marielle havia denunciado abusos da polícia do Rio, e em 2008, participou ativamente da CPI das Milícias, formada na Assembleia Legislativa.
A polícia ouviu ontem novos depoimentos sobre o caso, em busca de possíveis motivações. Ainda serão ouvidas pessoas mais ligadas a Marielle, como parlamentares do Psol, e a assessora que estava com ela no carro e sobreviveu ao ataque. Até a manhã de ontem, o Disque-Denúncia havia recebido 39 ligações com informações sobre o crime.
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