A peregrinação pelo apoio do ex-deputado do PR Valdemar Costa Neto aumentou na semana que antecede o início das convenções partidárias. Envolvido em escândalos no passado, Costa Neto é visto como um líder entre os colegas políticos. Informalmente, exerce o comando da legenda. Nestas eleições, presidenciáveis tentam uma possível aliança com o partido, que viria atrelada a mais um minuto e meio de tempo de televisão, reforço político e econômico nos estados e apoio nas bancadas do Congresso.
A fim de tentar definir o futuro da legenda ainda nesta semana, Costa Neto se reunirá hoje com o candidato a governador do Distrito Federal Jofran Frejat (PR) e com lideranças do centrão durante o recesso parlamentar. Com uma bancada de peso no Nordeste, principalmente na Bahia e no Ceará, o partido chama a atenção entre os postulantes à Presidência, que terão palanques prontos durante o período eleitoral.
Para o cientista político Thiago Vidal, contudo, a decisão final pode causar um desconforto dentro da legenda, que é dividida entre parlamentares mais de esquerda, de direita e, sobretudo, os evangélicos, que têm peso para mobilizar nanicos a seguirem na mesma direção. “É o caso do PRB, que não deve optar pelo mesmo caminho do PR, porque não gostaria de dividir o espaço político. São de vertentes diferentes e isso travaria um embate. Mesmo não havendo um alinhamento do partido, devem manter harmonia”, analisa.
Atualmente, Costa Neto é apenas um funcionário do PR. Neste momento, segundo a assessoria do partido, sequer é filiado à legenda. Em dezembro de 2013, foi condenado a sete anos e 10 meses por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no mensalão. Depois de quase um ano em reclusão, passou a cumprir prisão domiciliar. No entanto, em maio de 2016 foi solto depois do ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal, conceder perdão da pena e determinou a expedição de alvará de soltura.
Embora não seja candidato nesta disputa eleitoral, Costa Neto ainda é cortejado por conhecer as estruturas do poder. Segundo o analista político Creomar de Souza, o ex-deputado sabe como a máquina funciona, característica atrativa em um ano decisivo. “Por isso fazem fila para dialogar com ele e entender o rumo que a política está tomando. Tentam antecipar esse movimento e garantir a sobrevivência”, pontua.
Souza afirma ainda que esse é um fenômeno característico da democracia, em que as legendas têm “donos” que não necessariamente possuem mandatos. Souza explica que, assim como José Dirceu se tornou uma figura importante no PT, Costa Neto é dos partidos de centro, sobretudo do PR. “Desde a Lava-Jato, o panorama da classe política mudou. Esse processo fez com que todas as decisões tomadas nos últimos anos focassem nas prerrogativas e privilégios de um mandato. E isso não mudou.”
Segundo o diretor de documentação do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), Antonio Augusto de Queiroz, Costa Neto exerce tanta liderança e domínio sobre a bancada que nenhum parlamentar toma uma decisão sem antes consultá-lo. “Ele cumpre esse papel desde a primeira eleição de Luiz Inácio Lula da Silva a presidente, quando negociou apoio integral do partido ao PT”, acrescentou.
O especialista afirma que o PR vai levantar todos os cenários possíveis antes para ter a certeza de que está apoiando uma candidatura vitoriosa. “Se tiverem indicações de que Bolsonaro não ganhará a eleição, migrarão para o candidato que será mais interessante. O partido tem elasticidade, mas tem mais facilidade em seguir com o PT, porque já fez uma aliança que foi boa para o partido”, conclui.
Atuação em favor de empreiteira
A procuradora-geral da República (PGR), Raquel Dodge, informou ao STF que vê indícios de que o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) atuou em favor da construtora OAS. O MP entende que uma medida provisória que tramitou no Congresso beneficiou a empresa. O processo segue em segredo de Justiça.
De acordo com as investigações, Lindbergh recebeu cerca de R$ 700 mil em propina entre 2013 e 2014 para defender a proposta. A MP 600/2012 foi enviada ao Legislativo pela ex-presidente Dilma Rousseff e tratou da simplificação de licitação para obras em aeroportos, além da ampliação de crédito liberado por bancos públicos. Quando a MP foi enviada ao Senado, Lindbergh ocupava a presidência da Comissão de Assuntos Econômicos.
Procurado pela reportagem, o senador não retornou as ligações. Enquanto isso, a Polícia Federal abriu inquérito para investigar o ex-ministro José Dirceu sobre lavagem de dinheiro a partir de envio de propina para conta na Espanha. A defesa de Dirceu não foi encontrada pela reportagem.