O governador do Espírito Santo, Paulo Hartung (MDB), afirma que o compromisso com uma agenda democrática e reformista poderá ser decisivo para os candidatos que estiverem em eventual segundo turno da eleição presidencial. Hartung é um dos expoentes do grupo suprapartidário lançado em meados deste ano em defesa de uma candidatura única de centro. Leia os principais trechos da entrevista concedida ao jornal O Estado de S. Paulo.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso divulgou uma carta aos eleitores na qual fala em deter a 'marcha da insensatez'. Ainda é realmente possível uma união do centro nessa reta final da campanha?
Primeiro, uma questão conceitual: a gente nunca trabalhou uma candidatura de centro. O que a gente trabalhou é a ideia de uma agenda para o País, que cuide da questão fiscal, porque o País está literalmente quebrado, e não é possível ter futuro com essa desorganização fiscal, que cuide da questão social do País. O foco é no combate à pobreza, na melhoria da educação básica e assim por diante, que cuide da competitividade da economia brasileira frente a essa economia mundial integrada. Não é um movimento de centro.
Essa proposta de compromisso com a agenda reformista é viável ainda no primeiro turno?
Claro. Eu acho que o nosso papel é seguir em frente. É possível unir alguma dessas candidaturas que têm afinidades programáticas? Possível é, mas evidentemente que quando chega numa situação dessa na política é difícil quem dá o primeiro passo. Isso dificulta você diminuir o número de candidaturas. O ambiente que foi criado no Brasil é muito propício para discursos extremistas, mas mesmo assim os extremos estão conseguindo dialogar com 56%, 57% do eleitorado brasileiro. Tem um espaço, isso é indiscutível, que poderia ser ocupado por uma candidatura com uma boa agenda, com uma agenda correta para o País. O problema é que esse grupo ficou muito fragmentado.
A campanha de Geraldo Alckmin vinculou a polarização entre Bolsonaro e PT a um risco de o País se tornar uma Venezuela. Trata-se mesmo de um risco ou da reedição do discurso do medo?
A primeira coisa que a gente tem que olhar é o seguinte: o que essas candidaturas extremistas estão defendendo para a economia. Deixando de lado um pouco a superficialidade da abordagem, quando você olha os projetos, eles não ficam de pé. Não são consistentes. Eu acho que qualquer alerta nesse debate é bem-vindo. Não acho que alertar os problemas é fazer aí a política do pavor, do medo, não vejo assim.
Nessa polarização temos um candidato que foi alvo de um atentado a faca e que está hospitalizado e outro um que tem como principal cabo eleitoral um ex-presidente que está preso por corrupção. Este cenário não dificulta o compromisso com essa agenda reformista?
Vamos até o final tentar colocar um candidato que tenha conexão com essa agenda reformista no segundo turno. A segunda coisa importante é que eu sou um democrata, eu respeito as candidaturas que estão inscritas para participar do processo de disputa. Eu não flerto com atitudes de discriminação, não é minha praia. Minha praia é de respeitar a diferença. Não vou ficar tentando desqualificar as candidaturas, elas estão registradas, têm direito de ser apresentadas, de pedir o voto, de ganhar o voto e de até disputar o segundo turno.
O que esse campo reformista tem a oferecer?
O campo reformista no Brasil, mesmo no pior ambiente que nós já vivemos, ele individualmente é majoritário.
O sr. desistiu de concorrer à reeleição. Até que ponto a situação política e econômica do País pesou nessa decisão?
Disputei oito eleições, fui eleito oito vezes, e pela terceira vez sou governador do Espírito Santo. Fui prefeito da capital... A minha jornada na política do Espírito Santo está bem construída.