Salvador – Às 9h20 da última sexta-feira, Etelvino Neto, de 62 anos, organizava informalmente o trânsito de veículos na minúscula e principal rua de Periperi, um bairro sem maiores atrações na periferia da capital baiana.
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Na próxima sexta-feira, começa a campanha no rádio e televisão. Apesar da força das redes sociais, a eleição presidencial, que vinha se mantendo até aqui sem maiores novidades, tende a reviravoltas. Primeiro, pela força da política dos programas de TV, que passam a entrar nas casas das pessoas todos os dias.
Depois, porque será o período de definição do ex-prefeito Fernando Haddad como substituto de Luiz Inácio Lula da Silva na chapa petista.
“O jeito de fazer campanha é o mesmo há tempos e vai continuar assim. Ou o político olha no olho do eleitor ou está perdido, não tem marqueteiro que salve”, disse Zé Ronaldo, o candidato ao Palácio de Ondina, que tem todas as dificuldades no embate com o petista Rui Costa, governador da Bahia. As pesquisas até agora mostram que o político apoiado por Lula no estado pode levar a eleição ainda no primeiro turno.
A campanha de Ronaldo, entretanto, aposta na mudança de cenário a partir da entrada da TV na eleição. Enquanto isso, a equipe do político aproveita eventos como o da última sexta-feira para garantir imagens para exibir no programa eleitoral.
O mesmo vem sendo feito pelo outros candidatos ao governo e ao Palácio do Planalto. Haddad gravou cenas ao lado de militantes logo depois de registrar a candidatura de Lula no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
DESCRÉDITO
As campanhas nas ruas, na TV e nas redes sociais enfrentam um problema comum: o desgaste e a rejeição dos políticos em todos os estratos eleitorais. A solução é tão complexa que desbanca marqueteiros e assessores de campanha. É basta apenas dar uma rápida olhada na pesquisa do Instituto Opinião Política, encomendada com exclusividade pelo Correio Braziliense e publicada na semana passada.
O levantamento revela que todos os candidatos ao Palácio do Buriti têm percentual de rejeição acima de 50%.
Os números de rejeição comprovam a dificuldade de engajamento de militantes, fechando portas para a mobilização em caminhadas e carreatas espontâneas a favor de candidatos. Isso sem contar com a viralização de vídeos fakes ou de imagens provocativas a partir das imagens de rua gravadas pelos políticos.
“A eleição mudou, os políticos estão desacreditados. Apesar da necessidade do corpo a corpo, tem muita gente que só faz as coisas em troca de alguma coisa”, avalia o segurança Neto, do alto das “não sei quantas” campanhas que participou.
Ainda na concentração do evento em Periperi, a dona de casa Ana Oliveira, de 31, puxa conversa com a reportagem. “Você conhece esse pessoal, não é? Meu marido está desempregado há três anos, e aí como faz?”.
Ao descobrir que o interlocutor é um repórter que não tem relação com a equipe dos políticos, ela dá de ombros e se perde em meio aos populares. Para uma sexta-feira de manhã, havia um número razoável de mulheres e homens – cerca de 300 pessoas – convocados por quatro candidatos a deputado federal e estadual.
Desgaste causado por escândalos
A partir da análise comparativa entre as eleições brasileiras e norte-americanas, o cientista político Lucas de Aragão avalia que artificialidade dos engajamentos daqui está ligada ao desgaste provocado pelos escândalos.
“Mas não dá para culpar todos os políticos e marqueteiros pela dificuldade de voos maiores do político. A rejeição da classe é geral”, afirma.
“O engajamento nos EUA tanto dos democratas quanto dos republicanos é algo que estamos distantes.
Segundo Aragão, a construção do político ocorre de maneira tradicional, a partir de boas avaliações da população e escolhas corretas dos partidos. Não é à toa que o índice de renovação do Congresso deve ser alto – há poucas opções para o eleitor.
A campanha fica tão manjada em determinados momentos que até parece fácil prever o próximo lance de um marqueteiro. Vide o caso do tucano Geraldo Alckmin, que passou a andar de mãos dadas com a mulher, dona Lu.
Ou mesmo a aposta de risco dos petistas em inflar a candidatura de Haddad com pouco mais de um mês de programa eleitoral no rádio e na TV. A única aposta dos políticos é que, com todas as novas regras eleitorais – incluindo a proibição de financiamento privado – alguma surpresa apareça no dia da contagem de votos.
É a estratégia de se agarrar ao imponderável..