Jornal Estado de Minas

Coluna Baptista Chagas de Almeida


Caminhões param, o Gonzagão canta


Postado ontem em site da Rádio Missioneira: GERAL – COM UMA SEMANA DE GREVE, CAMINHONEIROS SEGUEM FIRMES EM TRÊS PONTOS DE PROTESTO EM SÃO LUIZ GONZAGA (RS), era o título. “Segundo Gilmar Pillon, um dos líderes da greve na cidade, o anúncio do presidente não confere com que a classe pediu. ‘Vamos continuar aqui. Mesmo sem gasolina nos postos, o preço subiu 5% nesta madrugada’, alertou”. Melhor de uma vez passar para o alerta que dá medo.

O manifestante também declarou ser favorável à intervenção militar: “Vocês se sentem representados por esses políticos que aqui estão?”. Acrescentou que a única saída para mudar o Brasil é com os militares. “Seria uma limpeza no Congresso”, acrescentou Gilmar Pillon, um dos líderes dos protestos, repetindo, para deixar bem claro.

O pior, no entanto, ainda estava por vir. O manifestante destacou que o período de 1968 a 1985 não foi uma ditadura, porque teve cinco presidentes, e não apenas um.

“Se fosse um só presidente em 21 anos, aí sim seria uma ditadura. As pessoas distorcem”.

Diante de declarações assim, melhor passar para Luiz Gonzaga, não o santo, o sanfoneiro compositor: “Minha vida é andar por este país. Pra ver se um dia descanso feliz. Guardando as recordações. Das terras onde passei. Andando pelos sertões. E dos amigos que lá deixei.
Chuva e sol. Poeira e carvão. Longe de casa. Sigo o roteiro. Mais uma estação. E a alegria no coração”. Será apropriada essa trilha sonora? Gonzagão explica: “Mar e terra. Inverno e verão.
Mostro o sorriso. Mostro a alegria. Mas eu mesmo não. É a saudade no coração.”

A saudade no coração de Luiz Gonzaga não é, por nada deste mundo, da ditadura militar. Ele até que ficou próximo dela, mas o tiro saiu pela culatra. No governo do general Emílio Garrastazu Médici, Gonzagão foi chamado ao Departamento de Censura da Polícia Federal para ouvir que, dali pra frente, não poderia mais cantar três músicas nos seus shows: Vozes da seca, Paulo Afonso e Asa Branca.

Muito provavelmente, portanto, Gonzagão deve ter cantado para os seus algozes ditadores: “Quando olhei a terra ardendo, qual fogueira de São João, eu perguntei a Deus do céu, ai, por que tamanha judiação”. E provavelmente teve que esperar, segundo ele mesmo, “a chuva cair de novo, pra mim voltar pro meu sertão”.

Tudo parado
Calma gente, nada a ver com a greve dos caminhoneiros. “É mais um descaso do governo com a população. Só no Norte de Minas são mais de 100 ambulâncias encostadas em galpões que estão ficando sucateadas. A destinação desses veículos é de fundamental importância e urgente.” Quem reclama é o deputado Arlen Santiago (PTB).
Ele conta que já enviou ofício ao Ministério da Saúde sobre o caso: “O governo demonstra má vontade no repasse dos veículos cedidos pela União para as prefeituras”.

A propósito:
Quem diria? A greve dos caminhoneiros faz bem à saúde. Basta um registro, o do restaurador de chaminés industriais Mauro Ribeiro da Silva, de 52 anos, “Moro no João Pinheiro e vou ao banco no Coração Eucarístico (ambos na Região Noroeste de BH). Tinha anos que eu não andava de bike. Não tenho nada de gasolina, então esse é o jeito. Ontem (domingo), fui a pé para a igreja”, diz ele. É... Pelo andar da carruagem, o jeito foi rezar mesmo. Ihh! “Andar da carruagem”? Foi sem querer...

Falta respeito
O que de fato faltou mesmo é só um detalhe: a falta de autorização da Assembleia Legislativa (ALMG). Quem reclama é o deputado Gustavo Corrêa (DEM), líder do Bloco Verdade e Coerência, sobre a mudança do nome de Codemig para Codemge. E acrescentou: “Agora acontece o pior.
A Codemge acaba de abrir um edital usando seu nome, oferecendo R$ 500 mil para entidades interessadas em promover eventos culturais. É mais uma falta de respeito com o próprio Tribunal de Contas do Estado (TCE)”. Sendo assim, com a palavra os conselheiros do TCE.

Temer
Mais um levantamento mostra a baixa popularidade do presidente Michel Temer (MDB) e a insatisfação do eleitorado com o seu governo. Segundo a Paraná Pesquisas, 71,2% dos eleitores consideram ruim ou péssima a administração do emedebista, contra apenas 6% que a avaliam como ótima ou boa. Para 21,2%, não passa de regular. No geral, 82,3% desaprovam a gestão Temer. Detalhe: a pesquisa foi realizada entre 18 e 23 de maio, portanto, inclui os primeiros dias da greve dos caminhoneiros.

PINGAFOGO

Já que citamos o ex-ministro Henrique Meirelles (MDB), óbvio que ele falou do protesto dos caminhoneiros. Só que para subir no palanque: “É muito importante que nós reforcemos a estrutura de transportes no país.”

Melhor deixar ainda mais claro sobre o reforço de transportes de Meirelles: “É necessário investimento em infraestrutura, onde o Brasil conta com a vantagem de haver uma demanda firme para isso”. Uai, só agora? Quando era ministro não precisava?

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) continua inconformado de Luciano Huck não ter topado disputar as eleições, mas não desiste de seus pitacos: “Acho que precisa do novo”. Cadê o novo? Como é que faz?

Se FHC acrescenta que “quem não tem cão caça com gato”, deve pensar que Geraldo Alckmin (PSDB) é o “gato”? Uai, será que ele trata como um gato de luz, ou acha que Alckmin é um gato?

Um último detalhe: sem ter que trabalhar, minha mulher saiu com meu neto. E foi às compras. O detalhe é que ela comprou uma carreta de transporte de carrinhos de brinquedo. Detalhe: foi ele que escolheu, não foi sugestão dela por causa da greve.

 

.