Formado em Economia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, mestre e PhD em pela Universidade de Chicago, professor de pós-graduação na Fundação Getúlio Vargas. É longa a lista de títulos exibida por Paulo Rabello de Castro. Filiado ao PSC, ele se desincompatibilizou há uma semana da presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social do Brasil (BNDES) para concorrer à Presidência da República. Em campanha, Rabello declara: “O que acontece de diferente nesta nova fase é que não estou mais terceirizando os meus projetos de nação e planos de governo. Passarei eu a expô-los”, diz, considerando que nas últimas quatro décadas, à exceção dos anos Lula e Dilma, atuou em todos os governos. Crítico do ajuste fiscal proposto pelo ex-ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, Paulo Rabello de Castro prega um governo comprometido com o que chama de “prosperidade compartilhada”. Segundo ele, sua proposta é amadurecida pela observação daquilo que não aconteceu no Brasil. “Há 25 anos, um quarto de século, estamos buscando sem encontrar essa etapa de crescimento sustentável.”
Henrique Meirelles, Rodrigo Maia, Flávio Rocha, João Amoedo são todos nomes que se declaram candidatos à Presidência da República e que se não estão diretamente vinculados ao governo federal, são de legendas que lhe dão sustentação. Há algum aspecto em que a sua candidatura se diferencia?
Pelo menos metade desses candidatos não estará na cédula. Eu estarei com certeza. Só tenho um projeto: liderar o país. Não estou nesse pelotão embolado desses candidatos, porque este é um centro praticamente sem proposta. E com toda a modéstia posso dizer que não há nada no pensamento de Henrique Meirelles que pelo menos se assemelhe com o que penso. Sou movido pela necessidade de ver a efetiva implementação de um projeto de nação e um programa de governo. E eu venho carregado com uma proposta de trabalho que tem 40 anos de maturação. É como um vinho, extremamente bem-conceituado e maduro.
Que avaliação faz do ajuste fiscal proposto por Henrique Meirelles?
Desde quando vamos passar 20 anos fazendo ajuste fiscal? Esse é o erro de Henrique Meirelles. Errou redondamente. 20 é número de partido, não é número para ajuste fiscal. Que tal dois anos? Este é o nível da urgência e do compromisso que o povo quer. Portanto um mandato de quatro anos metade é ajuste.
Em que consiste o seu plano de governo?
A nossa proposta é amadurecida pela observação daquilo que não aconteceu no Brasil: há 25 anos, um quarto de século, estamos buscando sem encontrar essa etapa de crescimento sustentável. Durante esse período escrevi planos de governo sucessivos, sempre de forma terceirizada, ajudando a vários governos. Proponho um trabalho aprofundado, que chamaria de reforma, que trata da transformação da sociedade brasileira numa sociedade adulta, uma sociedade inclusiva. Uma sociedade com a prosperidade compartilhada. Que é o que ainda não conseguimos ter. Não conseguimos ter nem prosperidade nem compartilhamento. Fora o período de boom de consumo do governo Lula, não somos uma sociedade que inclui, que abre oportunidades como deveria.
Como alcançar a prosperidade compartilhada que o senhor defende?
Defendemos uma plataforma que integre o que chamamos de três “Pês” da prosperidade. O primeiro P é o da poupança. O segundo P é o da propriedade. Não damos o acesso que deveríamos às pessoas para terem capital. E o governo mais inclusivo que já ocorreu, que foi o do Lula, fez a inclusão assistencialista. Nossa proposta é fazer a inclusão via capital, com a regularização fundiária geral: são cerca de 10 milhões de propriedades irregulares, que pela titulação terão uma valorização mínima de R$ 10 mil. Só aí temos um choque de capital da ordem de R$ 100 bilhões. O terceiro P é o da participação. Precisamos de uma proposta de revisão constitucional, uma constituinte exclusiva com ênfase no federalismo efetivo. Estamos comemorando 30 anos de uma Constituição, que não condeno nem critico, mas que é prolixa e por ser muito detalhista, precisa de uma lipoaspiração, como, aliás, já vai ensejar a nossa proposta de reforma tributária, todo capítulo da tributação, igualmente o da área orçamentária. Propomos uma revisão ampla. Só isso já torna a cara do Brasil lá para 2020 completamente diferente da situação que estamos hoje.
O seu partido, o PSC, tem bancada pequena e pouco tempo de exposição no horário de antena. Acredita que será competitivo?
Nem o pastor Everaldo (presidente nacional do PSC) está preocupado com isso e acompanho o raciocínio dele. Esse tempo oficial de televisão se dá na etapa final da corrida. O importante é nestes próximos meses ocuparmos os espaços da mídia espontânea e nas redes sociais para apresentarmos nossa proposta. O carro-chefe de nossa plataforma é um conjunto de medidas articuladas que tem o sentido da prosperidade compartilhada.
Como poupar se o desemprego é muito alto, as pessoas lutam para sobreviver, assim como as empresas, que continuam em dificuldade?
A deflagração da poupança surge através de duas ou três providências essenciais: a primeira é a nova Previdência. A reforma do “não” – refiro-me à velha reforma da Previdência que vai cortar privilégios, é negativista. Mas não foi apresentada Reforma Previdenciária do “sim”, que gera alguma poupança, que induz às contas previdenciárias individuais. Esse é um eixo que pode começar em 2 de janeiro de 2019. Temos legislação pronta. Além disso, propomos a reforma tributária simplificadora, que está pronta, porque temos tido oportunidade de ajudar o presidente Temer informalmente. Só não tivemos tempo de chutar em gol. Ela será de um impacto apenas comparável ao Plano Real. Acho que do ponto de vista do destravamento da economia será até mais importante do que o Plano Real. O aperto de crédito para pessoas jurídicas e físicas foi monumental e persiste. Além disso menciono o item educação, que é o capital do conhecimento, que tem um sentido mais amplo do que a propriedade do imóvel, que inclusive irá, ao lado da questão previdenciária, deflagrar a poupança.