O casamento entre Barbosa e o PSB depende da resolução de brigas internas do partido — legenda que tem entre os integrantes gente da esquerda e da direita. Mas também de imposição do próprio ex-ministro. À imprensa ele não demonstrou preocupação em perder eventual apoio em decorrência da lentidão em definir a candidatura. “Who cares?”, respondeu, em inglês. Na tradução literal para o português, a frase significa “quem se importa?”. Hoje, tem pelo menos potencial de 14 milhões de eleitores, ainda na largada. A postura expressa bem que o jurista ainda não caiu em si sobre o seu potencial. Afinal, mesmo sem ainda ter se posicionado ou discursado como pré-candidato, detém intenção de votos superior à soma de votos de Ciro Gomes (PDT), Guilherme Boulos (Psol) e Manuela D’Ávila (PCdoB).
A capacidade eleitoral do pessebista também se iguala à dos principais nomes do centro. Juntos, Geraldo Alckmin (PSDB), Rodrigo Maia (DEM) e Henrique Meirelles ou Michel Temer (MDB) detêm os mesmos 10% que Barbosa. A diferença entre esses pré-candidatos e os de esquerda é que Barbosa pode crescer mais nas pesquisas, sustenta o cientista político Murillo Aragão, sócio da Arko Advice. “Pode afetar todas as candidaturas. De esquerda, centro ou direita”, avaliou.
DEPENDÊNCIA DE COLIGAÇÕES
O sucesso de Barbosa, no entanto, dependerá muito da formação de coligações, para dar estrutura partidária e tempo de TV, pondera Aragão. “Não é apenas jogar um nome e ver se cola”, disse. Ciente do poder que Barbosa pode ter em absorver votos de outros pré-candidatos, e da importância em construir alianças, líderes do PSB no Congresso Nacional já estão se movimentando para construir narrativa sólida que garanta apoio na corrida eleitoral e em eventual gestão na Presidência da República.
A ideia é construir a imagem de Barbosa como desaguador do centro e da esquerda, explica o líder do PSB na Câmara, Júlio Delgado (MG). “Fui, inclusive, procurado por deputados de esquerda que propuseram a instalação de uma frente parlamentar suprapartidária de apoio ao ministro aposentado”, afirmou. A expectativa do partido é que o apoio partidário possa fazê-lo cair na real para as eleições. Resta saber o que pensam ele e a legenda, ressalta Delgado. “Pelo menos na primeira conversa que tivemos sobre alguns temas, houve uma sintonia.”
No campo econômico, houve sinergia entre partido e o potencial candidato. O ministro aposentado e os líderes concordam que a reforma da Previdência deve ser aprovada, mas não no modelo proposto por Temer. Também houve sintonia em relação às privatizações. “Não de tudo, nem de setores estratégicos”, ressaltou Delgado. O presidente do partido, Carlos Siqueira, endossa o discurso e garante que algumas decisões liberais de Barbosa como ministro, como voto pela quebra do monopólio do petróleo, são aceitáveis. “Admitimos que haja participação privada, mas é preciso que o governo mantenha o controle de áreas estratégicas, como energia e gás”, disse.
JEITO MINEIRO A ficha de Barbosa pode levar ainda outras reuniões para cair. O jeito cauteloso, meio desconfiado, meio prudente do ex-magistrado pode ser a causa disso, avalia o empresário Antônio Carlos Mariano de Almeida, mais conhecido como Toninho. Amigo do magistrado desde a infância, ele não tem dúvidas de que avaliações pelo lado pessoal terão grande peso na escolha. “A partir do momento em que o sujeito vira vitrine no Brasil, todo mundo quer jogar pedra. Então, pode ter certeza de que, se vier a ser candidato, vai ter muita gente batendo nele. E ele sabe disso”, ponderou.
Natural de Paracatu, no Noroeste de Minas, como Barbosa, Toninho conhece o ministro aposentado como poucos. Fizeram o ensino fundamental juntos e jogaram futebol no mesmo time de juvenis. O empresário não nega que o temperamento forte é marca registrada do ex-presidente do STF, algo que, politicamente, deve ser monitorado pelo partido. Mas, para ele, isso pode jogar a favor do jurista na corrida eleitoral. “Joaquim é de poucos amigos. Mas os amigos verdadeiros têm acesso muito grande a ele. Ele se abre, pede opiniões, e ouve muito bem. Sabe ser flexível. Se sentir confiança nos líderes do partido e aliados, o trato com certeza será diferenciado”, avaliou o amigo.
Um fator determinante para selar o casamento entre Barbosa e o PSB é a reciprocidade. Dificilmente, o ex-magistrado aceitará assumir a pré-candidatura se perceber persistência da divisão interna entre caciques do partido. A falta de consenso em torno do recém-correligionário, no entanto, pode ser momentânea. Mesmo líderes que questionam a pré-candidatura do ministro aposentado não viraram totalmente as costas.
“A atração do partido em relação a Barbosa é eleitoreira”, disse um dirigente do partido, que aponta os principais nomes contrários ao magistrado: “Renato Casagrande (ES), Paulo Câmara (PE) e Ricardo Coutinho (PB). Os defensores são a elite do partido que reside em Brasília”. Ao responder às perguntas dos jornalistas na quinta-feira, Barbosa foi direto: “Há dificuldades dos dois lados. O partido tem sua história, suas dificuldades regionais. Do meu lado, tenho minhas dificuldades de ordem pessoal”. A dificuldade do PSB com nomes de fora não é novidade, vide o caso de Marina Silva na eleição passada, vista com desconfianças pelos integrantes do partido. A ex-senadora terminou a campanha com 21% das intenções de votos.
Para um filiado do partido, as qualidades de Barbosa são os principais problemas dele, como a sinceridade. “Mas, se ele se viabilizar como candidato em um partido dividido como o PSB, terá passado no primeiro teste para virar presidente.” O governador de São Paulo, Márcio França, sugeriu que o partido faça pesquisa qualitativa sobre Barbosa para sondar o seu poder eleitoral nas ruas. A depender dos resultados, pode vir a apoiá-lo. (Colaboraram Leonardo Cavalcanti e Bernardo Bittar)