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Estado de Minas

Em entrevista ao programa Roda Viva, Bolsonaro ignora escravidão e golpe

"Que dívida é essa, meu Deus do céu. Um negro não é melhor do que eu, nem eu sou melhor do que ele. Por que cotas?", indagou o candidato


postado em 31/07/2018 06:00 / atualizado em 31/07/2018 07:31

Jair Bolsonaro disse que a política de cotas no país precisa ser revista(foto: TV CULTURA/REPRODUÇÃO)
Jair Bolsonaro disse que a política de cotas no país precisa ser revista (foto: TV CULTURA/REPRODUÇÃO)

O Brasil não tem dívida histórica com a escravidão. Essa foi uma das opiniões manifestadas  pelo candidato à Presidência da República Jair Bolsonaro (PSL), durante o programa de entrevistas Roda Viva, da TV Cultura, quando questionado se seria favorável à manutenção da ação afirmativa de cotas raciais nas universidades. Segundo Bolsonaro, os portugueses não pisavam na África e “eram os próprios negros que entregavam os escravos”. Ele afirmou: “Que dívida é essa, meu Deus do céu. Um negro não é melhor do que eu, nem eu sou melhor do que ele. Por que cotas?”, indagou, assinalando que terminar com a política de cotas dependeria do Congresso Nacional, mas que ele proporia a diminuição dos percentuais.

Não foram poucos os “equívocos” e as distorções de fatos históricos citados por Bolsonaro para voltar a defender pessoas como o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, ex-chefe do Doi-Codi do II Exército (1970-1974), um dos órgãos que operou na repressão política durante a ditadura militar (1964-1985). Em 2008, Ustra se tornou o primeiro militar condenado pela prática de tortura e, embora reformado, continuou politicamente ativo nos clubes militares, em defesa da ditadura. “De acordo com a nossa Constituição, ninguém poderá ser declarado culpado sem sentença transitado em julgado, o que não aconteceu com Ustra”, disse Bolsonaro. Segundo ele, o mundo vivia a guerra fria e as pessoas “pendiam” para um lado ou para outro. “Esses que se diziam torturados o faziam para conseguir indenizações, votos, piedade, poder. Só se ouve um lado da história, outro não. Se tivéssemos perdido, hoje o Brasil seria uma Cuba”, afirmou.

Indagado se abriria, caso se eleito, os arquivos da ditadura em posse das Forças Armadas, Bolsonaro disparou: “Não tem mais arquivo nenhum da ditadura. A Lei da Anistia sepultou. Essa é uma ferida que tem de ser cicatrizada. É daqui pra frente”, disse, desconversando sobre a necessidade de se conhecer a história. “Não vou abrir nada, os papéis já sumiram”, afirmou. “Os papéis têm prazo de validade nas Forças Armadas”, acrescentou. Em seguida, ele criticou a ex-presidente Dilma Rousseff (PT): “Onde Dilma esteve na semana passada? Representando o Foro de São Paulo em Cuba. Acha que ela lutou pela democracia? O primeiro marido dela sequestrou avião e foi pra Cuba.”

Em sua leitura muito particular da história, o candidato disse que em 1964 não houve golpe de estado com a participação militar, civil, empresarial e do capital multinacional. “Golpe é quando mete o pé na porta e tira o cidadão lá”, afirmou, dizendo que João Goulart teria deixado o governo, quando, na verdade, Jango estava no Rio Grande do Sul em busca de apoio de aliados, já que estava na iminência de ser detido pelos articuladores do golpe. Aliás, esse foi o argumento utilizado pelo senador Auro de Moura Andrade para, em 2 de abril de 1964, destitui-lo do cargo, abrindo caminho para a instalação do regime militar e a posse do marechal Castelo Branco na Presidência.

Entre as declarações polêmicas, o candidato confirmou, ao responder pergunta elaborada pelo jurista José Gregori,  ter declarado na tribuna da Câmara dos Deputados que um dos maiores erros daquela que ele chama de “Revolução de 64” foi não ter “mandado fuzilar Fernando Henrique Cardoso”. Segundo Bolsonaro, a imunidade parlamentar lhe dá garantia de dizer o que bem entender. Ele negou ter sugerido também o fuzilamento de Gregori, alegando que ele não seria uma pessoa importante, portanto, não “mereceria” a sua atenção.


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