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Estado de Minas

Temer defende pacto entre candidatos de centro a Presidente da República

É preciso acordo entre concorrentes com mesmo perfil para indicar um nome, diz presidente


postado em 18/05/2018 06:59

(foto: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
(foto: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

Brasília - Um ano depois da divulgação do áudio gravado pelo empresário Joesley Batista — pivô do maior escândalo do atual governo —, o presidente Michel Temer chama o episódio de “embaraço do dia 17 de maio”, mas diz que, se houve um erro, não foi dele. “O erro foi ele gravar. Recebi inúmeras pessoas no Jaburu e não colocava na agenda. Foi um descuido meu, mas não que tenha sido gesto criminoso, absolutamente não”, disse o emedebista durante entrevista ao Correio Braziliense/Estado de Minas. Ao fazer uma retrospectiva dos dois anos de mandato, Temer tem na ponta da língua avanços na economia por causa de reformas e de repactuações de acordos com estados e municípios, além de medidas como a liberação do FGTS. porém, não conseguir entender os altos índices de impopularidade. Sobre sua candidatura ao Planalto, Temer diz que está “meditando”, mas abre espaço para o debate de um candidato do centro. “Penso que todos os candidatos tinham de abrir mão para firmar um pacto em torno de um só candidato”, afirmou. “Isso significa que precisamos ter um único candidato de centro”, diz.

 

 

Como o senhor quer ser julgado pela história?
Quero ser julgado como alguém que colocou o Brasil nos trilhos, permitiu uma sequência governamental. Lamento não ter conseguido ainda a reforma da Previdência. E também quero ser lembrado como alguém que manteve os critérios democráticos. Há poucos dias, ouvi de um colega de vocês, da imprensa, que via algo incrível. Batiam em mim e ainda assim eu mantinha a liberdade de imprensa. Porque existe uma ordem constitucional, que assim determina. Distinguo as pessoas das instituições, todos vamos passar, as instituições permanecem. Quero ser lembrado como alguém que, apesar das agressões, não respondeu com agressão. Vocês se lembram na Argentina, por exemplo, a ex-presidente tentou fechar empresas… Jamais isso me passou pela cabeça, por mais que do plano pessoal eu considerasse uma injustiça. Prego a reinstitucionalização do país. Estamos fazendo essa integração na segurança pública, por exemplo. Criamos esse ministério porque já tínhamos levado a garantia da lei e da ordem para 11 estados. O BNDES está colocando quase R$ 40 bilhões para estados e municípios brasileiros. Fizemos reuniões dos governadores e prefeitos das capitais, reuniões das empresas. Para pôr todo mundo nessa história da segurança. Porque quando fui secretário, me lembro que criei os conselhos comunitários de segurança, que inclui associações de bairro. Quero ser lembrado assim.

O senhor sente algum tipo de mágoa, se chateia com a alta impopularidade?
Zero mágoa. Vejo naturalmente um critério injusto. Reconheço esta impopularidade derivada de uma campanha  feita contra mim, então, sei lá, tem 6 milhões de pessoas que podem achar que sou boa pessoa, tem 200 que são bombardeados diariamente pelo noticiário. Você vê, não há uma notícia positiva divulgada. Isso não se dá crédito.

"Zero mágoa ( da impopularidade), agora vejo naturalmente um critério injusto. Reconheço esta impopularidade derivada de uma campanha que é feita contra mim"


A divulgação da gravação do Joesley Batista completou um ano. A popularidade piorou desde então?

Naquela data já não tinha muita popularidade, estava muito em alta a pauta da Previdência, e a campanha contra mim era uma coisa feroz. Aquilo não me dava popularidade, mas não me incomodava.

Foi um erro receber o Joesley naquele horário?

Não. O erro foi ele gravar. Recebi gente no Jaburu, inúmeras pessoas. Empresários, gente da imprensa, às vezes ia jantar às 22h30. E não estava na agenda. Não colocava na agenda. Este foi um descuido meu, mas não que tenha sido gesto criminoso, absolutamente. Sobretudo o caso do Batista… Era a quinta vez que procurava audiência comigo e não pude atendê-lo, por razões factuais. Quando ele ligou aqui, tinha uma homenagem para ir. Quando ele mandou ligar, falei para mandar vir naquele momento. Mas não chegou a vir, talvez porque seria detectado por causa do gravador, não sei. Eu disse que só podia 21h, 22h, depois da homenagem ao jornalista Noblat. Mandei dizer que precisava sair e fui na homenagem, depois fui para casa e o esperei lá. Mas fiz isso com ele e mais 200 pessoas.

Se o episódio de Joesley não é o motivo, qual a explicação para a impopularidade?

