Curitiba- Em seu primeiro dia na cadeia, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva conheceu um dos principais desafios aos presos de outros Estados apanhados pela Lava-Jato: a inconstância do clima, que amanhece frio, esquenta muito à tarde e gela à noite. O preso recebeu na manhã deste domingo, 8, o mesmo pão com manteiga e café preto servido aos outros detidos que estão na carceragem da Polícia Federal. Sozinho em suas acomodações de 15 m² com banheiro privativo no 4º andar do prédio, Lula pôde acompanhara pela TV a vitória de seu Corinthians sobre o Palmeiras.
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PT continua mobilizado em Curitiba e faz reunião para reafirmar candidatura LulaLiberdade de Lula está condicionada a julgamento no SupremoDefesa recorre ao STJ insistindo na inocênciaSaiba como é a cela, a rotina e a alimentação de Lula em CuritibaPT mantém pressão sobre o SupremoLula indica Gleisi como sua porta-vozAli ficaram até meia-volta, quando deixaram o ex-presidente em sua cela, que não tem grades, mas uma porta comum de madeira. Em seu primeiro dia preso, Lula recebeu a mesma comida dos demais detentos: o almoço chegou às 11h. Por volta das 15h, seus advogados voltaram.
Na sala especial reservada como cárcere há um espaço que serve de área de contado com os advogados - e com a família, quando as visitas começarem. Como era domingo, o prédio passou o dia vazio, cercado por jornalistas, policiais e manifestantes, que ficaram depois do perímetro de duas quadras.
O jantar a Lula foi servido às 18h. Com talhares de plástico, o ex-presidente comeu sozinho na mesa colocada em sua sala o menu do dia: carne assada, arroz, feijão, chuchu e macarrão. Recebeu ainda um copo de suco de laranja. Hoje, um novo processo na Justiça Federal será aberto e nova batalha jurídica começará: o de execução penal. É nele que a defesa vai pedir a remoção do condenado para uma unidade prisional mais próxima de seu domicílio, com condições especiais - iguais à de Curitiba.
Vigília
Enquanto os advogados e Lula tratavam de seu futuro na cadeia, os policiais militares observam os manifestantes que se reuniam em uma espécie de vigília.
Cerca de 300 deles passaram a noite em camas improvisadas com lençóis na calçada. Os organizadores já haviam providenciado banheiros químicos para os militantes desde o dia anterior. O agricultor Aniseto Pessoa, de 52 anos, que é voluntário em uma das duas cozinhas montadas em tendas, faz as contas: "De ontem para hoje, foram 22 kg de carne, 20 kg de arroz e 6 kg de feijão e de macarrão." Ele veio com um grupo do município paranaense de Castro e dormiu na calçada, ao lado das panelas. "Só vou embora quando Lula estiver livre."
Além das cozinhas, os militantes trouxeram barracas. O grupo aumentou às 16h30, quando a cantora Ana Cañas fez um pocket show em frente à barreira da PM. Grande parte dos acampados veio em um dos 15 ônibus com militantes, a maioria do Movimento dos Sem Terra (MST), que começaram a deixar o interior do Paraná.
Vizinho novo
"Moro aqui há mais de 20 anos, antes mesmo de o prédio da PF ser construído e nunca vi nada assim. A gente nem consegue sair, o trânsito está horrível e fazem muito barulho", reclamou a auxiliar de cozinha Regiane das Neves, de 43 anos. As informações são do jornal
O Estado de S. Paulo.
(Ricardo Brandt, Fábio Serapião e Douglas Gavras, enviados especiais; colaborou Daniel Weterman).