Na hora do voto, o comportamento eleitoral do mineiro é o espelho do resultado das urnas no Brasil. As últimas seis eleições presidenciais demonstraram ser Minas – segundo maior colégio eleitoral – entre todos os 26 estados e o Distrito Federal, a parte que mais se aproxima do todo, mantendo de forma estável e previsível, no primeiro e no segundo turno, as estatísticas de voto que lhe deram o título de “estado síntese”. Em 2014, enquanto no segundo turno Minas cravava 52,41% dos votos para Dilma Rousseff (PT), contra 47,59% para Aécio Neves (PSDB), no Brasil, a petista recebeu 51,64% dos votos e o tucano 48,36%. Nas eleições de 1998 não foi diferente: Fernando Henrique Cardoso (PSDB) marcou 53,1% no Brasil e 55,7% em Minas; Lula 31,7% no território nacional e 28,1% entre mineiros. Já Ciro Gomes teve 11% no país e 11,6% no estado.
A julgar pelo que sugerem as mais recentes pesquisas de opinião política, 2014 não foi a primeira nem será a última eleição presidencial em que as estatísticas mineiras são as mais próximas das registradas no território nacional. Na mais recente pesquisa de intenção de voto para as eleições presidenciais realizada pelo Datafolha entre 20 e 21 de agosto, Minas espelha o Brasil. No país, Lula tem hoje, segundo o instituto, 39% das preferências, Jair Bolsonaro (19%), Marina Silva (8%), Geraldo Alckmin (6%) e Ciro Gomes (5%). Em Minas, Lula está com 41%, seguindo de Bolsonaro (18%), Marina (9%) e Alckmin e Ciro (4%).
Diferentemente, os dados de São Paulo, Rio de Janeiro, Distrito Federal e Pernambuco, entre tantos outros estados, passam longe da possibilidade de síntese do Brasil: Bolsonaro tem 27% no Distrito Federal, Lula, 60% em Pernambuco, Alckmin alcança 2% no Rio de Janeiro e 14% em São Paulo.
Entre as eleições presidenciais de 1994 a 2014, os testes estatísticos de correlação indicam que os resultados de Minas Gerais foram no primeiro turno e naquelas em que houve segundo turno os mais próximos dos registrados no Brasil.
CORRELAÇÕES NACIONAIS
Em 2006, também os resultados das eleições presidenciais, primeiro de Minas Gerais e depois do Pará, foram aqueles com as maiores correlações estatísticas com os resultados eleitorais do Brasil.
UM PAÍS DENTRO DO ESTADO
À exceção da floresta tropical úmida da Amazônia e dos pampas do Rio Grande do Sul, Minas Gerais apresenta, em todas as suas coordenadas geográficas, os indicadores de desenvolvimento humano de uma diferente região do Brasil. Por isso, o sociológico e professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Jorge Alexandre Neves avalia: “Minas Gerais é a síntese socioeconômica do Brasil. E é também a síntese eleitoral do país”. Sob esse prisma, é o modelo sociológico que sustenta o peso das características econômicas, sociais e demográficas dos eleitores para explicar a sua decisão de voto, que ganha força diante das estatísticas das eleições presidenciais que contrapõem os resultados do estado e do país.
Num exercício para captar os diversos “pedaços” do desenvolvimento humano do Brasil distribuídos por Minas Gerais, Jorge demonstra como o Vale do Mucuri, o Vale do Jequitinhonha e o Norte mineiro estão próximos dos indicadores do Norte e Nordeste brasileiro. “ O Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) de 0,70 de Teófilo Otoni corresponde ao indicador dos municípios de Patos (PB) e de Picos (PI). Já Montes Claros tem o mesmo IDHM de Recife e São Luís. O Vale do Jequitinhonha, representado pelo IDHM de Diamantina, de 0,72, é o mesmo de Campina Grande (PB) e de Mossoró (RN)”, avalia o sociólogo.
“Se por um lado as cidades do entorno de Belo Horizonte, contido na Região Metropolitana, têm um índice de desenvolvimento parecido com a parte industrial das cidades do ABC Paulista, por outro, a média do desenvolvimento humano do país estaria próxima à região do Centro de Minas”, afirma Jorge, considerando que a Oeste ela se estende até Sete lagoas e Frutal e ao Norte até o Vale do Aço..