Brasília – O próximo presidente da República, eleito em outubro deste ano, deverá voltar às velhas e famosas coalizões – dando chance ao troca-troca partidário – para garantir a governabilidade. O maior partido, o PT, conta com 60 parlamentares dentro da Câmara dos Deputados. Isso não é suficiente, por exemplo, para aprovar projetos ordinários no Legislativo. Para aprovação, é necessário que o partido tenha uma base aliada equivalente a cinco siglas de dimensão parecida.
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Eleição na Câmara tem briga por cargos e ameaça coalizãoIniciativa privada é fundamental para a governabilidade, diz TemerDEM continua a dar apoio à governabilidade, afirma José AgripinoLula diz que Temer perdeu a governabilidade e pede eleições diretas jáPara os partidos menores, a situação fica ainda mais complicada: no caso do Bolsonaro (PSL-RJ), a sigla não chega a oito parlamentares dentro da Câmara. Para especialistas, o próximo presidente só conseguirá governabilidade, caso haja o chamado presidencialismo de coalizão. Ou seja, um governo no qual há fragmentação em vários partidos. O problema, no entanto, é histórico. Para o diretor de documentação do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), Antônio Augusto de Queiroz, “desde Sarney isso tem sido frequente”.
Segundo Queiroz, independentemente da linha ideológica do próximo chefe do Executivo, é necessário que ele se una a outros partidos. “Nenhum presidente elege parlamentares suficientes para aprovar leis ordinárias. Então, além da coalizão para se eleger, ele precisa agregar novos partidos para sua base e garantir governabilidade para aprovar leis”, explica. A expectativa é de que os três maiores partidos (PT, PSDB, e MDB) consigam colocar pouco menos de 50 deputados dentro da Câmara. “Se no atual Congresso, a pulverização foi grande, no próximo tende a ser maior”, comenta o diretor de documentação.
No começo deste ano, o Diap mostrou que a renovação dentro do Legislativo será menor do que nas outras eleições – com 45%, frente a média histórica de 49%. Portanto é preciso contar com quem já está dentro da Casa. Mesmo com o período de janela partidária, encerrada em 7 de abril, o maior partido, até então, continua sendo o dos PT.
“(O PT) É quem elegeu mais, quem tem mais recursos do fundo eleitoral.
O coordenador do curso de ciência política da UDF, José Deocleciano, concorda que o novo presidente deve investir no troca-troca. “Ao longo do sistema democrático, nenhum presidente conseguiu maioria verdadeira. Nenhum deles foi capaz de fazer isso, e nem o próximo deve ser”, opina.
Por isso, para ele, não há alternativa para garantir a governabilidade. “Eu diria que, em 2019, qualquer que seja a linha ideológica do eleito, de fato, ele tem que fazer coalizões com os partidos que aí estão”, completou.
De acordo com Deocleciano, o presidencialismo de coalizão não necessariamente significa um sistema ruim, já que ele é mais uma consequência de como foi construído dentro da política brasileira.
“Se tivesse funcionado no governo de Temer, ele teria, por exemplo, conseguido aprovar a previdência”, explicou. O problema é que, como a aliança tem um caráter de manutenção do poder, o custo é muito alto. Não apenas o valor político, mas também o financeiro. Para sustentá-la, há recursos como o apadrinhamento, distribuição de recursos e até de cargos.
“A coalizão não é negativa em si, mas por vezes, gera consequências. O que a gente viu é que certamente, desde o último mandato do Fernando Henrique Cardoso, esse custo é alto. Seja para o FHC, Lula, Dilma, Temer, e vai ser para o próximo dado as atuais circunstâncias”, concluiu.
Renovação dentro
do Congresso
Com o Congresso Nacional sem a renovação esperada para este ano, o problema pode ser crucial para o novo presidente da República. A necessidade do toma lá dá cá partidário pode definir a forma de atuação do novo chefe do Executivo. Antes da reforma política, a previsão era de que a troca de deputados dentro Câmara dos Deputados fosse uma das mais altas da história.
Para o professor José Deocleciano, esse processo político é um dos mais peculiares da história das eleições. Por isso, a não renovação política pode ser justificada pelas estruturas eleitorais. Entre os problemas, o tempo de campanha que diminuiu de 90 para 45 dias; além das regras de campanhas partidárias, em rádio e televisão; assim como a mudança no financiamento de campanha. “Elas acabam por privilegiar as estruturas partidárias”, afirma.
Por isso, apesar do desejo populacional de transformar o Legislativo, motivado por descontentamentos e manifestações, nas quais muitos foram às ruas pedir por mudanças no sistema político, é provável que as estruturas permaneçam as mesmas.
“Ao mesmo tempo que há o desejo de renovação, as regras não nos permitem achar que ela vai ser muito grande. É muito difícil apostar em algo acentuado. Acho que pode haver, mas o desejo de mudança vai encontrar limites institucionais”, explicou Deocleciano.
Para Antônio Queiroz, as condições não estão favoráveis para a mudança. Um dos motivos, é a busca por reeleição, que será acentuada este ano. Isso pode ser justificado, por exemplo, pela busca pelo foro privilegiado – tema que deve ser discutido no Supremo Tribunal Federal (STF) semana que vem.
“Eles tendem a ser reeleitos, porque seus concorrentes não terão espaço no horário eleitoral, nem recursos do fundo partidário ou tempo de campanha. São as três condições: tempo, dinheiro e horário eleitoral, e isso foi alterado pelos próprios parlamentares”, completa. Além disso, há as vantagens como já ter nome conhecido, emenda parlamentar e serviço prestado, o que “representa 20% de vantagem”.
PRESIDENCIÁVEIS X BASE
Veja quantos deputados federais e senadores
têm o partido dos pré-candidatos à Presidência da República
Aldo Rebelo (PSB) 25 deputados 4 senadores
Alvaro Dias (Podemos) 80 deputados* 4 senadores
Beto Albuquerque (Solidariedade) 10 deputados –
Ciro Gomes (PDT) 20 deputados 3 senadores
Flávio Rocha (PRB) 20 deputados 2 senadores
Fernando Collor (PTC) (**) 1 senador
Geraldo Alckmin (PSDB) 47 deputados 12 senadores
Guilherme Boulos (Psol) 6 deputados –
Henrique Meirelles (MDB) 53 deputados 18 senadores
Jair Bolsonaro (PSL) 8 deputados –
João Amoêdo (Novo) (**) –
Joaquim Barbosa (PSB) 25 deputados 4 senadores
Luiz Inácio Lula da Silva (PT) 60 deputados 9 senadores
Manuela D’Ávila (PCdoB) 10 deputados 1 senadora
Marina Silva (Rede) 2 deputados 1 senador
Paulo Rabello (PSC) 8 deputados –
Rodrigo Maia (DEM) 43 deputados 4 senadores
*O bloco é Podemos, PP, Avante e PEN
**Não há levantamento na Câmara dos Deputados