Brasília - A sobrevida dada a Luiz Inácio Lula da Silva pelos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) poderá ser de seis meses e não apenas de duas semanas, na visão de petistas e aliados que acompanham o processo do ex-presidente. Embora a concessão da liminar para evitar a prisão valha apenas até a retomada do julgamento, em 4 de abril, interlocutores do petista acham que ele conseguirá arrastar a situação até o registro da candidatura, em 15 de agosto, no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
O governo não fugiu do debate sobre a saga de Lula para evitar a prisão. O ministro-chefe da Secretaria de Governo, Carlos Marun, evitou entrar no mérito se um condenado em segunda instância pode ou não ser preso, mas sustentou que o petista é inelegível. Sendo assim, ele avalia que a inelegibilidade fará com que o PT inicie a corrida eleitoral com uma força menor. “Pelo menos inicialmente, a força da candidatura do Partido dos Trabalhadores será menor do que seria no caso de o representante do partido ser o ex-presidente Lula”, disse.
Sem Lula nas eleições, ele avalia que alguns votos que poderiam ir para o petista serão distribuídos entre candidatos da esquerda e da direita. “É possível que alguns desses votos que, hoje, sinalizam e se dirigem ao ex-presidente, sejam distribuídos para outros candidatos. Alguns, até de forma surpreendente, migrando até para a direita”, ponderou ele.
O PSDB também se apressou em deixar claro que o resultado de ontem não é um atestado de inocência do ex-presidente. “O STF apenas adiou o prazo para que ele comece a cumprir a sua pena. O que é de se lamentar é que alguém que já ocupou a Presidência da República por duas vezes cause, por sua própria culpa, constrangimentos para o país e para as instituições”, criticou o líder do PSDB na Câmara, Nilson Leitão (MT). “Ter um ex-presidente condenado à prisão envergonha o Brasil. Os melhores ex-chefes de Estado são aqueles que não aparecem no noticiário todos os dias, principalmente no policial”, atacou o tucano.
Lula está em caravana no Sul do país. Ontem, esteve em São Borja (RS) à tarde, e, à noite, em Palmeira das Missões, onde não comentou a liminar concedida pelo STF que impede sua prisão pelo menos até o dia 4. Já a defesa dele comemorou. O ex-ministro Sepúlveda Pertence, advogado de Lula, avaliou como inegável a concessão da liminar pelo tribunal. Questionado sobre suas expectativas, disse ser preciso esperar até 4 de abril. Sepúlveda lembrou ainda que se algum ministro fizer pedido de vista na sessão, a liminar continuará valendo.
Análise da notícia
Salomônica opção de adiar
Baptista Chagas de Almeida
Bem que seria apropriado lavar as mãos diante da decisão que não houve no Supremo Tribunal Federal (STF). Se teve admissibilidade, palavrão que a imensa maioria dos brasileiros desconhece, o julgamento em si ficou para depois. Salomônica foi a opção de adiar. Melhor assim. A nova data é 4 de abril. Percebeu o detalhe? Será na primeira quarta-feira do mês que vem.
Antes, a quaresma chega ao fim e tem a Semana Santa para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) rezar. Se será crucificado, melhor dizer, condenado, é preciso esperar o resultado no plenário da mais alta corte da Justiça do país. Que assim seja o significado de amém. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) perdeu o primeiro round, mas não foi à lona.
A admissibilidade de seu processo por corrupção foi aprovada. O placar de 7 a 4, no entanto, não representa o que virá no julgamento propriamente dito. Será mais apertado. É a probabilidade mais sensata a ser feita, embora exista o velho ditado que de cabeça de juiz ninguém sabe o que vem. O complemento, deixe para lá. Para Lula, um justo refresco com a proibição de sua prisão até lá. Pode ser alívio temporário ou permanente. Quando chegar o 4 de abril, o plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) dará o veredicto.
Bonecos proibidos
Manifestantes favoráveis e contrários à prisão do ex-presidente Lula dividiram a Praça dos Três Poderes, em Brasília, na tarde ontem, para acompanhar a votação da admissibilidade do pedido de habeas corpus do ex-presidente no Supremo Tribunal Federal (STF).
A PM informou que cerca de 400 pessoas participaram dos atos. Por volta das 15h, antes mesmo de começar a sessão, a PM usou spray de pimenta para conter manifestantes. O grupo queria inflar um boneco de 8 metros de altura com as caricaturas do ex-presidente, do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu e do ministro do STF Gilmar Mendes.
Segundo a Polícia Militar, os manifestantes estavam inflando um boneco, o que é proibido e por isso impediu, mas o grupo reagiu. O boneco foi recolhido pela PM, que informou que iria devolvê-lo.