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Estado de Minas

Lava-Jato turbina candidaturas de forças policiais ao Legislativo

Expectativa é que representantes dessas categorias aumentem as bancadas em cerca de 30% no Congresso


postado em 20/08/2018 06:00 / atualizado em 20/08/2018 08:04

Em evidência por atuar nos crimes de corrupção, agentes federais e do Exército buscam vaga na eleições(foto: ALOISIO MAURICIO/FOTOARENA/FOTOARENA/ESTADAO CONTEUDO )
Em evidência por atuar nos crimes de corrupção, agentes federais e do Exército buscam vaga na eleições (foto: ALOISIO MAURICIO/FOTOARENA/FOTOARENA/ESTADAO CONTEUDO )

Brasília – No rastro das investigações contra a corrupção e da crise na segurança pública, integrantes de categorias ligadas a corporações policiais e aos militares turbinaram a participação nas campanhas eleitorais ao Congresso.

Em média, houve um aumento de mais de 20% no número de candidatos dessa turma, o que, a partir de cenários para o Legislativo deve representar quase 10 nomes a mais de vitoriosos, se comparados com os de 2014, quando foram eleitos 25 parlamentares, incluindo PMs e delegados civis.

Tal projeção, feita pelo Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap) a pedido do Estado de Minas, ao mesmo tempo que parece uma boa notícia para os grupos de servidores, entretanto, é vista com preocupação por parte de analistas, sindicalistas e oficiais.

A primeira questão é que, ao mesmo tempo que há uma expectativa de que parte dos eleitores procure nomes ligados à Polícia Federal e às Forças Armadas por causa da imagem dessas instituições, ao longo do tempo, pode ocorrer desgastes a partir da contaminação política. “As Forças Armadas vivem numa redoma, que garante a proteção da imagem. Ao sair dessa redoma em busca de votos, há um risco evidente, a médio prazo”, disse um integrante da cúpula do Ministério da Defesa, que preferiu não se identificar.

Há quatro anos, dois militares da reserva conseguiram se eleger para a Câmara: Jair Bolsonaro (RJ), hoje candidato ao Planalto, e o Tenente Lúcio (MG). Na caserna, os voos em direção às urnas são vistos com desconfianças, apesar do apoio, principalmente dos militares mais jovens, ao capitão presidenciável do PSL.

São 54 candidatos do Exército a vagas na Câmara. “Muitos deles estimulados pelo debate da corrupção e da violência”, admite o servidor da Defesa, considerando a dificuldade de tiros mais longos por causa do freio dos partidos políticos em relação a caras novas, uma reclamação comum entre representantes de policiais. “A legislação eleitoral é construída pelos políticos que estão dentro e querem se manter no jogo sem abrir espaço para nomes de fora”, diz Edvandir Felix de Paiva, presidente da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF), que também revela uma resistência da própria classe. “Eu mesmo nunca tive a pretensão de sair candidato e vejo isso como uma escolha pessoal, pois tem uma exposição.” Ao todo, 14 delegados disputam um cargo na Câmara — outros quatro tentam os legislativos estaduais.

Exposição No caso dos policiais, há um segundo ponto. Até onde vai a isenção de um policial filiado a um partido político para, ao voltar ao trabalho de investigação depois de derrotado nas urnas, assumir uma apuração contra outra legenda? “Acreditamos que um delegado candidato, por levar o nome da PF e ter compromisso tácito com os colegas, carrega uma enorme responsabilidade, que vai funcionar como uma garantia”, antecipa-se Paiva. Nos bastidores das corporações, porém, o debate sobre a isenção de um policial candidato ao voltar ao trabalho é cada vez mais recorrente. As normas não preveem quarentena ou restrições para futuras lotações funcionais.

Em 13 de outubro de 2014, em meio à campanha presidencial de reeleição de Dilma Rousseff, o governo editou medida provisória que transformou o cargo de diretor-geral da Polícia Federal em função exclusiva de delegados de classe especial, o último nível da carreira. A MP, à época, foi vista como uma ação do Planalto para agradar aos delegados, que ameaçavam fazer uma paralisação. No dia seguinte, havia uma audiência pública marcada pelo deputado federal Fernando Francischini (PSL-PR), delegado da PF, que acabou cancelada por falta de quórum. “O governo teve que editar uma MP porque sabia que hoje ia ser uma pancadaria. Botamos o governo de joelho”, disse Francischini, segundo reportagem da Folha de S.Paulo do dia 14.

“Um parlamentar que é delegado e diz ter conseguido colocar o ‘governo de joelho’ deixa exposto um lado. Ao voltar para o trabalho de policial, não vai ter condições de desenvolver as funções originais com isenção ao investigar um inimigo político”, afirma o presidente da Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef), Luís Boudens, ao falar de Francischini. Procurado pelo Estado de Minas, o deputado, que, agora, deve disputar a eleição para a Assembleia Legislativa, rechaçou a crítica: “Antes de mais nada, eu sou um delegado da PF. Eu estou deputado federal. E se tiver que voltar para a PF vou desempenhar meu trabalho com total profissionalismo, isenção e muito orgulho”.

Principal apoiador de Bolsonaro no Paraná, Francischini afirma que “se tiver de investigar e prender políticos de partido A ou B não fará a menor diferença porque a atividade de delegado é estritamente técnica”. E arremata: “O país espera varrer de uma vez por todas a corrupção. E farei isso tanto como delegado da PF como parlamentar”. A crítica de Boudens aos delegados candidatos, porém, parece não se aplicar à categoria que ele defende, formada por agentes, escrivães e papiloscopistas da Polícia Federal. A Fenapef estimula a participação dos filiados, que, nesta eleição, apresentam 18 nomes para a Câmara e três para o Senado. “Os delegados têm o poder em apontar para alguém, tornando, no caso deles, a atividade incompatível com a de deputado.” Hoje, há dois representantes da categoria no Congresso, um deles Eduardo Bolsonaro, escrivão da PF e filho do presidenciável do PSL.

 

Denunciado, mas candidato

Denunciado na Operação Lava Jato, o candidato a deputado federal Cândido Vaccarezza (Avante-SP) afirmou a que a acusação contra ele “se baseia numa delação premiada de uma única pessoa”. Em mensagem a amigos, o ex-líder dos Governos Lula e Dilma na Câmara escreveu que tem “condições de disputar e ganhar as eleições”. “Amigos. O MP me denunciou ontem.

Como vocês sabem esta denúncia se baseia numa delação premiada de uma única pessoa, não tem prova, não tem movimentação financeira, não tem enriquecimento ilícito. Sou inocente e vou provar a minha inocência. Temos condições de disputar e ganhar as eleições. Vamos fazer a campanha sem medo e com a certeza da vitória. O Brasil tem jeito e serei a voz da nossa base em Brasília. Nunca vou decepcionar nenhum de vocês. Forte abraço. Vaccarezza”, escreveu.


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