A polarização entre o deputado federal Jair Bolsonaro (PSL) e o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT) na disputa pela Presidência da República – indicada pelas recentes pesquisas de intenção de voto de Ibope e Datafolha – faz adversários subirem o tom em seus programas de TV e rádio e nas redes sociais contra os dois candidatos que lideram a corrida presidencial. Nos programas levados ao ar ontem, Geraldo Alckmin (PSDB) e Henrique Meirelles (MDB) fizeram ataques diretos a Bolsonaro e a Haddad. A última pesquisa Datafolha mostrou Bolsonaro com 28% e Haddad com 16%. Já a do Ibope indicou Bolsonaro com 28% também e Haddad com 19%, ambos se consolidando na polarização.
“De um lado, a turma de vermelho, que quer o fim da Lava-Jato para encobrir o maior caso de corrupção da história; do outro, a turma do preconceito, da intolerância e do ódio a tudo e todos”, afirmou o tucano no programa. Alckmin ainda disse que o Brasil já elegeu “um poste vermelho”, em referência a Dilma Rousseff (PT), sucessora indicada por Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e que não pode entrar “de novo em uma aventura de um candidato que se diz o novo”, referindo-se a Bolsonaro e também a Fernando Collor de Mello, que se elegeu em 1989 ao se apresentar como novo na política, mas sofreu impeachment três anos depois.A volta de nova CPMF, defendida pelo economista Paulo Guedes – guru da campanha de Bolsonaro –, também recebeu críticas de Alckmin, mesmo depois de candidato desmentir Guedes. “O candidato da bala deu o primeiro tiro: no contribuinte, na classe média, no pobre. Ele quer aumentar imposto. É fácil fazer ajuste passando a conta para o povo. Nós vamos fazer exatamente o contrário: cortar despesa do governo. Sou contra a volta da CPMF”, escreveu no Twitter. Já Ciro Gomes (PDT) acusou Guedes, eventual ministro da Fazenda se Bolsonaro vencer a eleição, de “instrumentalizar economicamente o fascismo”.
No Facebook, Alckmin disse que “bateu o desespero” em Bolsonaro por perceber que ele não vencerá o PT caso chegue ao segundo turno contra Haddad. “Primeiro, colocaram em dúvida as urnas eletrônicas. Agora, inventam aliança minha com o PT, que jamais foi ou será cogitada. Ele é o passaporte para a volta do PT. Vou ao segundo turno para derrotar Haddad”, escreveu o tucano. Um vídeo repete que “é uma mentira das grandes” qualquer comentário de que ele poderia apoiar Haddad no segundo turno.
FHC PEDE CONSENSO
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso engrossou o coro contra a polarização. Ele divulgou carta afirmando que a situação do país é “dramática”, mas “ainda há tempo para deter a marcha da insensatez.” Sem mencionar nomes, FHC critica “as visões radicais” e as “soluções extremas” apresentadas pelas campanhas de Bolsonaro e Haddad e defende apoio único a quem tem “melhores condições de êxito eleitoral” entre os candidatos de centro para não levar o país ao “aprofundamento da crise econômica, social e política”.
Ele critica candidatos que “acenam com promessas que não se realizarão com soluções simplistas, que não resolvem as questões desafiadoras” e afirma que é necessária “clara definição de rumo”, além de promover “o ajuste inadiável das contas públicas” no próximo governo. “São medidas que exigem explicação ao povo e tempo para que seus benefícios sejam sentidos.
“A primeira dessas medidas, segundo ele, é uma lei da Previdência que elimine privilégios e assegure o equilíbrio do sistema em face do envelhecimento da população brasileira. A fixação de idades mínimas para a aposentadoria é inadiável. Ou os homens públicos em geral e os candidatos em particular dizem a verdade e mostram a insensatez das promessas enganadoras ou, ganhe quem ganhar, o pião continuará a girar sem sair do lugar, sobre um terreno que está afundando”, disse o tucano.
‘Crime’ Terceiro colocado nas pesquisas de opinião, Ciro Gomes usou as redes sociais para dizer que apostar na política econômica defendida pelo PT é “crime”. “Números: 220 mil pontos de comércio fecharam do desmantelo do governo Dilma para o fundo do poço do desgoverno Temer; 13 mil indústrias fecharam no mesmo período (três anos), sendo 4 mil no estado de São Paulo! Daí, 13,7 milhões de desempregados e mais de 32 milhões de brasileiros vivendo de bico. Manter esta política econômica é crime!”, postou o candidato.
Ao mostrar pesquisas realizadas em 2014 e que apontavam um segundo turno entre Dilma Rousseff (PT) e Marina Silva (Rede) – o que acabou não acontecendo –, Ciro pede ao eleitor que não transfira sua “decisão e entusiasmo” para os institutos de pesquisas. Marina Silva usou o Twitter para dizer que faltam poucos dias para o Brasil optar por “vencer o ódio e o extremismo” ou se deixar entregar “à radicalização e desunião”.
Já Henrique Meirelles (MDB) apostou no discurso de que o Brasil precisa de um governo que imponha confiança. Com recortes de jornais em seu programa em que mostra notícias relacionadas a Bolsonaro e ao PT, ele disse que ninguém confia em gente “desequilibrada” ou “corrupta”. “Confiança é a chave que abre todas as portas”, afirmou. “Quando você pede indicação para cuidar dos seus filhos, você pergunta se a pessoa é de confiança. A mesma coisa acontece com o país. As empresas precisam confiar no governo para fazer investimentos, criar empregos. Ou você acha que vão confiar num governo de alguém despreparado, desequilibrado ou corrupto? Claro que não.”