Jornal Estado de Minas

POLÍTICA

Militantes contrárias a Bolsonaro relatam agressão e ameaças

Uma administradora do grupo do Facebook Mulheres Unidas Contra Bolsonaro no Rio registrou nesta terça-feira, 25, boletim de ocorrência, em que relata ter sido agredida. Nos últimos dias, pelo menos outras dez ativistas do grupo também apresentaram queixa na polícia por supostas ameaças, em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo.

Com mais de três milhões de integrantes, a página na rede social já colocou as hashtags #EleNão e #EleNunca entre as mais compartilhadas e foi hackeada e derrubada várias vezes ao longo da última semana. Os autores desses ataques nas redes seriam pessoas que se identificaram como partidárias do candidato à Presidência pelo PSL, Jair Bolsonaro.

Identificada, por medida de segurança, apenas como Maria, a administradora do grupo de mulheres no Rio afirmou ao Estado que três homens não identificados participaram do ataque. Um estava ao volante de um táxi, os outros dois, do lado de fora do veículo - um deles portava uma pistola. Eles a esperavam na porta de casa, por volta das 20h15, na Ilha do Governador, na zona norte.
"Um deles saiu de trás de um carro e me deu um soco", contou Maria, que coordena a campanha de Sérgio Ricardo Verde, do PSOL, à Assembleia Legislativa do Rio (Alerj). "Eu me agachei e gritei por socorro. Então levei uma coronhada", afirmou.

Maria disse que um dos homens roubou seu celular. Os dois então fugiram no táxi, que os aguardava a menos de um quarteirão de distância.

Não foram levados outros pertences.

A ativista afirmou que vinha sendo ameaçada nas redes por causa de sua militância política e feminista, mas disse que não pode afirmar quem são os agressores e prefere aguardar as investigações.

Em Ribeirão Preto, as dez mulheres que registraram queixa de ameaças à polícia tinham confirmado participação no evento contra Bolsonaro marcado para o próximo Sábado.

Ameaças

Figuras públicas, como a cantora Marília Mendonça, afirmaram ter sido ameaçadas depois de se posicionar contra a candidatura de Bolsonaro e compartilharem as hashtags do movimento. A candidata a vice na chapa de Fernando Haddad, Manuela D'Avila (PCdoB), também diz ter sido ameaçada.

A última pesquisa do Ibope confirmou que o maior porcentual de rejeição ao candidato ocorre, justamente, entre as mulheres (54% delas declararam que não votam em Bolsonaro "de jeito nenhum"). Já a pesquisa do Datafolha da semana passada revelou que metade das eleitoras do sexo feminino (51% ou 39 milhões) não sabia ainda em quem iria votar para presidente.

Segundo cientistas políticos ouvidos pelo Estado, os números mostram que o eleitorado feminino pode ser decisivo.

"Não se trata de uma questão de direita ou esquerda, mas de marco civilizatório; em todo o mundo, pessoas de direita e de esquerda combatem a violência contra a mulher", disse a socióloga Alessandra Maria Terra Faria, da Pontifícia Universidade Católica (PUC/RJ), especialista em teoria política.

Hashtags

Medições feitas pelo Laboratório de Imagem e Cibercultura (Labic) da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) entre os dias 15 e 22 deste mês encontraram 903 mil posts contrários a Bolsonaro com os termos #EleNão, #EleNunca, #EleJamais, #NotHim, e #NotNever. O movimento de apoio a Bolsonaro, capturado nas hashtags #EleSim e #MulheresComBolsonaro, teve 142,3 mil publicações.

Segundo o professor Fábio Malini, responsável pelo levantamento, o tom observado nestes posts é mais agressivo, e são abundantes os xingamentos. "Já havíamos estudado ameaças contra mulheres na internet e esse é um comportamento padrão", afirmou.

O coordenador do Labic, Fábio Gouveia, também comentou a tendência: "Esse movimento das na rede é muito significativo porque tem um impacto direto nas mulheres, que são (a parcela do eleitorado) que mais rejeita o candidato. Nos últimos dias, com a aproximação do evento (contra o presidenciável marcado para este sábado em várias cidades do País), o movimento passou a ter um impacto concreto na imagem do candidato e nas intenções de voto. As últimas pesquisas mostram uma rejeição crescente." As informações são do jornal O Estado de S.
Paulo.
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