“Lula, sou operário igual você, que sofreu com os pobres.” Assim o operário aposentado José Araújo Filho, de 78 anos, começa a carta, dirigida à sede da Polícia Federal em Curitiba (PR), onde está preso o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Como no filme “Central do Brasil”, em que Dora, personagem de Fernanda Montenegro, escreve cartas na estação de trem, militantes pró-Lula montaram uma tenda na Praça Sete, no Centro de Belo Horizonte, e recolheram mensagens escritas para o petista, entre elas a de seu José.
A iniciativa, que ocorreu na chamada “Tenda da Democracia”, é do Grupo Alvorada, ligado à Frente Brasil Popular, de partidos de esquerda e movimentos sociais. O grupo espalhou faixas com o escrito “Lula Livre” em uma parte das grades da praça e acabou também gerando reações contrárias, todas pacíficas. “Para as vítimas de Mariana ninguém escreve carta”, disse um pedestre. “Bolsonaro 2018”, gritou outro. “Carta pra Lula?”, questionou outra.
A mobilização na capital mineira acompanha um movimento nacional que incentiva o envio de mensagens para Lula, preso desde o último sábado. Com uma mesa e banquinhos, apoiadores do ex-presidente sentaram em meio à agitação do centro nevrálgico da cidade para escrever cartas para dar força ao ex-mandatário. Analfabetos contaram com a ajuda de voluntários.
Escrita a próprio punho, a carta de seu José relatava a Lula a saga de um brasileiro que conseguiu formar os três filhos na faculdade – comunicação social, direito e enfermagem. “Em 1987, fui dispensado da firma porque estava do lado de Lula”, conta seu José, morador do Bairro São Paulo, na Região. E ele finaliza o texto com um incentivo. “Sou católico e Jesus está do seu lado”, pontuou.
Desde às 11h até por volta das 15h, já ultrapassavam 350 cartas. Algumas delas com as fotos dos remetentes. Isso porque um fotógrafo estilo “lambe-lambe” montou uma banquinha bem ao lado da tenda. Por R$ 2, os interessados podiam tirar foto como se fossem o próprio presidente. Bastava colocar o rosto num banner que vinha com a faixa presidencial e o escrito “Eu sou Lula”.
A médica Sônia Maria Ribeiro, de 61 anos, assinou a carta como Sônia Maria Lula Ribeiro, a exemplo de diversos políticos e militantes. “Precisarei da ajuda dos universitários para mudar meu nome no Facebook”, explica a apoiadora na carta ao ex-presidente. Ela se diz revoltada com a prisão do petista e fez questão de demonstrar sua indignação. “Estamos vivendo num estado de exceção. Lula é respeitadíssimo pelo povo e internacionalmente”, diz.
Com problemas de visão, dona Serafina de Souza, de 67, ´preferiu contar com a ajuda de voluntário para redigir a mensagem ao ex-presidente. “Tenho problema de visão e escrevo muito mal. Acho que foi muita injustiça com ele. Não tem prova”, conta a doméstica. “Fiquei muito triste com sua prisão. Hoje, se tenho uma TV em casa, tenho que te agradecer”, dita a remetente. A intenção é que a iniciativa se repita em outros locais da cidade. As cartas serão enviadas num ônibus de militantes que segue para protesto em Curitiba no próximo sábado.