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Estado de Minas ENTREVISTA

'Prioridade é pagar servidores no 5º dia útil', diz Anastasia

Candidatura do senador ao Executivo será lançada hoje pelo PSDB, em Contagem


postado em 14/05/2018 06:00 / atualizado em 14/05/2018 16:16

"Lamentavelmente, o quadro atual do Brasil levou a um processo geral de descrédito e isso acaba vitimizando a classe política como um todo" (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A press)

Depois de muito resistir a pressões, o senador Antonio Anastasia (PSDB) terá a pré-candidatura ao governo de Minas lançada oficialmente pelo partido hoje, em um ato em Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Visto como o nome mais forte para unir as oposições ao governador Fernando Pimentel (PT), o tucano tenta agregar os pré-candidatos do DEM, Rodrigo Pacheco, do PSB, Marcio Lacerda, e do Solidariedade, Dinis Pinheiro, em um chapão, para retornar ao Palácio da Liberdade.

Por enquanto, trabalha com a hipótese de saírem separados, em uma eleição de dois turnos. Em entrevista ao Estado de Minas, Anastasia criticou a gestão de Pimentel e disse que, se eleito, a prioridade número um de sua gestão será voltar a pagar o funcionalismo em parcela única no quinto dia útil do mês. Apadrinhado do senador Aécio Neves, hoje às voltas com a Lava-Jato, o pré-candidato ao governo negou que o PSDB o esteja escondendo, mas disse que caberá a Aécio decidir se subirá em seu palanque. Sobre o ex-governador Geraldo Alckmin, Anastasia disse ser o nome com perfil ideal para o país neste momento.

O sr. afirmou várias vezes que não seria candidato ao governo e hoje está lançando sua pré-candidatura oficialmente. O que o fez mudar de ideia?
Não era minha pretensão me candidatar, mas as circunstâncias acabaram me levando a aceitar esse grande clamor de que nosso nome seria capaz de agregar forças para modificar o panorama do estado. Os outros nomes colocados no campo da oposição não estavam conseguindo o adensamento necessário para fazer esse enfrentamento. É como se participássemos de uma entidade, tivéssemos cuidando dela, aí você viaja e quando volta vê que ela está toda desmazelada, não está prestando um bom serviço. Você tem vontade de ajudar a resolver, em razão da experiência. Me entusiasmei. Houve apoio de muitas lideranças e vamos continuar com essa pré-candidatura.

Quais são os três principais gargalos do estado hoje e como resolvê-los?
A própria autoestima do mineiro hoje é muito baixa, em razão da situação em que Minas se encontra. Um estado que não cumpre as determinações constitucionais de repasse das verbas devidas aos 853 municípios. Se o estado não consegue cumprir nem aquilo que é obrigação, que é o repasse automático, já é uma das principais mazelas. O funcionalismo, recebendo parcelado e, muitas vezes, sem saber quando, também é um segmento que tem sofrido muito. Conseguimos colocar, em 2004, o salário no quinto dia útil e assim foi por mais de 10 anos. Mas de modo especial, temos o cidadão, porque não há duvida nenhuma de que temos hoje uma deficiência dos serviços públicos em termos do que havia antigamente, na qualidade da segurança, da saúde, da educação. O estado precisará de um conjunto estratégico muito firme de ações para um processo de reconstrução que o leve de volta ao campo do desenvolvimento.

Se o sr. for eleito, vai acabar com o escalonamento?
Será a prioridade número um do governo colocar as contas em dia, o que inclui evidentemente voltar a pagar no quinto dia útil. Acho que qualquer pessoa que assuma o governo deverá ter essa prioridade.


O sr. saberia dizer quando?
Ninguém poderia afirmar isso, porque depende do fluxo de caixa. Seria não só temerário, como irresponsável, alguém (fixar data) a esta altura, sem conhecer as finanças do estado em detalhes, sem saber o desdobramento da situação. Agora, claro que a prioridade será essa, porque o funcionalismo conta com isso para a sua vida.

Qual sua avaliação do governo Pimentel?
Fomos aliados no passado, na eleição do Marcio Lacerda (à Prefeitura de BH), e sempre tive convívio pessoal respeitoso. Como administrador, penso que em um estado que já atravessava desde 2013 uma situação nacional de crise, medidas que deveriam ter vindo para criar mais economia não foram feitas e houve um agravamento da situação. Uma política que não vejo é a de estímulo ou incentivo à vinda de indústrias. Vários programas importantes foram suspensos, alguns alegadamente sob falta de recursos, outros não sei por que motivo. São vários equívocos que na sua soma levam a uma administração negativa. A crise não foi enfrentada com o rigor devido. Então, a avaliação que se tem do governo – e não é a minha pessoal, é a que se aufere na opinião pública – hoje não é positiva.

O sr. acha que Pimentel deve sofrer impeachment?
É matéria da Assembleia, não conheço os termos do processo. Até pela minha formação e pelo fato de ter sido relator e muito cuidadoso com as questões técnicas do impeachment federal (da ex-presidente Dilma Rousseff), seria totalmente irresponsável opinar aqui.

