Brasília - O plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) derrubou, por unanimidade, trechos da reforma eleitoral de 2009 que impediam as emissoras de rádio e televisão de fazer trucagem, montagem ou sátiras com candidatos durante o período eleitoral. Esses dispositivos estavam suspensos liminarmente pelo plenário da Corte desde setembro de 2010.
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Memes sobre Lula fazem sucesso nas redes sociaisJuíza usa memes com animais para dar lições de direito penal no TwitterMemes contra o caos: brasileiros lidam com a crise com criatividadeEspecialistas levantam dúvidas sobre a capacidade da Justiça em fiscalizar doações de campanhaO consenso entre os integrantes da Corte é de que a lei, que restringe a atividade humorística nos três meses que antecedem as eleições, fere a liberdade de expressão e o direito à informação.
Presidente da Suprema Corte, Cármen Lúcia formou o 11º e último voto para derrubar os dispositivos. Para a ministra, o que se pretendeu na lei foi impedir, a possibilidade de questionamentos ou contestações por meio do humor.
"Aprendi que liberdade é expressão, o que não se pode expressar é carente de liberdade. Censura é a mordaça da liberdade, quem gosta de censura é ditador", disse a ministra. "A crítica ácida mantém-nos alertas para as possibilidades de aperfeiçoamento", continuou Cármen.
O decano da Corte, que votou na sessão de hoje, fez um voto contundente em defesa da liberdade de expressão e do humor. "Não há pessoas nem sociedades livres sem liberdade de expressão, comunicação, informações e criação artística, mostrando-se inaceitável qualquer deliberação estatal cuja implantação, execução, importe no controle do pensamento crítico", disse Celso.
Para o ministro, o humor e o riso assumem relevante importância na democracia, porque constituem "papel de poderoso instrumento de reação popular". "O humor como causa e o riso como consequência, notadamente como corrosivo, são instrumentos de desconstrução de ordem autoritária impregnada de corrupção", afirmou o decano.
Na sessão de ontem, o ministro Alexandre de Moraes, relator da ação, afirmou que a lei traz o "traço marcante da censura prévia, com seu caráter preventivo e abstrato".
No entendimento do ministro, quem não quer ser criticado ou satirizado deve ficar em casa. "Não seja candidato, não se ofereça ao público, não se ofereça para exercer cargos políticos, essa é uma regra que existe desde que o mundo é mundo", frisou.
Ao votar nesta quarta, o ministro Lewandowski destacou que a prática da democracia é "indissolúvel" à liberdade de expressão e necessariamente associada ao pluralismo de ideias e de visão de mundo.
Gilmar Mendes, que também votou por derrubar as proibições, aproveitou o momento para criticar as fake news. "Nós temos casos de notícias fraudulentas que prejudicaram candidatura. Tudo isso pode ocorrer no processo eleitoral e exige de nós um escrutínio muito severo", disse.
"Muitas reprodutoras de televisão nos Estados estão em mãos de famílias de políticos. Cada político tem um direcionamento, e pode ocorrer algum abuso. Nada exclui essa possibilidade, ou que uma orientação editorial leve a fazer um noticiário massivamente contra um determinado candidato.
O presidente do Superior Tribunal Eleitoral (TSE), ministro Luiz Fux, afirmou hoje que as disputas eleitorais exigem maior apreço da liberdade de expressão e pensamento, "cenário que recomenda uma intervenção minimalista do poder judiciário nas manifestações próprias do debate eleitoral". Próxima presidente do TSE, a ministra Rosa Weber destacou ontem que "processo eleitoral não é Estado de sítio".
"Se podem as emissoras de rádio, fora do período eleitoral, produzir e veicular charges, sátiras e programas humorísticos que envolvam partidos políticos, pré-candidatos e autoridades em geral, também podem fazê-lo no processo eleitoral", concluiu a ministra, que assume o comando do TSE em meados de agosto.
Em seu voto, o ministro Luís Roberto Barroso afirmou que a liberdade de expressão deve ter posição preferencial, porque o Brasil tem em seu passado "uma história de desrespeito à liberdade de expressão" e porque a livre circulação de ideias, informações e opiniões é "pressuposto para o exercício de muitos outros direitos fundamentais".
"A liberdade de expressão é um pressuposto da democracia, não é garantia de verdade, não é garantia de justiça. E também concordo com ministro Alexandre de Moraes: quem se dispõe a vir para espaço público tem que aceitar com uma certa resignação a crítica construtiva, destrutiva, bem informada, desinformada de democracia, de quem tem interesses bem afetados", observou Barroso, que será vice-presidente do TSE durante as eleições.
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