A corrida dos presidenciáveis em busca de um vice para as eleições expõe o debate acerca da utilidade do cargo no Brasil. Na reta final das convenções partidárias e a dois meses do pleito, Jair Bolsonaro (PSL), Ciro Gomes (PDT), Henrique Meirelles (MDB), Geraldo Alckmin (PSDB) e Marina Silva (Rede) não indicaram um nome. Apesar do papel importante ocupado por três vices em cinco eleições na história do país, inclusive antes e depois da ditadura militar, a função sempre foi posta em xeque por historiadores e cientistas políticos. Especialistas questionam o custo deles em âmbito nacional, estadual e municipal e acreditam que as relações turbulentas ameaçam o processo democrático brasileiro.
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Vice está entre Janaína, príncipe e deputado mineiro, diz BolsonaroCotada para vice, Ana Amélia diz não querer dar 'passo maior que a perna'Após ser citado como possível vice, Marcos Palmeira diz que 'não é o momento'O historiador Antônio Barbosa, da Universidade de Brasília (UnB), explica que poucos presidentes mantiveram boas relações com os vices, como foi com Juscelino Kubitschek, Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo Barbosa, o conflito entre os representantes é antigo e ocorreu também no regime militar. Ele afirma que atrapalha a governabilidade e ameaça o sistema democrático. “A melhor solução seria que o cargo fosse extinto. Caso necessário, se a cadeira ficar desocupada, assume interinamente o presidente da Câmara e marca novas eleições para que o povo decida.” O especialista ressalta as altas despesas com a função, que acumula, no país, 5570 vice-prefeitos e 27 vice-governadores.
De 1946 a 1967, os vices eram eleitos separadamente, em dois pleitos. Para Barbosa, o histórico de crises entre os colegas de governo é “constante”, com início no governo de Getúlio Vargas.
Campanha curta
Já a dificuldade atual dos presidenciáveis em costurar um nome para vice, segundo o analista político Creomar de Souza, se dá porque a pré-campanha foi muito longa e a campanha oficial será curta. O postulante terá ainda que conquistar o eleitorado, pois o brasileiro enxerga o candidato, não a chapa ou o partido. “Não há uma tradição de institucionalização, mas de personalização. Se fosse o contrário, não veríamos tantos votos em candidatos vistos como ‘salvadores da pátria’ e possivelmente haveria uma preocupação maior quanto ao vice.”
Souza acrescenta que a população não parte do pressuposto de que não ocorrerá um imprevisto ou um dilema durante o mandato. “Geralmente, o vice é o fim do marcador da composição de uma chapa.
O cientista político Sérgio Praça conta que, desde o início da democracia, não há conexão do eleitor com siglas específicas e o comportamento só tem diminuído com o passar do tempo. Entre as principais razões, estão a má qualidade da educação, a longevidade dos partidos políticos e o sistema eleitoral de lista aberta. “O que mais tem contribuído é a vida curta das legendas. Se não fosse isso, não teríamos tantos novos partidos sendo formados”, finalizou.
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