São Paulo - A um mês e meio do início das convenções partidárias que vão definir os candidatos ao Palácio do Planalto, o cenário eleitoral começa a indicar uma depuração dos 17 nomes que se apresentaram até agora como pré-candidatos. Na avaliação de especialistas e líderes políticos, as articulações que vão levar a um "filtro" das pré-candidaturas serão intensificadas até agosto.
O temor de uma eleição polarizada entre um nome da esquerda e o deputado Jair Bolsonaro (PSL-RJ) motivou um grupo de parlamentares e líderes de vários partidos a lançar hoje na Câmara o "Manifesto do polo democrático", movimento que vai tentar unificar o "centro" em torno de uma candidatura.
Na esquerda, a deputada estadual Manuela D'Ávila (PCdoB) admitiu nesta segunda-feira, 4, abrir mão de sua pré-candidatura à Presidência. Pela primeira vez um dos presidenciáveis deste campo político fez uma declaração explícita a favor de uma união dos partidos já no primeiro turno da eleição presidencial.
"Nós já fizemos o gesto. Se eu não for candidata, os outros três se entendem para nós estarmos unidos? A unidade da esquerda representa isto: nós estaremos todos unidos em uma única candidatura? Os outros três têm essa disposição? Eu não sou óbice", disse a deputada gaúcha ao Estadão/Broadcast.
O objetivo, segundo fontes do PCdoB, é "chamar o PT à razão" de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado e preso na Operação Lava Jato, terá a candidatura barrada pela Lei Ficha Limpa e dificilmente deixará a prisão até a eleição. Lula foi sentenciado em segunda instância a 12 anos e 1 mês por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
Na análise do cientista político Marco Antonio Teixeira, professor do departamento de gestão pública da FGV-SP, a tendência é de que as pré-candidaturas de centro-esquerda e esquerda se afunilem mais rapidamente na comparação com o campo do centro. "É possível que PDT, PSB e PCdoB se acertem antes do primeiro turno e fortaleçam a campanha de Ciro Gomes", afirmou.
Reservadamente, deputados e líderes partidários dizem que depois da Copa do Mundo o debate deve avançar para a escolhas de nomes que devem compor a chapa nos dois campos. Os partidos que indicarem os candidatos a presidente e a vice terão que sacrificar projetos estaduais em nome da unidade. "O processo vai se afunilar. Haverá uma diminuição no número de candidatos", disse o presidente do PPS, Roberto Freire.
Critério
O autointitulado "polo democrático" é formado por parlamentares do PSDB, DEM, PPS, PSD, PTB e PV e intelectuais. Um dos critérios para a união em torno de um candidato único é a avaliação das pesquisas de intenção de voto. A sigla tucana, porém, não aceita que este seja o único.
"Esse não é um movimento de avaliação de pesquisas, de ver quem está melhor. Se fosse nortear por pesquisa, não precisava de carta. É uma mobilização que tem como pano de fundo a ideia de alertar o risco que corre o País de ter um rumo de radicalismo muito à esquerda ou muito à direita", disse o deputado Silvio Torres (SP), secretário-geral do PSDB.
Entre os signatários do manifesto que será lançado hoje está o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
Segundo o deputado Marcus Pestana (MG), secretário-geral do PSDB, a ideia é iniciar conversas a partir desta quarta-feira, 6, com oito pré-candidatos: Geraldo Alckmin (PSDB), Henrique Meirelles (MDB), Alvaro Dias (Podemos), Flávio Rocha (PRB), Rodrigo Maia (DEM), Paulo Rabello de Castro (PSC), Josué Gomes - nome que passou a ser cogitado pelo PR - e até Marina Silva (Rede).
O movimento surge no momento em que PR, DEM, PRB e PP se articulam para negociar em bloco uma posição no tabuleiro eleitoral. Segundo informou a Coluna do Estadão, o nome do empresário mineiro Josué Gomes desponta como favorito à frente de Maia e Rocha.
"A convergência pode acontecer antes das convenções ou ao longo do primeiro turno. A gente pode ficar fora do segundo turno se houver dispersão, como ocorreu em 1989. O risco é real", disse Pestana. "Esse campo está engarrafado. Vamos tentar chegar a um consenso", completou o deputado Heráclito Fortes (DEM-PI), um dos organizadores do manifesto. O documento conta até 30 assinaturas.
No processo de filtro do cenário eleitoral, já há, porém, candidaturas consolidadas, como a da ex-ministra Marina Silva, da Rede. "Participar de conversas é ótimo e democrático, mas não há cogitação de Marina não ser candidata à Presidência. Estamos dispostos a enfrentar a campanha sozinhos se for o caso", disse o deputado Miro Teixeira (Rede-RJ).