Um dos mais midiáticos cabos eleitorais dos evangélicos, o pastor Silas Malafaia está animado com as chances de seus escolhidos nas urnas. "É a coisa mais fácil do mundo: é só usar as redes sociais. É o que vai mandar nessa eleição", diz o pastor, que ficou famoso com aparições na TV, mas hoje investe pesado na seara digital, com dois milhões de seguidores no Facebook e 1,3 milhão no Twitter. "É só você falar nos três anos anteriores o que você pensa. Eu venho fazendo isso há tempos. Aqui todo mundo já sabe quem representa o Malafaia", diz o líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo.
Ele sabe do que está falando. Em 2014, Malafaia, que tem um irmão deputado estadual no Rio e um membro de sua igreja como vereador carioca, elegeu para a Câmara dos Deputados Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ), fiel da Vitória em Cristo. Com o aliado, o pastor, que já era cabo eleitoral de aspirantes a político País afora, aumentou seu poder de influência e uniu-se a um grupo de líderes evangélicos com representação no Congresso por meio de membros de suas igrejas.
A seu favor neste ano, eles contam com o desgaste da classe política - a Lava Jato atingiu políticos evangélicos, mas, diferentemente de outros casos, o grupo não ficou no centro do escândalo - e com o apelo de valores conservadores em segmentos da população. Para congressistas e pesquisadores, em uma campanha de curta duração e sem dinheiro de empresas, quem já tem "base eleitoral" sairá na frente - caso dos evangélicos.
O Ministério Público e a Justiça Eleitoral, porém, vêm tentando ampliar a vigilância. O objetivo é conter a tentativa de religiosos de usarem templos para influenciar o eleitorado. A lei não permite que candidatos recebam doação de igrejas ou façam campanha dentro delas. Mas ainda é tema controverso o chamado "abuso do poder religioso". O conceito tem sustentado decisões em tribunais a partir da interpretação de magistrados de que igrejas atuaram diretamente para eleger candidatos.
Deputados eleitos sob o manto evangélico temem ainda que o sucesso dos últimos anos os prejudique em razão da proliferação de candidaturas.
Assembleia lidera
"Elegemos a Câmara mais conservadora desde 1964", comemora Marco Feliciano (Podemos-SP), o deputado-pastor de Orlândia que ganhou projeção nacional após assumir, em 2013, no governo Dilma, a presidência da Comissão de Direitos Humanos, historicamente liderada pela esquerda. O posto resultou em protestos e rendeu ao deputado espaço no noticiário. Líder da Catedral do Avivamento, ligada à Assembleia de Deus, o pastor foi reeleito em 2014 com quase o dobro de votos - foi o quarto deputado mais votado no País.
Não ascendeu sozinho. A bancada evangélica alcançou patamar inédito, indicam levantamentos. Segundo pesquisa do cientista político Fábio Lacerda, que em sua tese de doutorado na USP produziu um banco nacional de candidaturas evangélicas, o total de deputados saltou de 35 eleitos em 2006 para 67 em 2014.
A expansão no Congresso reflete o aumento dos seguidores das igrejas evangélicas. Em 1991, eram 9% dos brasileiros. Em 2010, no censo do IBGE, representavam 22%. Pesquisa Datafolha de 2016 apontou que eles já beiram 30% da população, ou 60 milhões de pessoas. É uma das maiores populações evangélicas do mundo.
O crescimento dessa base potencial de eleitores não se traduziria em votos, no entanto, não fosse a determinação de algumas igrejas, especialmente as neopentecostais, em ter voz no Congresso. "Desde 1986, a participação deles no Congresso só cresce. Em 2006, há queda pontual, em função do escândalo dos Sanguessugas, que envolve líderes evangélicos", diz Ronaldo Almeida, do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento.
Algumas das igrejas começaram a adotar a estratégia de escolher candidatos oficiais. Em outros casos, líderes se lançaram ao pleito. A denominação mais bem-sucedida é a Assembleia de Deus, que funciona como uma congregação de igrejas, com centenas de braços. Hoje 25 deputados dizem segui-la - 11 pastores.
Os evangélicos logo se tornaram "puxadores de voto", atraindo interesse das legendas. "Quase todos os partidos passaram a desejar ter candidatos evangélicos. Isso não acontece em outros países", diz o pesquisador canadense Paul Freston. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo..