Jornal Estado de Minas

Pulverização de candidaturas leva políticos a apostas de alto risco

Brasília – As cartas estão lançadas no que promete ser a corrida eleitoral mais apertada e sem prognósticos da história brasileira. Apostar em qualquer um dos 22 pré-candidatos é jogar com o imponderável. Candidaturas de esquerda e centro, que não se atraem, estão pulverizadas. A direita, liderada majoritariamente pelo pré-candidato Jair Bolsonaro (PSL-RJ), pode enfrentar problemas com os poucos minutos de televisão, recursos e falta de palanque nos estados.


O momento é ainda mais incerto porque, hoje, a aposta dos partidos é no tudo ou nada. Legendas resistem em deixar uma porta aberta para, em determinado momento, se unir mais à frente. Mesmo com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva preso, o PT ainda acredita na possibilidade de atrair apoio de aliados, como PCdoB, da presidenciável Manuela D’Ávila, e do Psol, do pré-candidato Guilherme Boulos. Ambas as siglas, no entanto, relutam em acenar com uma união. O PDT, de Ciro Gomes, e a Rede, de Marina Silva, também resistem e procuram alçar voo longe do discurso petista.


No centro, a divisão não é diferente.
Está ainda mais pulverizado. O MDB, de Michel Temer, que vai tentar manter o legado do governo, aposta em uma imagem fortalecida com o embarque do ex-ministro da Fazenda e também presidenciável Henrique Meirelles para atrair apoio de outras siglas. O ambiente eleitoral atualmente traçado, no entanto, aponta o contrário. DEM, PSD, PSC e PRB, legendas da base governista, vão tentar emplacar candidaturas próprias.


As pesquisas eleitorais podem até dar sinais do apelo popular. Mas dificilmente serão suficientes para cravar o rumo das eleições, que pode ser ainda mais imprevisível do que as disputas de 1989, quando estavam no páreo 22 candidatos, avalia o cientista político Murilo Aragão, sócio da consultoria Arko Advice. “A realidade de hoje repete muitas circunstâncias daquela situação. Muitos candidatos, uma fragmentação muito ampla.

Uma esquerda muito dividida e um centro muito pulverizado, que não se entendia em torno do MDB, do PSDB e do PFL (atual DEM)”, pondera.


A grande diferença, avalia Aragão, é o fim do monopólio da esquerda petista. “E o que pode até deixar de fora do segundo turno. Agora, o que favorece a esquerda é o fato de que o centro também não se entende ainda”, analisa. A falta de uma grande liderança e de uma unanimidade compromete a aglutinação de forças ainda no primeiro turno. Na esquerda, os ataques de Lula e do PT às instituições afugenta o embarque de alguns aliados. No centro, ameaças judiciais a Temer e ao pré-candidato do PSDB Geraldo Alckmin incentivam outras pré-candidaturas.


Caso o cenário continue posto como está, é possível que o mais votado no primeiro turno não atinja nem 30% dos votos válidos, avalia o especialista em política brasileira Sérgio Praça, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV). “E todo o resto pode ficar com percentuais muito próximos, de 15%, 11%, 10%, 8%, 4%”, sustenta.

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