Se eleito, vai reativar a Cidade Administrativa ou alugar, como quer o atual governo?
Esse é mais um equívoco. A crítica que se faz é aos prédios, mas fico triste porque não se deu sequência ao que é muito mais importante, que é o processo de desenvolvimento do Vetor Norte. Não vi nenhuma palavra do governo a favor do aeroporto em Confins, que é uma âncora do desenvolvimento do estado. Acho que toda a Região Norte se ressente dessa espécie de abandono. A notícia que tenho é que o governador teria deixado de frequentar o Palácio Tiradentes. Acho um equívoco, trabalhei lá durante quatro anos, ia e voltava diariamente de automóvel. Avançamos muito. Imagine se hoje ainda tivéssemos as secretarias onde funciona o circuito cultural (da Praça da Liberdade)? Qual foi o grande valor que BH agregou com o circuito cultural? O atual governo critica o custo da Cidade Administrativa, mas se esquece dos bilhões gastos nas estradas. Ligamos 220 municípios por asfalto e ele não ligou nenhum, e não vejo comentário dessas obras. Os bilhões que foram repassados aos municípios para saneamento e saúde, nada disso se comenta.

O grupo do sr. se esfacelou nessa ausência do sr. e do senador Aécio. Acredita que ainda possa reunir os partidos que formaram seus governos?
Acho que a maioria voltará durante o processo eleitoral e, certamente, depois, no governo, caso eleito, teremos todos eles na administração do estado. Mas tenho confiança de que muitos já virão agora no processo eleitoral.

Rodrigo Pacheco, Dinis Pinheiro e Marcio Lacerda. Quem estará na campanha do senhor?
Respeito muito os três, tenho relações pessoais de proximidade, são lideranças muito importantes, cada qual com seu estilo e perfil. Gostaria muito de ter a convergência de todos, mas isso ainda é motivo de conversa, até porque a eleição estadual em Minas não é isolada da nacional, que também está muito indefinida, principalmente os candidatos do centro.


Quem será seu vice? Pode ser algum desses três?
Também não está escolhido. Vamos fazer isso dentro de uma convergência dos partidos que nos apoiam. No momento oportuno vamos ver quem tem o melhor perfil para agregar ao meu, porque ninguém ganha eleição sozinho. São bons nomes, mas vamos conversar com muitas lideranças para identificar um que seja um bom perfil.

Que avaliação o senhor faz do ex-prefeito Marcio Lacerda, que pode ser um adversário nas urnas?
Foi um bom governo municipal, fez uma administração proba, séria, competente e bem avaliada. O prefeito teve em 2016 uma opção política de afastamento do PSDB e desse grupo nuclear, que inclusive esteve ajudando nas suas eleições, em 2008 e 2012. Agora, nada impede que nessas conversações eventualmente haja o retorno. Isso está no espectro de conversas.

O senador Aécio Neves vai concorrer ao Senado ou Câmara, e qual será a participação na campanha?
O senador Aécio tem uma trajetória muito significativa, especialmente administrativa em Minas, pelo conjunto da obra que realizou. Neste momento, enfrenta questões processuais e está muito dedicado à sua defesa. Temos que respeitar o tempo para que ele decida e vamos aguardar com muita tranquilidade.

Aécio não tem participado de eventos do PSDB ou do grupo e, nos bastidores, dizem que a presença dele no partido atrapalharia a formação de alianças. O PSDB está escondendo o senador?
Isso não existe, evidentemente. O Aécio é senador da República, no exercício do seu mandato. Tem todas as prerrogativas inerentes a essa função. E ele tem se dedicado muito, é sabido, neste momento a realizar a sua defesa, que tem que ser feita. Até porque, há uma presunção da inocência que muitas vezes esquecemos.

O senhor espera uma eleição de um ou dois turnos?
A possibilidade maior, tendo hoje o cenário atual, sinaliza que teremos um segundo turno. Pode ser que, daqui um mês e meio ou dois meses, essas forças se acomodem e haja uma polarização. Aí pode ser que eventualmente a campanha ser resolva em primeiro turno. Hoje eu não acredito nisso.

Qual foi o erro que levou o PSDB a perder o governo para o PT em 2014 e como fazer diferente nessa campanha?
Quando se perde uma eleição não existe um único erro. Foi um conjunto equívocos que lamentavelmente acabaram ocasionando a derrota e prejudicando, naquele momento, a candidatura presidencial do senador Aécio. Muitas vezes você perde uma eleição e ganha outra. FHC perdeu eleição de prefeito em SP em 1988 e foi presidente da República em 1994. O senador Itamar perdeu a eleição em MG para governo em 1986 logo depois foi vice-presidente e presidente, depois voltou ao governo de Minas. A decisão é sempre do eleitor, que vai decidir qual a melhor proposta naquele momento.

Os ex-governadores Geraldo Alckmin e José Serra também são alvo de denúncias. Teme que isso te prejudique?
Uma coisa é a acusação e outra é a condenação. Hoje, em razão das várias investigações, todas as pessoas que foram candidatas a cargos majoritários, de todos os partidos nos últimos 20 anos, de uma forma ou de outra, se viram objetos de acusação. Acredito que isso não vai ter nenhuma repercussão, até porque em Minas as pessoas me conhecem bem, tenho muita tranquilidade quanto a esse aspecto. Lamentavelmente, o quadro atual do Brasil levou a um processo geral de descrédito e isso acaba vitimizando a classe política como um todo. Temos que separar os fatos e garantir direito de defesa a todos.

O sr. quer Alckmin em seu palanque?
O governador Alckmin é o candidato do partido e meu candidato, um dos motivos que me levaram à pré-candidatura é a vinculação com ele. Acredito que tem o perfil adequado para o Brasil neste momento: um homem de tranquilidade, de conciliação. A meu ver, neste momento isso é um grande atributo. Sou um entusiasta da candidatura dele, ele virá muitas vezes a Minas e pretendo apoiá-lo de maneira vigorosa.

 


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