Jornal Estado de Minas

MDB E PSB racham e perdem o rumo na reta final

Adalclever Lopes ainda não definiu qual cargo disputará em outubro - Foto: ALEXANDRE GUZANSHE/EM/D.A. PRESS
A um dia da definição dos candidatos nas eleições deste ano, PSB e MDB chegam à reta final para registrar as candidaturas sem nomes definidos. Enquanto os socialistas estão às voltas com a intervenção da direção nacional para impedir a candidatura de Marcio Lacerda a governador – em prol de um acordo de neutralidade na disputa nacional –, o MDB está dividido entre a candidatura própria com a indicação do presidente da Assembleia Legislativa, Adalclever Lopes, ou a coligação com o PT e a reeleição do governador Fernando Pimentel. Até o início da noite desta sexta-feira, havia possibilidade de realização de duas convenções pelo PSB hoje: uma convocada anteriormente pela direção da legenda, que foi destituída na quinta-feira à noite, e outra marcada às pressas pelo novo comando socialista, contrário à candidatura dele.


Nesta sexta-feira à noite, entretanto, mais reviravoltas deram novo contorno à grave crise interna vivida pelo partido. A comissão provisória, que tem atribuições de um diretório, nomeada pela direção nacional do PSB,  cancelou a convenção do partido marcada para hoje, após análise preliminar feita por uma força-tarefa em documentos e registros arquivados na sede do partido. O presidente da comissão, Renê Vilela, afirmou ao Estado de Minas que foi constatada uma série de irregularidades que poderiam comprometer a segurança jurídica da convenção. Entre essas irregularidades, ele cita dirigentes municipais do partido inexistentes e delegados credenciados filiados em outras legendas. Vilela informou ainda que projeção inicial aponta que ao menos 30% dos delegados não receberam comunicação do partido para a convenção.

“Para garantir segurança jurídica das deliberações, a comissão provisória, reunida durante todo o dia, decidiu pela anulação da convenção convocada para amanhã (hoje)”, afirmou Vilela. Após a análise dos documentos, explicou o presidente da comissão, um relatório foi elaborado e encaminhado à direção nacional do partido, em Brasília.
O presidente nacional da legenda, Carlos Siqueira, referendou a decisão da comissão provisória e disse ter comunicado à antiga direção a nulidade da convenção.

Nova convocação está sendo feita para as 20h de amanhã, no diretório municipal de Contagem. Renê Vilela informou ainda que os integrantes da nova comissão provisória e a força-tarefa criada para analisar os documentos se debruçariam durante toda a madrugada de hoje para refinar o que foi levantado preliminarmente. “Acreditamos que novas irregularidades possam surgir.”

Depois do anúncio de Vilela, porém, Marcio Lacerda afirmou, por meio de sua assessoria, que a convenção está mantida para hoje e que desconhece as irregularidades apontadas pela nova comissão provisória. E ainda na noite desta sexta-feira, o juiz Nicolau Lupianhes, do Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais (TRE-MG), concedeu tutela de urgência a um pedido de Lacerda e suspendeu os efeitos da destituição da comissão provisória do PSB e manteve a convenção marcada para hoje, inclusive validando suas deliberações. O magistrado ainda fixou multa diária de R$ 30 mil, limitada a R$ 300 mil, se houver descumprimento da decisão judicial.

DESENTENDIMENTO
A crise no partido estourou na quarta-feira, quando o presidente nacional da legenda, Carlos Siqueira, esteve em Belo Horizonte e avisou a Lacerda sobre o acordo com o PT de neutralidade do PSB na disputa nacional, em troca de apoio em Pernambuco e Minas Gerais. No estado nordestino, a direção nacional negociou a retirada da candidatura de Marília Arraes (PT) em favor de Paulo Câmara (PSB).
Em Minas, o PSB deveria retirar a candidatura de Lacerda em prol de Fernando Pimentel (PT). Lacerda, então, concedeu entrevista coletiva anunciando que levaria sua candidatura “até o fim”.

Em áudio enviado por WhatsApp a apoiadores, Lacerda disse que não concordou com a intervenção nacional do PSB e pediu votos na convenção de hoje. “É muito importante que todos os delegados e apoiadores compareçam ao congresso, à convenção do PSB no próximo sábado no Hotel Boulevard na Savassi pela manhã. A posição será de manter a candidatura”, disse. A estratégia é aprovar o nome na convenção estadual e, na sequência, levar a decisão à convenção nacional do PSB, marcada para este domingo.

Em seguida, as declarações de Lacerda foram rebatidas pelo deputado federal Júlio Delgado (PSB-MG). “A convenção não terá nenhuma legitimidade. Eles podem se reunir, contar histórias, mas não terá validade nenhuma”, afirmou o parlamentar. Isso porque, segundo ele, resolução aprovada no 14º Congresso Nacional do PSB, realizado em março, dá à direção nacional poder de aprovar ou não as coligações em cada estado.

