Jornal Estado de Minas

Câmeras podem dar pistas sobre atentado contra Bolsonaro


Juiz de Fora – Apesar de ser a principal responsável por conduzir as investigações, a Polícia Federal (PF) não está sozinha no caso do esfaqueamento do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL). Paralelamente, a Polícia Civil examina material em vídeo do momento em que Adelio Bispo de Oliveira, de 40 anos, atacou o candidato em Juiz de Fora, na Zona da Mata mineira.

As imagens analisadas foram gravadas tanto por celulares de pessoas que acompanhavam a caminhada de Bolsonaro com apoiadores, quanto das câmeras de segurança do ‘Olho Vivo’ – sistema adotado pela prefeitura para filmar as principais ruas – instaladas no Centro da cidade. O sistema, implantado em 2014 a custo de mais de R$ 15 milhões por um período de 10 anos, voltou a funcionar em janeiro deste ano.

Apoiada também nesse material, a Polícia Civil – responsável por toda a perícia – tenta identificar eventuais envolvidos além de Adelio. Além do monitoramento de imagens, a equipe responsável pelo caso avalia o material coletado das redes sociais antes e depois do ataque.

Na manhã de ontem, a pensão onde Adelio viveu por cerca de 15 dias recebeu a visita da polícia. O local, entretanto, foi apenas parcialmente investigado. Foram feitas fotos de lugares como a cozinha e a porta do quarto em que o homem que esfaqueou Bolsonaro morava. Segundo apurou a reportagem, o quarto em si, que estaria trancado com um cadeado, não foi investigado na manhã de ontem.

A preocupação com a segurança de Jair Bolsonaro durante o ato de campanha se iniciou antes mesmo de ele chegar a Juiz de Fora. Nas redes sociais, pessoas publicaram mensagens em que fazem menção a um eventual ataque ao presidenciável na cidade mineira.
Imagens dessas “ameaças” circularam entre policiais civis, que analisam a representatividade de textos que, porventura, podem ser carregados de ironia ou sarcasmo.

Correligionária de Bolsonaro e delegada licenciada, Sheila Aparecida (PSL) relatou à reportagem que, também em função do clima de insegurança criado antes da visita do presidenciável, preferiu observar de longe o ato de campanha. “A questão não é nem medo, é de segurança mesmo. Não costumo entrar em aglomerações. Fiquei mais de longe mesmo, observando da janela lá de cima da Câmara. Já havia mensagens de Twitter, de pessoas falando ‘gostaria que ele fosse morto em Juiz de Fora’, que ‘queria dar uma facada no Bolsonaro’. Já estava com um pé atrás com a situação”, relata a candidata a deputada estadual, que não participa da investigação.

O Estado de Minas tentou contato com a delegada civil titular Patrícia Ribeiro de Souza Oliveira, que foi orientada pela ‘chefia’ a dar entrevista apenas com o aval da assessoria de comunicação. A autorização não havia sido dada até o momento de fechamento desta reportagem.

Apesar de envolvida, a Polícia Civil tem papel secundário na investigação.
Oficialmente, todo o processo cabe à Polícia Federal, uma vez que Adelio é julgado por infringir a Lei de Segurança Nacional, que prevê punição a quem cometer crimes de motivação política. Tanto é que um dos quatro advogados de defesa, Fernando Magalhães, disse que o contato é apenas com a PF: “Nós não temos nenhum contato com a Polícia Civil, tudo com a federal”, disse.

ANDANÇAS A partir de documentos e relatos, a Polícia Federal também está atenta ao passado do acusado. Adelio não se fixava em uma cidade por muito tempo. As mudanças de emprego foram constantes no passado recente. Não à toa, o homem fez cursos de tiro, telemarketing e até mesmo para aprender a preparar temakis, comida japonesa preparada a base de arroz, peixe e alga. Nessas andanças, percorreu o litoral nacional como empregado de um cruzeiro.

No âmbito político, Adelio tentou ser candidato a deputado federal pelo Psol, partido do qual fez parte por sete anos. “Tentou ser deputado pelo Psol, mas não conseguiu autorização para se candidatar em 2014. Por isso, ele deixou o partido”, conta Fernando Magalhães.
Dali em diante, não se filiou a outro partido, mas seguiu ativo na vida política. Segundo a defesa, Adelio alega que um dos motivos do ataque é o discurso de ódio alimentado por Jair Bolsonaro.

 

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