O Comitê de Direitos Humanos da ONU não atendeu ao pedido da defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para que ele fosse liberado da prisão e apenas aceitou a solicitação para que seus direitos políticos fossem preservados. Em explicações ao jornal O Estado de S. Paulo, a vice-presidente do órgão confirmou que o brasileiro havia solicitado que a ONU emitisse um pedido de medidas cautelares para que ele fosse solto. "O pedido do Comitê não solicita isso", disse.
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Raquel Dodge pede ao STF que Dirceu retorne à prisãoAlvaro Dias critica manifestação de comitê da ONU sobre LulaSTF deve ignorar documento da ONU sobre candidatura de Lula"Baseada na informação que recebeu, o Comitê não pode concluir que existe um risco de um dano irreparável nesse momento", declarou a ONU em um comunicado naquele momento, que insiste que não avaliou a substância ainda da queixa original da defesa de Lula. Agora, o órgão optou por atender apenas à questão de seus direitos políticos, deixando ao cargo das cortes brasileiras uma decisão.
Num comunicado emitido nesta sexta, o Comitê de Direitos Humanos da ONU "solicita ao Brasil que tome todas as medidas necessários para que o candidato do PT à Presidência nas eleições 2018, Luiz Inácio Lula da Silva, preso e condenado na Operação Lava Jato, possa desfrutar e exercer seus direitos políticos, enquanto esteja na prisão, como candidato para as eleições presidenciais".
Mas o Comitê rebateu o Itamaraty e disse que o Brasil tem obrigações em cumprir a recomendação emitida nesta sexta-feira para que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva possa ter seus direitos políticos preservados nas eleições de 2018.
Numa nota, o Itamaraty indicou que a decisão do Comitê "têm caráter de recomendação e não possuem efeito juridicamente vinculante." Ou seja, o Brasil não é obrigado a adotá-las.
Em entrevista, uma das peritas do órgão, Sarah Cleveland, deixou claro que o Comitê discorda da posição apresentada pela chancelaria brasileira e que, eventualmente, o ex-presidente poderia usar a posição do órgão em cortes nacionais brasileiras.
Professora da Universidade de Columbia, nos EUA, ela explicou a posição do grupo. "Essas são medidas legalmente vinculantes", disse. "O Brasil tem obrigações internacionais e estaria em violação de suas obrigações se não aceita-la", insistiu a americana, indicada pelo seu governo em 2014 para o cargo internacional.
A jurista admitiu que o Comitê "não tem como impor a medida ou aplicar sanções contra o Brasil". "Mas não cumprir seria uma violação", insistiu.
A jurista explicou que existe uma "elevada taxa" de casos em que governos cumprem com a determinação do órgão. Para ela, o governo brasileiro não pode alegar uma interferência externa em seus assuntos. "O Brasil é parte das convenções e do pacto que diz que todos têm direito de participar da vida política. Foi com base nesse artigo que tomamos a decisão", explicou.
"Além disso, o Brasil é parte do Protocolo Adicional do Pacto de Direitos Civis e Políticos, que permite que um brasileiro traga uma causa ao Comitê. E foi isso que ocorreu", argumentou, insistindo que não houve intromissão indevida por parte do órgão da ONU no Brasil. "Tudo o que fizemos está baseado no direito", insistiu.
Sara Cleveland também explica que o órgão de fato não tomou uma decisão definitiva sobre o caso de Lula. Mas a medida atual é uma forma de garantir que não haja um "dano irreparável"..