PERNAMBUCO
Aliados de Lacerda contam com a aprovação do nome dele na convenção que terá a participação de cerca de 160 delegados do partido.
“A convenção foi convocada pela direção anterior em uma época que ela era válida. A convocação é legal e o que a maioria decidir será deliberado”, argumentou uma fonte do grupo do ex-prefeito. A tese conta ainda com possível inviabilização da aliança entre PSB e PT em Pernambuco, o que repercutiria nas conversas envolvendo Minas. Para garantir o acordo nacional entre PT e PSB, a direção nacional negociou a retirada da candidatura de Marília Arraes (PT) em prol de Paulo Câmara (PSB).

Em Minas, o PSB deveria retirar a candidatura de Lacerda em favor de Fernando Pimentel. Na quinta-feira, no entanto, o PT de Pernambuco aprovou a candidatura de Marília por 230 votos a 20. Como o estado tem diretório, não cabe intervenção da direção nacional na legenda pernambucana.

Indefinição até a prorrogação

O MDB de Minas deixou para as últimas horas a definição sobre que caminho vai tomar na eleição estadual. A comissão provisória da legenda se reúne hoje, a partir das 9h, na sede do partido, para escolher se lançará a candidatura do presidente da Assembleia Legislativa, deputado Adalclever Lopes, ao governo de Minas ou se retomará a aliança com o PT e apoiará a candidatura de Fernando Pimentel (PT). Alguns parlamentares defenderam até uma possível composição com o candidato do DEM, deputado Rodrigo Pacheco, caso sua candidatura seja confirmada – Pacheco pode integrar a chapa de Antonio Anastasia, do PSDB, como candidato ao Senado.

Nesta sexta-feira, após muitas horas em reuniões e almoços, os emedebistas não conseguiram bater o martelo sobre o destino do partido. “Não conseguimos definir nada.

Uma parte quer aguardar a definição do PSB, se Lacerda vai ou não conseguir se candidatar, outra parte quer fechar o acordo com o governador e outra ainda defende que é necessário uma terceira via nesta eleição, e neste caso poderia ser o Adalclever”, explicou o deputado Mauro Lopes.

A maioria da bancada federal do MDB defende a repetição da coligação proporcional com o PT, o que permitiria à legenda aumentar o número de cadeiras na Câmara dos Deputados. Um dos pontos que ficou definido em reunião da Executiva Nacional do partido em Brasília foi que os diretórios regionais devem buscar alianças que garantam o maior número possível de espaço no Parlamento, uma vez que o total de eleitos define quanto dinheiro o partido terá direito no fundo partidário para as próximas eleições.

“A melhor condição para nossa bancada é a coligação com o PT. Será suicídio político dos deputados escolher voo solo que não elege ninguém”, afirma o deputado Fábio Ramalho. Segundo o parlamentar, os deputados que desejavam a coligação com Marcio Lacerda já consideram a possibilidade remota, uma vez que a questão pode ser decidida apenas na Justiça.

TERCEIRA VIA A decisão sobre o lançamento da candidatura de Adalclever Lopes dependerá também de acertos com outros partidos que ainda não definiram sua posição na eleição. “A situação pode mudar completamente em poucas horas. Até amanhã (hoje) a situação fica em aberta, já que vários partidos estão com seu futuro indefinido. Se os partidos que apoiariam Lacerda ou que negociavam como outra legenda fecharem com a gente, podemos ter uma terceira via forte para a eleição e Adalclever entraria na disputa”, diz Lopes. No entanto, o lançamento de um nome do MDB representaria grande risco para a reeleição da bancada federal, que pode cair de cinco deputados para três ou dois deputados na Câmara – segundo cálculos dos próprios parlamentares.

“Adalclever é um grande nome do partido, mas não é o momento para disputar eleição sozinho. Não construímos isso ao longo do ano. O caso do ministro Meirelles (candidato à Presidência da República pelo MDB) é diferente porque ele tem muito dinheiro para a própria campanha.
Estamos longe do poder financeiro dele. Adalclever vai concordar amanhã (hoje) com o cenário que é melhor para o partido”, avalia Fabio Ramalho, após encontro com outros emedebistas na tarde desta sexta-feira.

Na reunião deste sábado, os sete integrantes do MDB que compõe a comissão provisória (grupo que assumiu o controle da legenda desde o início de julho, quando o vice-governador Antônio Andrade foi destituído) decidirão o futuro do partido. Participam da comissão os deputados federais Saraiva Felipe (presidente), Leonardo Quintão e Newton Cardoso Jr, e os estaduais Tadeu Leite, Leonídio Bouças, João Magalhães e Iran Barbosa.

 

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