A pré-candidata à Presidência pela Rede, Marina Silva, conseguiu levar nesta quinta-feira, 2, um partido para seu palanque, o PV, mas ainda está distante de outros candidatos no tempo de TV e recursos para campanha. Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, ela afirmou que foram justamente essas alianças com outros partidos, sem um olhar "programático", que levaram o País ao "fundo do poço".
Leia Mais
Alckmin define senadora na vice; Marina fecha com o PVCiro e Marina tentam romper isolamentoMarina Silva não poupa Lula e diz: 'a lei deve ser cumprida por todos'Bolsonaro admite piada machista e diz que, se eleito, pode privatizar a PetrobrasPor que foi tão difícil conseguir alianças?
Estamos buscando composições que sejam coerentes com um princípio de uma composição democrática e programática. Mas a composição do governo não será apenas com lideranças partidárias. Existem muitas pessoas boas na iniciativa privada, nos movimentos sociais, dentro da academia, em muitos setores. No entanto, o foco fica nos partidos.
A sra. acha que essa dificuldade de fechar aliança neste momento eleitoral possa comprometer a governabilidade depois?
Fui ministra e consegui dialogar com pessoas dentro do Congresso de diferentes partidos e graças a essa capacidade de diálogo aprovamos todas as leis importantes e necessárias para as grandes questões da agenda ambiental do período que fui ministra. Dialogando com pessoas de todos os partidos.
Governar sem uma base consolidada e com apenas dois parlamentares é utópico?
Acho mais utópico achar que esses que já formaram aliança vão resolver os problemas do Brasil. Porque foram exatamente essas alianças que tanto apostam como a solução da lavoura que levaram o Brasil parra o fundo do poço. O que está sendo dito, na verdade, é que ou cada candidato tem um Centrão para chamar de seu ou esse País não tem solução. É preciso que se crie uma descontinuidade produtiva na política brasileira.
A sra. concorda com a avaliação do ministro Luiz Fux (TSE) de que Lula é inelegível? Como vê a estratégia do PT de insistir no nome do ex-presidente?
A Lei da Ficha Limpa diz que não pode (a candidatura do ex-presidente) e é isso que eu digo o tempo todo. Não se pode ter dois pesos e duas medidas. A lei já foi aplicada para outras circunstâncias, e não é em função da popularidade, tem de ser em função da legalidade. A gente fala de estabilidade jurídica para tanta coisa.
A lei hoje está sendo aplicada com dois pesos e duas medidas?
Os que não têm foro privilegiado estão pagando por seus erros. Os que têm foro estão impunes, escondidos dentro dos cargos públicos. Não tem um peso e uma medida. Por isso que a prisão em segunda instância deve ser combinada ao fim do foro privilegiado.
A sua visão do agronegócio mudou desde que era militante ambientalista até hoje?
Não mudou, sempre defendi que a economia e a ecologia não são antagônicas. Sempre defendi que o agronegócio brasileiro é importante, estratégico para a geração de novos empregos. Sempre defendi que nossa balança comercial pode ser próspera, ter grande produtividade sem precisar destruir floresta, nascentes, acabar com as bases do seu próprio desenvolvimento.
Sobre a reforma da Previdência, quais termos a sra. Defende?
Temos de ter, sim, uma reforma da Previdência, mas queremos fazer o debate, ouvir a sociedade e especialistas.
No período eleitoral já não devia ser apresentada uma proposta mais concreta?
Será que você vai mesmo resolver durante a eleição uma proposta de começo, meio, fim? Você coloca com transparência quais são as diretrizes e a partir delas o povo vai saber que caminho vai tomar na hora da efetivação.
O economista Eduardo Giannetti disse que "temos uma aberração na Previdência, que o corporativismo está asfixiando o Brasil".
Existem muitas distorções no setor público e privado. Quando você pensa no setor privado e vai para o público, há distorções enormes e obviamente que elas precisam ser corrigidas. Mas é bom que o Giannetti falou isso no contexto da Previdência, mas combate os privilégios em todos os níveis. Fala também dos privilégios das isenções fiscais, do Refis, que acabam criando problemas igualmente graves para os cofres públicos. Quando você isola apenas um setor, aparece que os demais podem continuar imunes e impunes a qualquer tipo de correção e crítica. O nosso olhar é para que se tenha uma ação criteriosa no combate aos privilégios, não somente usando alguns como bode expiatório. É preciso, sim, combater privilégios dentro da reforma da Previdência, debatendo de forma transparente.
Como fundadora da CUT no Acre, o que acha do fim do imposto sindical?
O que eu acho é que se fez uma mudança em um ponto no sistema sindical, retirando a obrigatoriedade, mas não se cuidou para ver como daqui para frente os sindicatos não serão completamente fragilizados. Modernizou, mas deixou no vácuo como pode ser efetivo daqui para frente.
A sra. pretende fazer uma reforma administrativa?
Estamos apostando muito na avaliação de desempenho.
A sra. pretende cortar ministérios?
Pretendo fazer redução necessária para o tamanho necessário do Estado com eficiência.
.