Atibaia (SP) – A quase 20 quilômetros do Centro de Atibaia, cidade localizada a uma hora de carro de São Paulo, o Sítio Santa Bárbara, tema do próximo processo enfrentado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a ser julgado, se transformou em verdadeira atração turística na região. Não apenas entre os moradores, mas de visitantes que vão ao município, distante 66 quilômetros da capital paulista, para fugir da poluição e da rotina exaustiva da metrópole. Localizada no Bairro Portão, a propriedade fica em uma viela perpendicular à rua principal. A entrada, um tanto quanto discreta, é da largura de apenas um carro. O jardim que dá acesso ao local está bem cuidado. A pintura, em dia.
O bairro, cercado por uma mata verde, é composto por chácaras e vilas de casas mais simples. No alto da serra, contudo, fica um dos maiores condomínios da cidade, o Clube da Montanha. Isolado do Centro de Atibaia, o local é silencioso, onde, durante o dia, pode-se observar moradores fazendo caminhada pela avenida, que não tem calçada ou ciclovia.
Desde março de 2016, na 24ª fase da Operação Lava-Jato, quando a propriedade foi investigada pela primeira vez pela Polícia Federal, moradores relatam que o clima na região mudou. Há a suspeita de que o ex-presidente teria recebido das empreiteiras OAS, Odebrecht e Schahin propinas no valor de R$ 1 milhão, por meio de reformas no sítio. “Foi uma correria doida no dia em que os ‘polícia bravo’ vieram aqui. Era helicóptero para tudo quanto é lado. Foi assim que descobrimos quem poderia ser o dono do lugar . Nunca imaginamos”, lembrou um morador da região.
À reportagem do Estado de Minas/Correio Braziliense, uma das vizinhas disse que é mais comum ouvir perguntas sobre o local que de fato encontrar curiosos nas redondezas. “Todo mundo que não é daqui, mas vem passar alguns dias, pergunta onde é o ‘sítio do Lula’. Sempre tem alguém interessado.” A senhora, de 69 anos, estava a caminho da casa da irmã, que fica a dois lotes do Sítio Santa Bárbara. “Passo aqui quase todos os dias e nunca vejo nenhuma movimentação. As portas estão sempre fechadas, o caseiro quase não se envolve mais com a vizinhança. O assunto sobre quem é, de fato, dono do sítio virou um tabu”, contou. Ela trabalhava na propriedade há 30 anos, quando um francês teria se mudado para a região.
A reportagem percorreu o trajeto desde o Centro de Atibaia até o sítio. A entrada para a chácara é escondida, é necessário saber com precisão onde é localizada – ou conhecer muito bem a região. Antes de chegar à casa, há uma ponte estreita que parece não receber manutenção há algum tempo. Não há sinalização com o nome da propriedade, como todas ao redor têm. A campainha foi tocada por mais de cinco vezes, mas não houve retorno. Questionados sobre a presença de Lula na região, antes de ser deflagrada a operação, moradores relatam que nunca o viram. “Se passou por aqui, foi em um carro com vidro escuro. Nunca andou a pé também, senão alguém o teria visto. A única entrada para o sítio é essa, que passa por uma pontezinha”, disse um atibaiano, apoiado pelo restante dos vizinhos que também estavam na conversa.
Para a população, a polêmica nada influenciou na vida da comunidade. Não sabem se o proprietário é o petista, ou se é um colega dele. Mas, como em um consenso, agradecem a antena de telefone instalada no portão. “Não sou petista. Ainda não sei nem em quem vou votar neste ano. Mas uma coisa é certa: depois que instalaram a antena da Oi aqui, nossa vida mudou”, comemora, rindo, uma moradora. No local, a internet 3G não funciona, tampouco há sinal telefônico de outras operadoras para realizar ligações.
DELAÇÕES RETIRADAS
O segundo processo que envolve o sítio de Atibaia está cada vez mais próximo da sentença. O Supremo Tribunal Federal (STF), no entanto, decidiu retirar trechos de delações de ex-executivos da Odebrecht dos processos que envolvem o petista. Para três dos cinco ministros da Segunda Turma, as partes nas quais os delatores relatam o suposto repasse de verbas indevidas para Lula, incluindo a reforma do sítio, não estão relacionadas diretamente com a Petrobras, alvo da investigação original da Lava-Jato. Portanto, não deveriam ser consideradas pelo juiz Sérgio Moro.
Os indícios
Confira informações que, segundo o Ministério Público, ligam Lula ao sítio
>> A relação próxima entre os proprietários formais com o ex-presidente e seus familiares
>> Veículos de utilização do ex-presidente teriam ido ao sítio mais de 250 vezes entre 2011 e 2016
>> Agentes de segurança pessoal do petista também estiveram no local por centenas de vezes e, inclusive, instalaram câmeras de segurança na propriedade
>> Mensagens eletrônicas foram trocadas entre o caseiro da chácara e o Instituto Lula
>> A localização de diversos bens pessoais de Lula e de seus familiares, como vestuários, vinhos e um barco, que leva o nome do petista e da mulher Marisa Letícia
>> A apreensão de notas fiscais emitidas com o nome da ex-primeira-dama sobre bens encontrados no sítio. Há também faturas em nomes de auxiliares de Lula e de empregados da Odebrecht no apartamento do ex-presidente em São Bernardo relacionadas a bens encontrados na chácara
>> Dois pedalinhos ficam estacionados no lago do sítio com o nome dos dois netos do ex-presidente: Pedro e Arthur
>> A cozinha do local foi reformada pela mesma empresa que fez a cozinha do tríplex do Guarujá (SP)