A união entre o PSDB e o Centrão — bloco formado por DEM, PP, PR, PRB e Solidariedade — deve garantir preciosos minutos a Geraldo Alckmin no horário eleitoral no rádio e na televisão, mas não palanques. Desde as costuras para a formação da aliança, os tucanos foram alertados sobre a autonomia das campanhas estaduais. Em pelo menos metade das 27 unidades da Federação, é possível que a coligação em âmbito federal dê espaço para disputas entre candidatos apoiados pelos tucanos ou por políticos do blocão. O impacto disso pode limitar e enfraquecer os palanques de Alckmin nos estados.
Minas Gerais, Goiás e Santa Catarina são alguns dos exemplos da fragmentação. Nos três estados, há uma disputa entre candidatos a governador do PSDB e do DEM. Em Minas, o senador tucano Antonio Anastasia concorre contra o deputado Rodrigo Pacheco (DEM). Em Goiás, a rivalidade é entre o atual governador, José Eliton (PSDB), e o senador Ronaldo Caiado (DEM). Em Santa Catarina, o senador Paulo Bauer (PSDB) disputa com o deputado João Paulo Kleinübing (DEM).
Mesmo em São Paulo, reduto eleitoral de Alckmin, a aliança nacional também se mostra dividida. O PR prometeu apoio ao PSB, do governador Márcio França, enquanto o candidato tucano, João Doria, conta com o apoio de DEM, PP e PRB. Também é possível observar o esfacelamento entre preferências de parlamentares por outros presidenciáveis.
Boa parte da bancada do PR no Congresso prefere o apoio a Jair Bolsonaro, do PSL, do que Alckmin. A exemplo do senador Magno Malta (ES), vice-líder da legenda na Casa, que foi cotado a ser vice na chapa com o presidenciável. O efeito prático disso pode ser a ausência de parlamentares nos palanques com o tucano.
Entraves
A fragmentação da aliança nos estados é disseminada entre as regiões. Mas o Nordeste promete ser o verdadeiro problema para os tucanos. O cenário traçado na maioria dos estados aponta para apoio de partidos do Centrão ao PT, do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ou ao PDT, de Ciro Gomes, ou ao PCdoB, de Manuela D’Ávila, no Maranhão.
Na Bahia, por exemplo, PP e PR vão apoiar o governador petista, Rui Costa, à reeleição. O líder do PR na Câmara, deputado José Rocha, é filiado à legenda no estado e reconhece a falta de sintonia do Centrão nas campanhas estaduais, mas não acredita que a campanha de Alckmin sofrerá grandes turbulências. “O impacto não é muito grande. Onde não tiver o apoio de todos os cinco partidos do Centrão, terá entre dois e quatro”, sustentou.
Para garantir maior presença no Nordeste, o PSDB almeja lançar uma candidatura em Pernambuco, para se somar à do Ceará, do pré-candidato general Guilherme Teophilo. A ideia seria abandonar a candidatura do senador Armando Monteiro (PTB), diz o deputado Betinho Gomes (PSDB-PE), primeiro vice-líder da legenda na Câmara. “Havia uma sinalização de Armando apoiar Lula e isso deixou o PSDB um pouco constrangido. Mas ele já fez movimentos ao contrário, de que pode apoiar Geraldo. Vamos ver como a equação fica. Não tem rompimento, mas há um desconforto neste instante”, afirmou.
A fragmentação entre PSDB e o Centrão nos estados, no entanto, não incomoda Gomes. Para ele, os minutos na propaganda eleitoral gratuita que a aliança a nível nacional garantirão serão suficientes para desconstruir a narrativa da esquerda e emplacar as propostas tucanas para o país. “Com isso, conseguiremos confrontar o PT no Nordeste e criar musculatura para a campanha de Geraldo. O eleitor gosta de candidatos fortes. Se os partidos do Centrão perceberem um crescimento nosso, ainda haverá a possibilidade de darem meia-volta e nos apoiar”, ponderou o primeiro vice-líder tucano.
O esfacelamento da união nos estados, por sua vez, não é de todo ruim. Pode evitar que a campanha tucana, já composta de caciques investigados por corrupção, se desgaste ainda mais caso se envolva com algum candidato enrolado na Lava-Jato. Na balança eleitoral do Centrão, no entanto, são fatores como esses que podem colocar em xeque a capacidade dos minutos de televisão em alavancar a campanha tucana, adverte o cientista político Paulo Calmon, professor da Universidade de Brasília (UnB). “A população vive um momento único na história recente do país no que tange ao sistema eleitoral e aos políticos. Teremos uma eleição com características próprias. Achar que o mecanismo da propaganda eleitoral terá esse poder todo é um pretexto forte”, ponderou.