Jornal Estado de Minas

Abstenção alta em eleições suplementares indica desânimo do eleitor

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A tendência do crescimento do não comparecimento do eleitor às urnas foi reiterada nesse fim de semana, quando em sete municípios brasileiros, três deles em Minas, e no estado do Tocantins foram realizadas eleições suplementares. Além de um clima de negação da política, o desalento do eleitor com o grande volume de eleições suplementares – só este ano já foram 33 – que decorrem da cassação dos escolhidos em pleitos já realizados e mudanças de interpretação da aplicação da legislação pelo Poder Judiciário, também têm levado ao aumento generalizado de votos brancos e nulos. O resultado é a mais baixa participação e aproveitamento de votos já registrados na história: no segundo turno do pleito de Tocantins, brancos, nulos e abstenções, somaram 51,83% do eleitorado – 527.868 votos –, 43,2% a mais do que obteve o candidato eleito Mauro Carlesse (PHS), para o mandato-tampão de seis meses.

Das nove eleições suplementares que ocorreram este ano em cidades mineiras, todas registraram crescimento de votos brancos, nulos e abstenção em relação às eleições de 2016. Em Timóteo, Santa Luzia e Itanhomi, que neste fim de semana retornaram às urnas, brancos, nulos e abstenção saltaram em Timóteo de 25,74% do colégio eleitoral para 37,28%; em Santa Luzia de 32,73% para 35,04% e, em Itanhomi de 21,27% para 29,34%. Entre todas elas, Ipatinga registrou o menor aproveitamento de votos: apenas 53% do colégio eleitoral de 180.222 escolherem um nome para governar a cidade; e 47% se somaram ao contingente eleitoral de 84.712 de brancos, nulos e abstenções, 2,4 vezes superior aos votos conferidos a Nardyello Rocha (MDB). Nas eleições de 2016, brancos, nulos e abstenção em Ipatinga não passaram de 30,43%, - proporção que em ano e oito meses depois, cresceu 54%.

Também na cidade de Guanhães, entre as eleições de 2016 e o pleito suplementar de 3 de junho, a não participação – expressa no não comparecimento do eleitor e também na opção pelo voto nulo ou branco – saltou de 37% para 40,3%. Em Pocrane, cresceu de 21,6% para 29% e, em Ibituruna, de 16,25% para 20,16%.

O desalento e a frustração do eleitor face à anulação de eleições finalizadas, expresso no aumento da não participação, foram registrados na série de 113 pleitos suplementares realizados entre 2013 e 2015, analisados pelo cientista político Bruno Souza Garcia, em sua dissertação “Eleições Suplementares para Prefeito: do perfil socioeconômico dos municípios ao comportamento eleitoral e partidário”. Em 93,8% das disputas, houve aumento da abstenção, principalmente nas cidades de médio e grande porte, sendo que, em mais da metade delas, o crescimento foi superior a 30%.

Nas eleições de 2016, a impugnação de registro de candidatos que obtiveram mais da metade dos votos válidos gerou, nas cidades de Santa Cruz de Salinas e de Campo Azul, ambas no Norte de Minas, grande frustração: só foram considerados 28,05% e 36,25% das preferências indicadas nas urnas.
Anulado o pleito, de volta às urnas no último 4 de março: brancos, nulos e abstenção alcançaram, nesta ordem, 32,8% e 19,79% do colégio eleitoral.

Já em Cabo Frio, no domingo passado, o eleitorado também teve de lidar com a mesma frustração: dois registros de candidaturas foram indeferidos e receberam 24% das preferências. A eleição só não foi anulada porque não representavam a maioria dos votos válidos. Lá, entre aqueles que não compareceram e os votos brancos, nulos ou perdidos, foram 94.812, o que representou 2,7 vezes a mais do que obteve o candidato vencedor, dr. Adriano, pela coligação Rede e PCdoB.

 

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