Em apenas 30 minutos, Cleines Oliveira concedeu três entrevistas, gravou vídeos e posou para fotos. "Não me fotografa sorrindo, não", pediu. Apesar dos holofotes, ele garante: não estava ali, em frente à Santa Casa de Juiz de Fora, na Zona da Mata, para se promover politicamente.
Aos jornalistas, o personagem se identifica inicialmente sem revelar o sobrenome. Prefere, antes disso, citar o próprio cargo à frente do nome de batismo. "Cabo Cleines", apresentou-se. Além de religioso, o juiz-forano de 32 anos é candidato a deputado estadual em Minas Gerais pelo PSL. Ele foi o responsável por imobilizar Adelio Bispo de Oliveira, o homem que esfaqueou o presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) na tarde dessa quinta-feira.
Cleines não trabalhava como policial militar quando dominou o algoz do companheiro de partido. Licenciado do cargo de cabo desde 7 de julho para disputar pela primeira vez as eleições, o aspirante a deputado saiu de Belo Horizonte - cidade onde mora - para acompanhar de perto mais um ato de campanha de Jair Bolsonaro, a quem admira.
"Eu não posso ser leviano a ponto de falar que eu não sou candidato pelo PSL e que eu não tenho uma certa afeição pelo Bolsonaro.
Político, eu!?
Sair de Belo Horizonte para acompanhar Jair Bolsonaro em outras cidades de Minas Gerais tem se tornado rotina para Cleines. "Aquilo que ele fala é algo que eu identifico - e muito", prossegue.
As redes sociais comprovam a relação entre os correligionários. Em 4 de junho, o cabo licenciado publicou vídeo ao lado de Bolsonaro, que brada: "Cabo Cleines de Oliveira aqui. Pré-candidato pelo nosso querido PSL. Boa sorte a ele".
Em 30 de junho, foi a vez de Cleines posar ao lado de Bolsonaro enquanto o presidenciável respondia perguntas em uma coletiva de imprensa. Sem dizer uma só palavra no vídeo, o cabo direciona o próprio olhar para a câmera e, em seguida, para o colega.
A alcunha de 'político', entretanto, não o agrada tanto quanto o do cargo que alcançou na Polícia Militar. Cleines se nega a ser identificado dessa forma.
O advogado do cabo licenciado discorda. "Já diria Aristóteles: o homem é um animal político", disse.
"O momento não é oportuno para poder falar de questões de candidatura ou política, porque o que importa para nós agora é a questão do quadro clínico do nosso presidenciável", completa Cleines.
Para ele, a hora não era adequada para tratar de política ou de eventuais pontos em comum com Bolsonaro. Estratégias econômicas, de segurança pública e questões como homofobia e machismo, bastante recorrentes no discurso do candidato a presidente, ficaram para depois.
"Sim, tenho, tenho meus ideais, tenho o meu ponto de vista. Mas eu creio que nesse momento não seja o momento propício para que nós possamos discorrer sobre isso, tendo em vista a gravidade do quadro, da situação à qual nós estamos. Até mesmo por mim. Eu levei vários socos, chutes. Meu emocional está realmente abalado", disse.
O momento da apreensão
Após ser esfaqueado, Bolsonaro foi submetido a uma cirurgia de emergência na Santa Casa. O candidato foi transferido na manhã desta sexta-feira para o Hospital Albert Einstein, em São Paulo.
Do lado oposto da narrativa, Adelio foi preso em flagrante e confessou o crime à PM.
O esfaqueamento logo se transformou em ataques a Adelio. Instantes depois, Cleines agiu. "Houve aquele balbúrdio, aquela contenção, mas eu tomei a frente no que diz respeito a poder tentar imobilizá-lo e conduzí-lo para um lugar ao qual eu também não fosse agredido", relatou.
Adelio foi levado a um prédio nas redondezas das ruas Halfeld e Batista de Oliveira. Lá, o cabo licenciado se identificou e disse ter recebido algemas das mãos de um policial militar para conter o homem de 40 anos.
Depois de ir à sede da Polícia Federal - que conduz o caso -, Cleines partiu em direção da Santa Casa de Juiz de Fora. Durante a madrugada, entrevistas e sinais de preocupação com o estado de saúde de Bolsonaro. Mas ele garante: não estava ali para se promover politicamente..