São Paulo, 01 - Um dos principais conselheiros do ex-ministro Ciro Gomes, pré-candidato do PDT ao Palácio do Planalto, o filósofo Mangabeira Unger, professor de direito na Universidade de Harvard, disse que o DEM deve ser visto como um parceiro prioritário na eleição presidencial. Ex-ministro de Luiz Inácio Lula da Silva - atualmente preso e condenado na Lava Jato - e da presidente cassada Dilma Rousseff, ele também cobrou, em entrevista ao jornal O Estado de São Paulo, o apoio do PT ao pedetista.
Ciro Gomes se oferece como alternativa ao lulismo, mas busca um vice-presidente ligado ao setor produtivo da região Sudeste e conversa com partidos de centro-direita, como o DEM e o PP. A candidatura de Ciro é, afinal, de centro-esquerda, de centro ou de centro-direita?
A candidatura do Ciro Gomes deve ter dois lados. De um lado, é uma candidatura de centro-esquerda, que prioriza as alianças com partidos desse campo, a começar pelo PSB e PCdoB. O outro lado: a candidatura de Ciro não deve ser vista apenas como de centro-esquerda. Ela deve se oferecer também como agente social mais importante do Brasil de hoje, que são os emergentes. Quem são eles? Em primeiro lugar, é uma pequena burguesia empreendedora mestiça e morena que luta para abrir e manter pequenos negócios. Em segundo lugar, é uma massa de trabalhadores ainda pobres, mas que mantém dois ou três empregos.
Quais partidos?
Por exemplo, o DEM. Não vejo o Democratas como direita ou centro-direita. Eles são o partido dos empreendedores regionais. Têm raízes nessa estrutura produtiva descentralizada do País. Pelo contrário, o PSDB, que muitas vezes é visto como um partido à esquerda do Democratas, me parece estar à direita do DEM. Está comprometido com o receituário tradicional do chamado Consenso de Washington.
Ciro Gomes já afirmou que, se eleito, revogaria a reforma trabalhista, chamada por ele de porcaria. Um dos cotados para vice, Benjamin Steinbruch, é vice-presidente (licenciado) da Fiesp, que apoiou a reforma trabalhista. Não há uma contradição?
Precisamos construir uma candidatura que não seja apenas de centro-esquerda, mas seja também uma candidatura com um projeto produtivista que conquiste os emergentes. Uma candidatura desse tipo precisa incorporar os empreendedores A conta foi invertida.
É o caso de revogar a reforma?
A reforma como foi feita é um exemplo típico do formulário neoliberal. Não serve. Mas reconheço que a CLT é insuficiente para reger esse novo mundo de práticas produtivas.
Por que Ciro Gomes ainda assusta o mercado?
O que há de mais legítimo nas preocupações do mercado financeiro é o realismo fiscal. Ninguém que esteja atuando no primeiro plano da política brasileira demonstrou mais compromisso com o realismo fiscal que o Ciro.
Há uma tentativa de partidos do centro de unificar as candidaturas. Acredita que pode sair daí um nome competitivo?
Não sei se essas forças tradicionais vão ou não arrumar uma candidatura plausível. Por enquanto, não o fizeram. O que vejo é que temos uma grande obra de transformação institucional no País. A última grande obra institucional no Brasil é a de Getúlio Vargas, e nós ainda vivemos em meio aos destroços do corporativismo do Vargas. O PSDB, que muitas vezes é visto como um partido à esquerda do Democratas, me parece estar à direita do DEM. Lula deu muitos benefícios ao povo brasileiro, mas não deixou um legado institucional.
Como a esquerda está fragmentada, acha que é importante para Ciro buscar aliança com o PT?
Não vejo a esquerda tão fragmentada assim. Há uma tendência de uma aliança com PSB e PCdoB. E, do outro lado, uma abertura para os partidos do centro, especialmente o DEM. Quanto ao PT, espero que supere a tradição de hegemonismo e desempenhe sua responsabilidade histórica. E que nos ajude. Em muitas eleições essas mesmas forças se juntaram para apoiar o candidato do PT. Agora, estamos em outro momento. A conta foi invertida.
O Estado de S. Paulo.
(Pedro Venceslau).