Brasília – Os problemas da velha política ofuscaram as poucas novidades que os candidatos à Presidência da República incluíram em seus planos de governo. Os principais postulantes ao Planalto preferiram não escorregar nas ideias e levantaram bandeiras já conhecidas, ainda que alguns derrapem na hora dos discursos.
Especialistas acreditam que a falta de criatividade dos candidatos atrapalha a vida do eleitor, que ainda não tem intimidade com todos os nomes da disputa presidencial e, provavelmente, não terá acesso – nem interesse – à íntegra de seus planos de governo.
Os documentos com as ideias dos presidenciáveis foram protocolados na última quinta-feira, um dia depois de as candidaturas terem sido registradas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Embora 13 partidos estarem na disputa, pesquisas apontam que apenas cinco frentes são tratadas como “viáveis” nas eleições de outubro. Os candidatos principais são Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Jair Bolsonaro (PSL), Ciro Gomes (PDT), Geraldo Alckmin (PSDB) e Marina Silva (Rede).
Questionadas pelo Estado de Minas, as assessorias dos partidos informaram as bandeiras dos cinco principais candidatos. No PT, a ideia é dar ênfase aos programas sociais e à taxação das grandes fortunas (tratada como forma de redistribuição de renda).
Bolsonaro investirá na simplificação da cobrança de tributos e na diminuição da maioridade penal – que pretende baixar para 16 anos. Ciro Gomes rechaça as privatizações e trata da manutenção da Previdência.
Alckmin permanece com o discurso sobre criação de emprego e renda, além de falar sobre a promoção de ações para o desenvolvimento da economia. Marina, por fim, permanece atenta ao combate de corrupção (que pretende fazer com uma reforma política diferenciada) e aos temas ecológicos.
Avaliação
“Vejo o PT em busca de um eleitor mais à esquerda que aquele que elegeu Lula e Dilma (Rousseff). Em 2002, ele venceu o pleito indo mais para o centro e foi reeleito pelo mesmo motivo. Isso se repetiu com Dilma, que tinha o mesmo apoio social e político dele. Essa é a grande diferença a meu ver. Mas ninguém se elege no Brasil falando só de política social, muito menos se atendo à taxação de grandes fortunas. É possível tratar o tema sem mexer com os interesses profundos dos empresários”, analisa Sérgio Praça, professor de ciência política da Fundação Getulio Vargas (FGV-RJ).
Para o especialista, a mudança da maioridade penal proposta por Bolsonaro é um equívoco. “Uma coisa é as pessoas estarem preocupadas com a segurança. A outra é você falar que mais gente será presa. Prisão não resolve a questão de falta de segurança no país”, detalha.
Tirando esses dois pontos, completa Praça, “tudo o que foi apresentado já foi visto tanto na trajetória dos candidatos quanto em outros casos nas eleições presidenciais. Nada do que foi apresentado ao TSE nos planos de governo é uma novidade extrema. E isso é ruim porque os candidatos que estão na berlinda poderiam se destacar.”
Para enfrentar os problemas eleitorais (o EM fez um cruzamento das últimas pesquisas, que não apontam nenhum nome despontando com folga no cenário nacional), uma solução seria inovar.
“Num momento em que a gente tem candidato contradizendo o próprio plano de governo, infelizmente não dá para se dizer que existe alguma novidade no que foi apresentado até agora”, pondera o cientista político Ricardo Esmael, professor de Pontifícia Universidade Católica (PUC-RJ).
“Acho muito difícil que o eleitor faça pesquisas sobre o tema. Candidatos estão coerentes com o que oferecem ideologicamente: Lula investe em assistencialismo, Ciro critica as classes mais altas, Marina tenta se diferenciar… Mas isso tudo era o esperado. Precisamos de propostas com começo, meio e fim. E isso ainda não existe”, acredita Esmael.