Não sei. Talvez porque eu não seja um sujeito de gestos populistas. Desde a época da faculdade, da procuradoria… Sempre fui muito discreto. Não sei me portar como se fosse carro alegórico, tem gente que consegue. Eu dificilmente dou lead (informação quente e direta para uma reportagem) porque sou muito explicativo. É aquela mania de explicar tudo. Quando tem uma campanha muito grande contra o governo, as pessoas acham que sou um tirano, deseducado… Aliás, o que falta ao Brasil é educação cívica, certa liturgia, certa cerimônia entre as pessoas. Porque hoje o desprezo pela autoridade é muito grande. Isso é ruim. Nos EUA você não chama ninguém pelo primeiro nome, é mr. Trump, mr. Clinton… Aqui não, é Michel, Dilma… Quando se fala em abuso de autoridade, pensam que alguém ofendeu o presidente da República. Se não perceberem que a única figura que tem autoridade no país é a lei, você não consegue resolver o assunto, a Constituição bem ou mal nasce da soberania popular.

O senhor é candidato?

Ainda estou meditando.

"Quero ser julgado como alguém que passou por aqui, colocou o Brasil nos trilhos. E alguém que manteve os critérios democráticos. Agora, se também lembrar de outra maneira, não tem importância"


O senhor já está meditando há muito tempo, não?

Tenho o que dizer. Quem se opuser ao governo, vai ter que dizer que é contra o teto dos gastos, que é contra a inflação ridícula de 2,8%, porque é a favor de 10,28%; que é contra a redução dos juros de 14,25%, para 6,5% porque quer juros mais elevados; que é contra a recuperação das estatais, a Petrobras, a Caixa Econômica, contra a modernização trabalhista porque “temos que manter a consolidação de 1943”. Vai ter que dizer isso! Não vi ninguém ainda… No caso da reforma da Previdência, estávamos preparados para votar e aconteceu o embaraço em 17 de maio e paralisou tudo. Foi algo estupendo, que paralisou o país. Embora achassem que eu renunciaria, estamos aqui e faz um ano. Não vi ninguém falar, e ninguém cobrar, o que se fará com a Previdência. Porque, embora tenha saído da pauta legislativa, não saiu da pauta política. Só sairá se não cobrarem… Não é possível mais esse disfarce. Quando  formulamos um documento chamado “Ponte para o futuro” era para conciliar com o governo anterior. Quando apresentamos, Levy (Joaquim) era o ministro da Fazenda e até me telefonou dizendo que existiam pontos formidáveis. Mas o governo, não sei porquê, tomou aquilo como gesto de oposição. Quando assumimos, cumprimos quase tudo aquilo que está no projeto. Agora, lançaremos outro,  “encontro com o futuro”.

A divisão de candidatos de centro não pode levar à derrota nas urnas para esse grupo?

O afunilamento se dará no fim de junho, começo de julho. Hoje todos os candidatos percebem que há grande vácuo, todos acham que podem chegar lá. Sou contra os rótulos. Esse negócio de esquerda, direita, isso não existe mais. O que o povo quer é política de resultado, se vem de quem é de esquerda, direita, centro, não importa. Usam-se os rótulos, de qualquer maneira. Seria extremamente útil que tivéssemos um candidato de extrema esquerda, extrema direita e de centro. O eleitor vai escolher em face dos projetos. Agora, se no chamado centro tivermos oito, nove candidatos, ninguém vai chegar lá.

Não sendo o senhor o candidato do governo, quem vai ser?
Meirelles (Henrique) é outra opção, veio para o MDB com esta intenção, até muito adequadamente dizendo que a decisão era minha. Isso dá uma tese da continuidade, não vai mudar o que está hoje, pelo contrário, vai prosseguir. Como disse, não vi nenhum candidato falando que faria a reforma da Previdência, pelo contrário, o que eu vi foi: “Vou destruir tudo que o Temer fez”.

O eleitor está mais pragmático?

O eleitor vai olhar o candidato ou o projeto que interessa a ele. Essa coisa de dizer que o eleitor vota ignorantemente não é mais verdadeiro, ele olha com muito cuidado o que vai fazer.

O senhor acha que dificilmente teremos uma renovação de quadros no Congresso?

Não vejo isso (renovação). São duas coisas distintas. Uma é a eleição do Congresso, outra a história do centro, da disputa ao Planalto. Penso que todos os candidatos de centro tinham que entrar numa tese e dizer que está disposto a abrir mão, num pacto, para ter um candidato. Até porque pode ser que não seja nenhum dos que estão aí, a começar por mim.

Mas quem vai liderar esse pacto?

Comecei a liderar isso, e até o ex-presidente Fernando Henrique esteve comigo em São Paulo, e ele partilha da mesma tese, de que o ideal seria isso. Sinto que ainda não é o momento.

O senhor acha que vai ser quem no segundo turno?
Se eu me pautar pela pesquisa de hoje, será Bolsonaro e Ciro. Ou Marina.

O que isso representa para o país, ter um candidato de extrema-esquerda e outro de extrema-direita?
Que precisamos ter um candidato de centro.

A campanha atrapalha a economia?

