São Paulo - Marcia Cavallari, diretora executiva do Ibope Inteligência, ficou recentemente sensibilizada ao acompanhar os depoimentos de entrevistados em uma pesquisa qualitativa promovida por seu instituto. Reunidos em volta de uma mesa e convidados a falar sobre suas expectativas em relação ao futuro, grupos de eleitores de perfis diversos só manifestaram desesperança e angústia. "Foi uma tristeza", disse ela, em entrevista ao jornal O Estado de s. Paulo.
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Nova pesquisa CNT/MDA é registrada no TSEDatafolha: Pesquisa espontânea mostra índice elevado de votos brancos ou nulosOs pré-candidatos mais conhecidos têm taxas muito altas de rejeição, até maiores que seus porcentuais de intenção de voto. Qual será o impacto disso?
Uma questão que a gente vê nas pesquisas é que os eleitores estão sem perspectiva de melhora. Não conseguem ver como sair desse lugar em que estamos, não conseguem enxergar uma luz no fim do túnel.
O desânimo em relação aos políticos tradicionais leva a uma maior abertura a novidades?
Há uma posição dúbia em relação ao novo. Eles percebem que a situação é muito complexa e que talvez um candidato que represente o totalmente novo possa piorar ainda mais o quadro.
Até agora é uma eleição sem favoritos, o que atrai muitos candidatos. Por outro lado, partidos menores têm poucos recursos e precisam investir em campanhas de deputados. A lista de presidenciáveis tende a encolher?
Deve ser a primeira eleição desde 1989 sem (o ex-presidente) Lula, que tem um peso específico, que vai além de seu partido. Um ponto importante é que, apesar da baixa preferência partidária dos brasileiros, há cerca de 30% com simpatia pelos partidos de esquerda.
Até que ponto as redes sociais tornam o eleitorado mais volátil, mais sujeito a mudanças bruscas?
As redes têm um papel mais importante, sim, a cada ano a mais usuários. Sabemos que os eleitores citam cada vez mais as redes como fonte de informação. Mas ainda não temos como medir o quanto elas influenciam a decisão de voto.
Como a desinformação afeta o voto?
Em relação às notícias falsas, nossas pesquisas mostram que os eleitores se preocupam muito com isso. Eles acham que o ambiente da internet é mais propício para as pessoas divulgarem e passarem notícias falsas sem checar a fonte. Sabem e declaram que não podem acreditar em tudo o que veem na internet.
Como o eleitor pode saber se uma pesquisa é confiável?
Primeiro, todas as pesquisas que são divulgadas têm de ser registradas no site do TSE. O registro dá transparência ao processo. É possível ver a maneira como a pesquisa está sendo feita, ler o questionário, saber quem é o contratante, verificar o preço que está sendo pago. Há preços lá que são inexequíveis. Impossível fazer uma pesquisa com um custo tão baixo. É claro que metodologia é uma coisa muito técnica, mas só de olhar o eleitor vai ter alguns indícios de como cada instituto está trabalhando. Uma coisa que fica nítida é a diferença de preços entre institutos tradicionais e conhecidos e os outros.
É algo inusual um instituto fazer pesquisa com recursos próprios?
Essa coisa de fazer tudo por conta própria é estranha. Nós já fizemos, mas é raro. Às vezes fazemos porque há algo importante acontecendo e nenhum cliente contrata pesquisa naquele momento. Há casos em que o cliente contratou um calendário e acontece um fato importante no intervalo de duas pesquisas. Aí fazemos uma extra e doamos para o cliente. Mas é estranho fazer várias pesquisas com recursos próprios.
Isso seria um indício de que eles estariam ocultando o contratante, alguém com interesse no resultado da pesquisa?
Há que se deduzir isso. Não se sabe que interesse haveria em um instituto ficar gastando seus recursos com pesquisas. É um indício de algo esquisito. Também se deve prestar atenção nos resultados dos diferentes institutos. As pesquisas mostram uma tendência ao longo do tempo. O fenômeno que está sendo medido por todos é o mesmo, então todos devem mostrar uma tendência semelhante, mesmo que os números não sejam exatamente os mesmos. Se um instituto apresenta resultados muito díspares, é preciso procurar entender a razão. .