Curitiba — Pouco antes das 8h de ontem, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu a primeira refeição do dia. Café com leite, pão com manteiga. E seguiu o dia sozinho, recebendo apenas, no fim da tarde, a visita dos advogados. O isolamento do petista a partir de agora e a capacidade de influenciar a campanha eleitoral de dentro de uma cela são os fatores em jogo para petistas e adversários na campanha eleitoral.
Leia Mais
Haddad, Luxemburgo e Manuela d'Ávila chegam ao sindicato no ABC paulistaLula retoma agenda de visitas e recebe Haddad no Sindicato dos MetalúrgicosLula se reúne em SP com Dilma, Haddad, Genoino e outros aliadosApós se reunir com Lula, advogado diz que seguirá com medidas para revogar prisãoO problema para os aliados de Lula é saber se, mesmo preso, o petista manterá a força eleitoral, afinal, há uma tendência de esquecimento e protagonismo de outros atores a partir do momento em que a campanha esquente. Outro ponto é se essa força será suficiente para transferir votos para Haddad.
Esquerda
Os outros candidatos da esquerda, como Guilherme Boulos (Psol) e Manuela D’Ávila (PC do B), não teriam densidade eleitoral, mas poderiam atrapalhar os planos de um nome do PT, por dividir votos. Não foi à toa que Lula, durante o comício em São Bernardo do Campo (SP), antes de ser preso, exaltou o nome dos dois no palanque, praticamente deixando de lado referências a Haddad. Analistas mais apressados relacionaram a citação à busca de um nome para apoiar na disputa. É justamente o contrário, foi um afago. Lula quer os dois ao seu lado, como apoiadores do nome de Haddad quando a cabeça da chapa do PT for trocada.
No campo de centro-direita, o PT pode ter dificuldades caso o grupo defina um único candidato, reunindo forças. Com a fragmentação, o jogo ficaria ainda mais complexo. O último obstáculo seria enfrentar o deputado Jair Bolsonaro (PSL-RJ), que, com Lula blefando na corrida, continuará a fazer o contraponto, conquistando os eleitores anti-PT.
Supremo
Na próxima quarta-feira, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Marco Aurélio de Mello deve apresentar uma questão de ordem para o plenário sobre um pedido de liminar que suspende a prisão aos condenados de segunda instância. Os próprios petistas, nos bastidores, acreditam que não terão muitas chances de sucesso. “O objetivo dos adversários de Lula é deixá-lo na cadeia durante toda a campanha”, disse um aliado do ex-presidente que ontem esteve em Curitiba. Assim, levando em conta o risco de ocaso, Lula teria deixado uma série de vídeos gravados para animar a militâncias nas redes sociais pelos próximos meses. O primeiro dos registros foi ao ar ontem pela manhã, com Lula fazendo críticas ao juiz federal Sérgio Moro, da 13ª Vara Criminal Federal (leia na página 4).
Mesmo prevendo uma nova derrota no Supremo, os petistas avançam sobre os ministros. Na tarde de ontem, ao visitar o espaço ocupado por militantes e simpatizantes do PT, na vizinhança da Polícia Federal, em Curitiba, a presidente do partido, Gleisi Hoffmann, foi para cima de Rosa Weber, para que ela se posicione contra a prisão em segunda instância. O discurso oficial, porém, é o de vitória na liberação de Lula.
Rotina
Enquanto o jogo se desenrola do lado de fora do prédio da Polícia Federal, Lula, instalado no quarto e último andar, assistiu à vitória do Corinthians sobre o Palmeiras nos pênaltis. A televisão na cela improvisada numa sala de 15m² foi autorizada pelo juiz Moro.
Depois do jogo, o ex-presidente jantou a comida distribuída aos presos — carne assada, feijão, arroz, macarrão e chuchu — e recebeu a visita dos advogados. Cristiano Zanin Martins, que faz parte da equipe de defesa de Lula, disse que ele está revoltado com a prisão. Mais, não falou. Ainda de fora, as manifestações pró e contra Lula, isolados por mais de 400m entre as ruas de acesso ao prédio da PF, foram mais tranquilas em relação ao ocorrido na noite de sábado, quando a polícia jogou bombas de gás lacrimogêneo sobre simpatizantes do PT. O único momento tenso foi quando o senador Lindbergh Farias fez um vídeo perto de PMs, que logo depois entraram em formação por causa de supostos avanços de manifestantes para além da linha definida como limite. Do outro lado, o pessoal anti-Lula chegou a estourar rojões perto da janela da cela do ex-presidente..