São Paulo - O presidente Michel Temer precisa aceitar que, para conseguir terminar o mandato, deve se retirar do processo eleitoral. A análise é do cientista político e professor de filosofia da Unicamp, Marcos Nobre. "Tem que aceitar que é Sarney, que não vai ter nenhuma influência na sua própria sucessão".
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Em 2013 não tinha recessão, mas tinha uma desconexão clara entre o sistema político e a sociedade. Agora, em 2018, é como um segundo momento de 2013, com uma revolta que é, finalmente, econômica. É pelos 46 centavos, sim. Prometeram mundos e fundos (no impeachment) e as coisas pioraram.
E os pedidos de intervenção militar?
O sistema político não conseguiu entender até agora o que aconteceu em 2013. À medida que vai se fechando, vai se abrindo caminho para a extrema direita, porque ela aparece como o novo, como o que é contra o sistema. É de se esperar que uma parcela da população seja atraída por esse autoritarismo. O que não é de se esperar é que se torne majoritária. Então, a democracia só corre perigo se o mundo político continuar nesse processo de blindagem contra a sociedade.
A eleição pode mudar isso?
Não, esse é o problema.
Qual o peso dessa greve para o governo Temer?
A sociedade está dizendo: sabemos que seu governo está em coma, cabe ao senhor (Temer) decidir se vamos desligar os aparelhos ou não. Ou seja, não completar o mandato. O governo Temer fez um acordo fantasma, o Rodrigo Maia fez uma "patetada" legislativa e o Eunício Oliveira se retirou, no auge da crise. Em algum momento, esse sistema político vai ter que fazer acordo de estabilidade mínima para Temer chegar ao final do mandato. Vão ter que emprestar coordenação política, quadros.
Como seria esse acordo?
O primeiro ponto importante é que Temer precisa se retirar do processo eleitoral. Tem que aceitar que é Sarney, que não vai ter nenhuma influência na sua própria sucessão. Dois: Temer tem que se retirar do processo legislativo. Ele é uma das maiores fontes de instabilidade e quer ser relevante, aí acaba atrapalhando as alianças na centro-direita. Terceiro: ele precisa aceitar uma intervenção do sistema político.
Qual vai ser o legado de Temer e quem vai fazer essa defesa?
Ninguém. É igual 1989, que ninguém podia defender o governo Sarney. Na época, o PMDB (hoje MDB) cometeu o erro de lançar um candidato que dizia que seu governo não era o seu governo. Quanto ele teve? 4%. E ele se chamava Ulysses Guimarães, não Henrique Meirelles. A questão é: em que momento esse governo vai se retirar do processo eleitoral, para que a centro-direita se organize? Em todas as eleições, a essa altura, todos os palanques já estavam montados.
Mas o MDB ainda é o maior partido brasileiro...
Ah, sim, são coisas diferentes. O MDB só não pode aparecer como parceiro do governo Temer, senão acaba com a vida dos prefeitos, deputados estaduais, vereadores. Vão ter que grudar no candidato ao governo ou ao Planalto. Vai ser a fita isolante.
O que o sr. chama de peemedebização do poder acabou?
O peemedebismo não tem a ver com o partido MDB (ou o antigo PMDB). Todas as vezes que usei a expressão no livro (Imobilismo em Movimento, de 2013) disse que criei a expressão em homenagem ao partido, que é líder da venda de apoio parlamentar. A lógica é a seguinte: há dois polos com capacidade de coordenar o governo, no caso foram PT e PSDB, e no meio, o peemedebismo (hoje emedebismo). Você pode continuar com o mesmo modelo, mas muda a sigla.
Quem são os candidatos e partidos que seguem essa linha?
O DEM e o PP, com Rodrigo Maia e Ciro Nogueira, são os grandes candidatos. A questão é a seguinte: eles são grandes, mas os outros não necessariamente vão acompanhar.