O clima eleitoral ou pré-eleitoral atrapalha a economia. O empresário investe se tiver certeza do que vai acontecer, quando começa um clima de insegurança, que convenhamos não é só deste período. Podem pegar as eleições anteriores, onde diziam que se fulano ganhar, iam voltar pra Miami. Esse clima de insegurança se repete e talvez com mais força, isso atrapalha a economia. Mas não ao ponto de paralisar, senão não teríamos tido aumento de 40% na produção automotiva, 77% de venda de caminhões... Essa história do terceiro turno do trabalho que a Fiat e a Toyota fizeram significa mais de 2 mil empregos. Então, a economia não parou. Mas há uma tentativa de paralisá-la.

O senhor identifica algum grupo?

Os candidatos que dizem que vão eliminar tudo que foi feito é uma tentativa de paralisar a economia. Ela cresceu porque fizemos o teto, a reforma trabalhista…

O que o senhor coloca como o ponto alto destes dois anos de governo?

Insisto nas reformas que foram feitas no país. Começando pelo teto de gastos, reforma trabalhista e do ensino médio, recuperação das estatais… Tudo isso resultou na queda da inflação, dos juros. Essa história do emprego também é algo curioso. Sempre se diz que o desemprego não diminuiu. E diminuiu. Em janeiro, houve cerca de 79 mil carteiras assinadas, fevereiro, 69 mil, em março, 59 mil carteiras assinadas. Em 2015, o número ativo de desempregados era de 1,5 milhão. Em 2016, 1,2 milhão. Agora, em 2017, os dados de dezembro, eram menos 20 mil. O IBGE disse que aumentou e não entendi bem aquilo, chamei o pessoal do Ministério do Trabalho e da área econômica e eles me explicaram o seguinte: quando você está muito desalentado e não tem chance de emprego, elas não procuram. Quando surge certo alento, as pessoas procuram. Também não tem emprego para todo mundo, e quando não tem, o IBGE contabiliza como desempregado. É claro que mesmo no cálculo do IBGE caiu o desemprego. O que devemos contar é que temos dois anos de governo, e pegamos uma recessão que vocês conhecem melhor do que eu.

Como assim?
Quando pegamos o país, o PIB era -3,6% (2016). Em 2017, foi +1,1%, portanto, 4,7% de recuperação. Neste ano, fala-se de 2%, 2,5%. Mas de qualquer maneira, uma recuperação fruto das reformas. Isso na economia. Meio ambiente, por exemplo, fizemos a maior reserva marinha que o mundo já conheceu — a que temos hoje equivale a reserva da França e da Alemanha. Veja o que fizemos com a Chapada dos Veadeiros, que aumentamos em 400%. Veja, Alcatrazes, que delimitamos como área ambiental. As multas ambientais transformamos em valores para o meio ambiente no pantanal. Zequinha (Sarney, ex-ministro do Meio Ambiente) fez uma exposição e ele dizia: “Olha, há muito tempo não se fazia isso no Brasil, o desmatamento caiu de 12 a 13%”.

Mesmo os adversários?

Mesmo os adversários, todos os estados. Fizemos 500 mil vagas do ensino em tempo integral, a tendência é chegar em 1 milhão de vagas e prosperar. Quando fui a Davos, fiz um discurso no papel e falei isso, e um dos temas era exatamente esse. Um europeu me falou: “Olha, o senhor não fala isso aqui não, porque aqui na Europa todo mundo tem ensino integral”. Falei, pois é, então estamos perfilhando a tese dos países desenvolvidos.

Então ainda estamos atrasados?

Ainda estamos atrasados. Se eu pegar saúde, por exemplo, primeiro que de fato que o ministro Barros (Ricardo Barros, ex-ministro da Saúde) é um bom gestor, ele economizou milhões de reais, que permitiram a compra de muitas ambulâncias. Vocês vejam, há mais de 7 anos, não se distribuía ambulâncias para o Samu. Distribuímos 300 neste ano, mais 800 no ano passado, e tem mais 1,5 mil para serem entregues neste ano. De igual maneira, mais de 12 mil gabinetes odontológicos. Consertamos certas coisas. Por exemplo, o auxílio-doença. Quando chegamos aqui, mais ou menos há dois anos e meio não se fazia a revisão disso. Fizemos coisas aparentemente triviais, por exemplo, liberar o fundo de garantia (FGTS) das contas inativas. Isso injetou R$ 44 bilhões na economia; e beneficiou 25 milhões de trabalhadores. Agora que liberamos o PIS/PASEP, que reduzimos a idade para você requerer, antes era 70 anos para homem em mulher, agora é 60 anos. Isso já está liberando R$ 4 a 5 bilhões para a economia.

Um tema nas eleições será a corrupção. Tem a investigação no setor de portos, envolvendo a sua filha, inclusive. Como o senhor vai responder a isso?
Desagradável. Vou deixar o Judiciário decidir isso. Não interfiro a competência dos outros poderes. Tomo cautela porque qualquer palavra que eu diga hoje será a do chefe do Executivo dando palpite numa matéria do Judiciário. Deixa ele trabalhar, as pessoas vão se defender como devem.


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